BOP!

Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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Local: Curitiba, Paraná, Brazil

Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

sexta-feira, julho 27, 2007

CASA CHEIA PARA O GRUTUN!




Todos os ingressos para as apresentações de O Santo e a Porca, até as duas sessões de domingo, já se esgotaram. Ontem, na estréia, entre 40 e 60 pessoas ficaram na calçada fria do Mini-Guaíra esperando que sobrasse algum lugar. Não sobrou.


As pessoas riram, aplaudiram muito e o meu pessoal saiu da coxia mais feliz que capivara gorda. Meu doce problema foi controlar o nervosismo daqueles que queriam porque queriam ver o trabalho do Grutun!


Tento, agora, convencer o Alex Wolf a agendar uma sessão extra para abrigar os deserdados da sorte.


Enfim, o sucesso evidente do grupo de teatro da Unibrasil prova que é possível promover um ensino superior que ofereça a seus alunos, professores, funcionários e familiares a oportunidade de ampliar o horizonte para além do canavial.


A mancha colorida aí é a Sheila Irene, que ontem esqueci de mencionar como coreógrafa da peça, nos agradecimentos finais. Na outra foto, os três intérpretes do Pinhão, em nosso O Santo e a Porca: Valzi Pinguim Nunes, Claylton Ribeiro e Solange Souza.


Quem ainda faz questão, vale a pena tentar: vá até a bilheteria, alguns minutos antes das 20 horas, e espere. Sempre falta alguém que tinha o bilhete.

quarta-feira, julho 25, 2007

GRUTUN! NO GUAÍRA E DULCINÉIA NA CAVERNA!


Daqui a pouco, dois dias, os trinta agregados do Grupo de Teatro Unibrasil, o nosso Grutun!, com ponto de exclamação mesmo, colocam os pés pela primeira vez no Guaíra. É muito, vejam bem. A maior parte dessa gente, como a Edna Dutra aí da foto, jamais tinha pisado num palco. A coisa toda começou como uma atividade do curso de Jornalismo, mas se tornou a ação acadêmica mais democrática da Unibrasil: a vovó Edna (ela é avó, mesmo!) é de Serviço Social. A Aiane é de Nutrição. O Michel faz Administração. A Fernanda e o Pinguim, assim como a Jennifer e a Adelaide, são alunos da Publicidade. Juliana, uma das Porcas, cursa Direito. Aline, sorridente, é da turma de Letras. A também coreógrafa Sheila se junta à Pâmela e ao Thiago entre os representantes do Jornalismo... e assim vai.

Deixei o ensaio há pouco mais de duas horas. Fiquei muito feliz com a evolução da troupe. No último sábado, o Grutun! levou "O Santo e a Porca" para Paranaguá. Saíram ovacionados, o que também é esplêndido, já que se tratou do temerário début real, com platéia desconhecida, para a montagem.

Quinta, sexta e sábado, o "Santo e a Porca" será a atração principal do Mini-Guaíra. Grátis, às 20h30. Domingo, a peça do Suassuna sai da coxia às 17 e às 19h30. Quer um convite? A partir das 14 horas de amanhã, no bloco 2 da Unibrasil, comigo ou com os nossos valorosos secretários, meu xará Victor ou a Andréia Okada.

***
Na segunda, as aulas do curso de Jornalismo começam com três professores esplêndidos. O Felipe Harmata, que foi um dos melhores alunos que já tive, o Paulo Camargo, editor do Caderno G, da Gazeta do Povo, e mestre em Comunicação e Cinema pela Universidade de Miami, e a Dulcinéia Novaes, que coloca o rosto todo dia na telinha da Globo há mais de 25 anos e está aí na foto contando ao Robson Custódio, nosso aluno do segundo período, como serão as aulas de Telejornalismo que ela vai ministrar.

segunda-feira, julho 23, 2007

UM NOVO CONCEITO DE CIDADE-DORMITÓRIO!

Então é isso. Você volta a Ponta Grossa e nada, nada é diferente do que era da última vez. É um pouco antipático falar pois, acompanhado da mesma paisagem, mesmas pessoas, mesmos olhares, ainda temos o mesmo diagnóstico. Nada muda em Ponta Grossa.
Eu visitei a Princesa dos Campos no final de semana. Levei a namorada de meu irmão passear pela cidade. Sinto preguiça de descrever agora a Avenida München vazia e a tinta látex descascada de minha última residência no bairro Santa Paula e o gramado que foi inspiração para um quadro pintado pelo meu amigo Ricardo Staut há uns quinze anos, mas na hora pareceu boa idéia.
De qualquer modo, ainda tinha o novo apartamento de minha mãe. Grande, ensolarado, com janelas gigantescas que mostram a desolada e kitsch Praça dos Elementos. E isso foi bom. Vemos a Brasília Amarela que decora o parque inaugurado pelo então prefeito Jocelito Canto. Os brinquedos estão mais brilhantes e a rapaziada maltrata a bola na quadra ao lado. Os guarda-chuvas gigantes, herança do prefeito anterior ao Jocelito, o Paulo Cunha Nascimento, estão apodrecidos, um tanto tortos, e seu balanço parece a antecipação da morte do pipoqueiro.
Domingo à tarde e a larga avenida em frente só sofre movimento com a sombra dos postes. Isso enquanto o céu não se nubla e apaga a animação.

Levei o Cormac McCarthy, esse que foi transformado em filme pelos irmãos Cohen. Também me armei com uns dvds da primeira temporada de A Gata e o Rato. Comprei sem saber que o seriado era prioritariamente dublado. Tudo bem, não sou mais do tipo que leva tão a sério essas coisas. O diabo é que o controle remoto do aparelho de dvd da minha mãe foi tomado por alguma espécie de corrosão. Vazou uma pilha lá dentro ou coisa assim, de modo que eu não conseguia mudar a dublagem em espanhol para a versão brasileira Herbert Richers.
Fui até o camelódromo comprar um fone de ouvido para meu celular, já que o anterior estaria no bolso da minha jaqueta de couro, roubada com o aparelho de som do meu carro no pleno meio-dia do domingo passado, enquanto eu via Harry Potter no Cinemark do Shopping Müller. O fato é que aproveitei a viagem e perguntei para o Cícero, que é presidente da Associação de Micro-Empresários de Produtos Importados Livremente Circulantes na Praça João Pessoa, se havia algum tipo de controle remoto universal. Ao invés disso, ele pegou uma faca de serrinha e raspou a ferrugem, consertando milagrosamente – e de graça! – o aparelhinho.

Fiquei tão agradecido que me senti na obrigação de comprar alguma coisa. Aceitei o fone de qualidade inferior, incapaz de reproduzir plenamente o MP3 do celular (mas eficiente para conversar com alguém enquanto dirige ou digita, por exemplo) ao custo módico de 35 paus. Eu pensei, e com razão, que a bugiganga custaria muito mais numa loja autorizada pela marca do meu aparelho.
Eu me diverti. Dormi bastante, vi o Brasil ganhar da Argentina no handebol e os atletas da natação levarem ouro e prata nos 50 metros livres. Ainda li umas cem páginas do Onde os velhos não têm vez, fiz fotos e comi sushi por um preço realmente camarada.
Então voltei para minha casa, em Curitiba, e descobri que os bandidos não haviam levado o fone de ouvido original. Ele estava em outro casaco.
Ponta Grossa!

quinta-feira, julho 12, 2007

BRANCALEONE DO MAL PODE FUNCIONAR!


Parece haver uma tendência, entre historiadores da mídia e repórteres investigativos, de procurar fatos isolados, momentos particulares, tomadas de decisão que acabam por explicar todo o contexto que viria a seguir.
Pelo menos nos best-sellers.
Um desses livros que se sustentam na relação entre intimidade de personagens e suas conseqüências gigantes é o indispensável O Vulto das Torres, de Lawrence Wright (Companhia das Letras, 2007). É um trabalho de investigação jornalística impressionante sobre as origens do pensamento radical islâmico e as costuras que resultaram nos despojos do 11 de setembro.
Além de tudo isso, é de rara habilidade narrativa. As 500 páginas do texto, redigida após cinco anos de apuração, parecem 50 graças ao estilo limpo e altamente informativo de Wright, repórter da revista New Yorker e co-roteirista do filme Nova York Sitiada (que não assisti). A fluência da reportagem, inclusive, me fez resistir a uma improvável série de conexões de vôo que me tomou um dia inteiro.
O que mais chama a atenção, no entanto, é a acuidade de detalhes nas descrições da intimidade de gente como Ayman al-Zawahiri (o “número 2” da Al-Qaeda e que ontem apareceu no noticiário ameaçando Londres), o agente do FBI John O’Neill e o próprio Osama bin Laden.
E como a patetice pode ter conseqüências monumentais.
Wright defende que as picuinhas entre CIA e FBI, incompetência administrativa e ciúme entre diretores impediram uma ação relativamente simples contra a conspiração do 11 de setembro. As duas agências possuíam informações que, se fossem compartilhadas, poderiam ter bloqueado o ataque ao World Trade Center.
Pior é perceber que a perigosa Al Qaeda e os diversos grupos terroristas também agem, na maior parte das vezes, com puro amadorismo, cometendo erros tolos e jogando dinheiro pela janela. Há muitas passagens que mostram incríveis ações atrapalhadas dos fundamentalistas.
Como essa, sem maiores conseqüências, mas muito representativa: “Num táxi da cidade, o choque abalou Fahd al-Quso, membro da equipe de apoio da Al-Qaeda que estava atrasado. Ele deveria ter filmado o ataque em vídeo, mas adormeceu e não ouviu a campainha do telefone, que o avisaria para que preparasse a câmera” (p. 351). O dorminhoco, que deveria registrar a explosão no USS Cole, ancorado no Iêmen, acaba, centena de páginas mais tarde, como personagem chave das investigações.
Pelo lado do FBI, Wright é convicto de que as pessoas mais talentosas e capacitadas para investigar e deter os ataques terroristas foram paulatinamente minadas pela mediocridade dos colegas, ávidos por assembleismos e cheios de “restrições morais”. O’Neill é o herói incompreendido da trama, uma verdadeira força da natureza que tinha contra si um apetite sexual mais tropical que norte-americano e uma certa rusticidade irlandesa que incomodava os burocratas mais “sensíveis”.
“Mawn se tornara o defensor mais ferrenho de O’Neill. Reconhecia que a excelência era inimiga de qualquer burocracia, e que uma personalidade forte era essencial no combate à rivalidade entre os órgãos e ao ciúme departamental, que solapavam a força de vontade até dos melhores funcionários. Era justamente esse tipo de pessoa que precisava ser protegido e encorajado. Somente assim, com um líder poderoso e visionário, uma burocracia sem entusiasmo como o FBI conseguiria realizar alguma coisa notável. O’Neill era esse tipo de líder. Ele transformara o escritório de Nova York no ramo mais eficaz do FBI, mas aquilo lhe custara caro, como Mawn aos poucos veio a perceber. O s inimigos que O’Neill acumulara em sua luta polarizadora contra a burocracia estavam doidos para destruí-lo, e agora ele fornecera um pretexto “ (p. 348-49).
As células terroristas pareciam longe de conquistar qualquer vitória, mas, mesmo enroladas nas próprias pernas e entregues a um canibalismo ideológico, conseguiram perpetuar o mais sonoro ataque da História. Em grande parte por causa da inevitável porcentagem de gente medíocre que qualquer departamento do mundo – de educação, esporte, saúde, governo ou espionagem – precisa acomodar.
O que nos faz pensar que não devemos, nunca, subestimar os grupos que fazem pressão para atrapalhar os projetos mais inconformistas, mesmo que eles sejam formados por pessoas mesquinhas, incultas e atrapalhadas.
De um jeito ou de outro, vão juntar adeptos desiludidos com o próprio destino, tentar várias vezes e, enfim, conseguir derrubar alguma coisa.
***

Sobre descobrir a origem localizada de certos fenômenos, tenho aqui minha tese a respeito do tipo de cantora que Madeleine Peiroux representa tão bem nos dias que seguem. Ouça o esplêndido Beauty and the Beat!, jóia de 1959 editada pela Capitol, que reúne a cantora Peggy Lee e o excelente pianista George Shearing. Além do melhor trocadilho em capa de disco de todos os tempos, ainda temos uma “Do I love you” que, arrisco dizer, supera a versão da Ella Fitzgerald. O lirismo provocante, farto nos melhores momentos da cantora francesa, está todo aqui, embalado pela voz de Peggy, capaz de passar a louca sensação de juventude e maturidade simultâneas.
E tem Shearing, cada vez mais meu acompanhante predileto. Ouça-o nas gravações com Mel Tormé, por exemplo. Humor e um ataque romântico, pleno, capaz de preencher todos os espaços da sala – como diria alguém muito mais entendido de música do que eu.

domingo, julho 08, 2007

SEM LIMONADA SUÍÇA NO ALTO ARAGUAIA!



No primeiro texto de Ébano, Ryszard Kapuscinski conta seu début em Gana como um choque. Antigamente, ele escreveu, o viajante se acostumava pouco a pouco com a mudança da paisagem até chegar ao destino. Hoje (no final dos anos 50), você está sob o céu plúmbeo de Londres e, poucas horas depois, desfruta do sol inclemente da África.
O avião ajudou a abreviar a lenta adaptação aos costumes, paisagens, gastronomias e climas com as quais o desbravador sempre lidou em sua jornada.
Mas será que o choque, na metade final dessa primeira década do século 21, ainda existe?
Passei os últimos dias em Alto Araguaia, cidade matogrossense com pouco mais de 12 mil habitantes, logo na divisa com Goiás. É um lugar que abandonou o fuso horário oficial do Mato Grosso e assumiu o de Brasília, uma hora mais tarde, tão gêmea que é da goiana Santa Rita do Araguaia.
É uma cidade que tem a guariroba, espécie de palmito amargo, como especiaria. Aqui podemos beber o afrodisíaco canjinjin, pinga de mel, gengibre, canela e outros mistérios, que é importada de Vila Bela da Santíssima Trindade, último quilombo urbano do centro-oeste.
A plantação que mais chamou a atenção no meu caminho do aeroporto de Rondonópolis até Alto Araguaia é a de algodão, tapete branco dominante no suave barranco sob o horizonte.
E não há limonada suíça naquela parte do Mato Grosso.
Fora isso, esqueça os jacarés atravessando a sala de aula ou cantores pantaneiros interrompendo uma palestra para “dar um recado a essa gente boa”, levando a onça pela coleira.
A mídia nos aproxima e talvez nos banalize, poderíamos concluir.
Mas talvez haja algo de valioso nessa homogenização cultural – nos pede atenção àquilo que realmente caracteriza as representações de mundo em cada comunidade.
O campus da Universidade do Estado do Mato Grosso em Alto Araguaia é uma terra de gente diversa, pisante no chão colorido e irregular do antigo seminário. Tem migrante de toda a parte da Região Centro Oeste e professores que vieram de São Paulo, Paraná, Minas Gerais e até Cuba! Fábio Bidu, jovem professor de Antropologia e meu anfitrião, passou do riso fácil ao ar melancólico nos últimos minutos de nossa estadia. Lembrou-se que, nessas férias, não vai a Cascavel visitar a família.

Ele, a chefe do departamento de Comunicação Maristela, Leandro, Aline e outros educadores lutam há um ano e meio para dar fôlego ao curso de Jornalismo, às vezes longe da balaustrada verde que leva brisa para o coordenador do campus e dá vista para a cidade.
A seriedade com que receberam a mim e ao professor Gerson Martins, presidente do Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo (http://www.gersonmartins.jor.br/), mostrou como estão empenhados na velha e boa máxima humanista dos cursos de Comunicação: querem formar indivíduos com forte compromisso social.
Gerson veio do Rio Grande do Norte naturalmente desconfiado. Como é avaliador do MEC, não consegue se sentir tranqüilo com mais uma escola de Jornalismo entre as centenas do país, ainda mais em uma região cuja fonte de emprego é tão mingüada quanto limonada suíça. Mas saiu seduzido pela generosidade e dedicação dos alunos e professores.
Depois das palestras do Colóquio, fomos passear e comer na cidade. Em alguns minutos e com um pouco de atenção, você percebe o quanto cada lugar do Brasil é distinto do outro. Dois mendigos nos abordaram, na calçada, e pediram “um trocado para tomar pinga”. Foram contemplados com um, dois reais, alegremente oferecidos pelos jovens que se embriagavam de Guaraná Mineirinho.
A conversa sobre sexo é deslavada, sem meandros metafóricos, e o espaço em que cada um vive parece eternamente aberto para o visitante. Também não há distância entre professores e alunos, de modo que o evangélico cantador Isaac nos acompanhou o tempo todo com seu violão, enquanto Erotides, dona de garganta privilegiada e programa diário na emissora de rádio local, dava a segunda voz num desfiar infinito das canções oitentistas do Roupa Nova. “Dona, só você me fascina...

Aliás, mesmo com seus 12 mil habitantes, acesso precário a internet e, segundo pesquisa de 2005, o pior ensino público de todo o Estado, Alto Araguaia tem uma vontade louca de produzir comunicação.
Há uma reprodutora local da Record que leva uma hora e meia de programação própria. No noticiário de quinta, os assuntos principais eram a adaptação das calçadas para os cadeirantes e uma longa fala do delegado explicando que nada aconteceu na esfera policial durante os últimos dias. “Pato atravessando a rua é destaque”, diz o Fábio. “Aqui a gente tem que fabricar notícia”, explica a Tina, que é dona da TV e aluna de Jornalismo na Unemat.
Um dos alunos, Alphe, me mostrou uma resma de poemas bucólicos que ele deve publicar ainda esse ano, com ajuda da prefeitura (O irreal não havia/ A tecnologia não brincava ali com as pessoas...). Outro, o Ivon Ribeiro, tem um esforçado site de notícias (http://jornalnoticiaagora.com.br/principal/).
A Lucimara Pereira se empenha em criar grupos de estudos raciais. A professora Aline, que marejou os olhos ao ver a foto do Ariano Suassuna declamando com o Grutun!, produz um grupo de teatro. O professor Leandro Wick, no corredor do campus aí na foto, sua a camisa e divide o tempo da noiva Andréia para articular um evento atrás do outro. Ele quer que a gente volte em novembro.

Eu mal posso esperar.

terça-feira, julho 03, 2007

SONNY ROLLINS AOS 77!







No dia 18 de setembro, Sonny Rollins gravará um disco ao vivo no Carnegie Hall. Será o aniversário de 50 anos de sua primeira aparição no famoso palco novaiorquino. Rollins, apelidado de Saxophone Colossus por causa dos 2 metros de altura e, por conseqüência, do esplêndido LP “homônimo” de 1956, terá, então, 77 anos.
77 anos!
Pianistas velhinhos na ativa são até freqüentes, mas saxofonistas! E não qualquer tipo de soprador. O som de Rollins é associado com robustez, agressividade, cascata de notas graves hipnotizando platéia e demais músicos que tiveram e têm o privilégio (e a pressão!) de tocar com ele.
Aos 70, 71, 76 anos, Rollins não é mais, naturalmente, o mesmo monstro impressionante dos anos 50, 60 e 70. É apenas o monstro impressionante.
Há tempo que venho ensaiando falar desses últimos discos maravilhosos de Rollins. Esperava um gancho, como esse concerto aí, em setembro, quando normalmente coisas esplêndidas acontecem.
Volte a essa palavra, “hipnotizante”. Não sei se tem a ver com você, mas é certo que vibra em mim. Nós desligamos, concentrados nas tarefas mundanas, enquanto o calipso Salvador preenche a sala, o carro, o escritório. Você precisa trabalhar e até se concentra, mas aquele ronco contínuo entra por suas orelhas – não é pelos ouvidos, não mesmo, é através da pele e a orelha vira uma antena que tem a propriedade de despertar seu cérebro – chamando sua atenção até que nada mais reste além do fôlego de Sonny Rollins.
Salvador é a primeira música de This is What I Do, de 2000, quando ainda quase podíamos chamar o Colosso de “sexagenário” como um adjetivo de espanto. O disco todo é uma delícia e essa qualidade me faz indicar o álbum como um dos melhores de toda a longa e festejada carreira de Rollins. Não é pouco, pois o melhor de Rollins frequentemente faz parte do melhor do jazz.
Veja que um adjetivo como “delícia” expõe uma poética. Não sou nem um pouco amigo da afetação – tanto que é difícil aceitar Toots Thieleman ou Bob McFerrin com seus tremeliques de “beleza” – mas entre a inclinação intelectual e a emocional, ainda fico com a segunda. Muita gente torceria o nariz para um lugar tão alto no pódio para This Is What I Do, pois não se enxerga nele um claro manifesto “conceitual”, como vimos no Saxophone Colossus ou em Freedom Suíte. Mas convenhamos que, aos 70, Sonny tornou-se resultado da própria música, produzindo uma espécie de meta-discurso preciso e audacioso. Se Colossus impõe uma nova forma de mudança nos acordes com Moritat e Blue Seven, por exemplo, This Is What I Do é o ápice da maturidade, da mistura do som e da vida extraodinária de seu compositor.
Nos anos 60, depois de ter abandonado os shows e as gravações por dois anos para tocar durante as madrugadas em uma ponte em Manhattan, Sonny voltou a aceitar o estúdio porque precisava de dinheiro para arrumar os dentes (e gravou o excelente The Bridge, com Jim Hall, que inclui a God Bless the Child definitiva).
Nos 70, consolidou sua independência da mídia (e do mundo, para dizer a verdade). Max Gordon, fundador do clube Village Vanguard, diz que viu Sonny abandonar um solo no meio da apresentação e ir embora, pela porta da frente, porque se arrependera de contratar determinado trompetista. De receber para tocar e não aparecer e, para compensar, tocar por cinco horas seguidas e nunca voltar para pegar o cachê.
Daí o lastro histórico o acompanha: em setembro de 2001, quatro dias depois do aniversário de 71 anos, ouviu um estrondo e assistiu da janela de seu apartamento o colapso do World Trade Center e, ainda assim, viajou para o show que se tornou um disco esplêndido (Without a Song: the 09/11 Concert).
No ano passado, um novo disco com a base dos últimos dois: o sobrinho Clifford Anderson continua com solos irrepreensíveis no trombone, o pianista Stephen Scott foi substituído pelo guitarrista Bobby Brom, Bob Cranshaw mantém-se como fiel escudeiro no baixo elétrico e Joe Corselo faz o papel que cabia ao baterista Perry Wilson ou a Jack DeJohnette.
A música de Sonny, Please é sublime, também representada num calipso, desta vez mais soflty, que é Park Palace Parade. Uma obra que estréia a própria gravadora do plenamente septuagenário, quase octagenário Sonny Rollins.
Meu sortudo amigo Maycon Henneberg estará em férias, na Maçã, justamente durante a semana do Carnegie Hall. Se conseguir entrar no concerto, viverá um setembro intenso como aquele de 2001, que Rollins viu assustado pela janela. Mas o som colossal será, dessa vez, de beleza indiscutível.

Meus favoritos do Sonny:
Saxofone Colossus (Original Jazz Classics, 1956)
Tour de Force (Prestige, 1956)
A Night at the Village Vanguard (Blue Note, 1957)
Newk’s Time (Blue Note, 1957)
The Bridge (RCA, 1962)
Alfie (1966)
East Broadway Rundown (Impulse, 1966)
Global Warming (Milestone, 1998)
This is What I Do (Milestone, 2000)
Without a Song (Milestone, 2001 – mas lançado só em 2005)
Sonny, Please (Doxy, 2006).
E, claro, as gravações com o quinteto de Clifford Brown-Max Roach, para muitos o melhor grupo de jazz de todos os tempos.

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