BOP!

Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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Local: Curitiba, Paraná, Brazil

Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

quinta-feira, abril 24, 2008

CHECK LIST DE ATUALIDADES!







Caso Isabela: Chato.

Os pais dela no Fantástico (e em toda a parte): Muito chato.

Finais dos campeonatos estaduais: Chato.
Terremoto: Chaaaaato.
Prazo final do Imposto de Renda: Chato. E horrível.

Padre que sonhava ser Mary Poppins: Tragicamente engraçado... mas chato. A emoção toda ocorreu há instantes. Ouvi no Jornal Estadual que a Marinha está procurando o noviço voador na Penha por causa do "pressentimento" de um fiel. Eu pensei que não viveria para testemunhar um negócio desses.

Alunos reclamando de notas e faltas: Nem precisa falar.

Professores de Jornalismo que ainda acham “uma grande questão” a divisão entre “teoria e prática”: Chato.

Barcelona X Manchester: Decepcionante. E chato.

Redescobri John Coltrane: Excitante. Coltrane é aquele trecho obrigatório da vida que te toma durante tanto tempo que parece ter se esgotado na sua lista cotidiana. Mas revi Sound of Music e voltei a me derreter pela versão Trane de My Favourite Things, um dos melhores eventos da história da humanidade. Meu amigo Osny Tavares tinha essa gravação como a ponte sonora de sua vida – talvez do lado de Eye of the Tiger.

A visão original da Priscilla sobre cinema: Viciante! Ela mergulhou na teoria cognitivista e me levou junto. Pobre Christian Metz, parece tão tolo agora.

Canções com letras tolas em português: Sensacional! Eu tenho um amor por letras bobas, despretensiosas, executadas com a mais despudorada e profissional vulgaridade. Como alguns clássicos de Bob Durough, versões de Richard Cheese e pérolas apresentadas por Caco, o Sapo, nos Muppets. Mas minha viagem para São Paulo permitiu que redescobríssemos, no carro, a beleza das letras tolas em português. E hoje ninguém ganha da obra-prima Pelo Interfone, com o Ritchie. “Chamo por você, ninguém atende/ De repente uma luz acende/ Ela não está (com som metálico)/ me diz a voz que vem do intefone/ Não sei se vai chegar, volte amanhã mas antes telefone”. Agora há pouco ouvi Quando, do Roberto Carlos. “Quanto você se separou de mim/ Quase a minha vida teve fim”.

The Browning Version (Nunca te Amei): Indispensável! Assisti à versão original, de Anthony Asquit, com Richard Redgrave (pai de Vanessa) no papel do professor que está se despedindo da escola, tem uma mulher adúltera e o ódio dos colegas invejosos para lidar. A interpretação de Redgrave é de pasmar, dessas que faz você pensar duas vezes antes de dizer que é “ator” ou que “estuda teatro”. Paulo Camargo me disse que a versão dos anos 80, com Albert Finney, também é ótima.

Operário 5 X Maringá 1: O Fantasma ataca novamente! E com o gol mais bonito da rodada, incluindo o futebol internacional e a belíssima cobrança de falta de Diego, do Mengão.
Viva Las Vegas: Grande disco, do Rei. É sempre emocionante conferir o quanto certas personalidades da história mudaram quase tudo o que veio depois. Elvis faz aqui muito do que veríamos em dezenas de "tendências" do rock nos anos seguintes. A introdução de Polk Salad Annie, por exemplo, é tudo o que Jim Morrison gostaria de ter feito.

Projetos da Rádio e TV Campus: Tão legais que merecem um post especial. Em breve!

JOSÉ CARLOS FERNANDES!

Gentil como sempre, José Carlos Fernandes - um dos quatro ou cinco melhores jornalistas do Paraná - teve a generosidade de me citar em sua crônica de sexta-feira, na Gazeta do Povo.

http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/colunistas/conteudo.phtml?tl=1&id=757982&tit=Doce-misterio

Não dá para ser demagogo: quando não se trata de obituário, página policial, escândalos em geral ou viagens idiotas com balões de borracha, é sempre bom ser lembrado num jornal.

terça-feira, abril 22, 2008

JORNALISTAS EM BUSCA DE CONSOLAÇÃO? Um texto de Rafael Schoenherr


O que está escrito a seguir é correspondência do professor-jornalista Rafael Schoenherr para seus colegas de viagem ao Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo. Foi produzida no calor da viagem, o que dá aquele sabor de imediatismo. Reproduzo aqui, embora tenha sido escrita para três leitores. Na foto, a troupe da Unibrasil no terceiro andar do prédio Piauí da Mackenzie.

O GPS é um aparelho generoso com os viajantes que precisam chegar com exatidão a um destino. Mesmo que a cidade seja São Paulo e que metade da tripulação seja ponta-grossense. Muito do charme do 'brinquedo' está na voz eletrônica que orienta: “vire à esquerda, 200 metros”. Em outros momentos, menos elegantes, talvez, o conselho é “mantenha-se à direita”. Independente do sentido, a recomendação só é feita após o preciso mapeamento do destino no visor - um mapa detalhado da região identifica onde estamos, velocidade de navegação, ruas próximas e o trajeto (manobra a manobra) até o ponto de chegada.

Por mais que alguns amigos professores não gostem do termo 'mapeamento', ao voltar de encontros de pesquisa, fico com a sensação de que falta em boa medida um aparelho de orientação (um mapa!) que facilite o trajeto discursivo. Tenho a impressão de que um levantamento prévio da situação (onde estamos, velocidade e condições de navegação, por onde podemos ir e onde queremos chegar – alguns chamariam esse cálculo de 'estratégia'...) melhor conduziria (e, em alguns casos, até mesmo evitaria) certas discussões.

Na verdade, tiro essa idéia de duas oportunas intervenções do professor Elias Machado no último Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, em São Paulo. Como definir qual deve ser o perfil do docente em Jornalismo se não temos dados precisos e atualizados (pesquisa, enfim) sobre sua real situação em diversas escolas? No GT Pesquisa na Graduação, por sua vez, Elias debateu qual a contribuição dos pesquisadores CNPq na formação de novos pesquisadores na graduação. Isso com base em levantamento do número de pesquisadores CNPq com orientandos de iniciação científica em cursos de jornalismo. Rastreamento indispensável, segundo Machado, para a formulação de políticas de pesquisa no país – ao passo que identifica uma demanda muito maior do que a contemplada pela atual distribuição de bolsas. São apenas 12 pesquisadores doutores CNPq no país com projetos registrados na área de jornalismo. Só para se ter uma idéia, existem mais de 150 doutores associados na Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), como bem lembrou o professor da UFSC.

Os dados autorizam pensar que, em muito, pesquisa em jornalismo é uma coisa de herói no país. Isto é, ainda não funciona regularmente como prática institucionalizada. O mesmo vale para diversas ótimas iniciativas (de extensão, de pesquisa, pedagógicas) que conhecemos no Encontro, onde o desempenho do professor nem sempre vem acompanhado de estímulo e sustentação institucionais.

Porém, somente um mapa da situação pode pautar precisamente novas formas de ação e organizar o trajeto – o que está em muito por se fazer, ainda, na área de docência em Jornalismo. Caso contrário, vira reclame nostálgico (saudades disfarçadas mais de um tempo em que conseguíamos nos localizar do que da realidade pretérita em si)... Isso evitaria eventuais devaneios que desconsideram transformações recentes no mercado profissional, por exemplo, quando pensamos em requisitos do professor de jornalismo – cobrar 60 anos de trabalho em redação em jornal impresso seria injusto com as futuras gerações de docentes, para radicalizar na ilustração... Mas poderíamos tranqüilamente relacionar dados sobre os anos de redação e o resultado no ensino a partir de casos específicos.

Sem o necessário detalhamento da situação (que projete novas 'formas de agir'), o consolo é se agarrar a generalidades (que valeriam para qualquer pretensão educativa), dispersão temática, falta de objetividade, frases de efeito e apoio emotivo (com filme piegas ao final), suposto encastelamento vanguardista na universidade pública, horismo assumido nas privadas e transferência dos problemas coletivos para a escala individual de ação.

Isso não tira o brilho do evento nacional, pois desligar o GPS e se perder pela cidade permite encontrar pessoas interessantes com suas realidades singulares de docência e histórias divertidas de jornalismo. O mapa está longe de ser autoritário, portanto. Mas diante de uma realidade dinâmica da área, o que está em jogo é a legitimidade dos cursos de jornalismo, como recordou o professor Victor Folquening - e estar informado parece ser um modo interessante de olhar as coisas do outro lado da consolação.
Rafael Schoenherr

segunda-feira, abril 21, 2008

EMPREGO É PREOCUPAÇÃO DE FILISTEU!


Preciso dizer que me orgulho da participação de nossos representantes, da Unibrasil, no XI Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, encontro que levantou o barracão na bela Universidade Mackenzie de sexta até hoje, em São Paulo.
Todo o nosso quarteto apresentou trabalhos: professores-jornalistas Maura Martins, Rafael Schoenherr, Thays Poletto e eu. Para minha alegria, o mérito nem estava na simples aceitação dos artigos, mas na legitimidade deles. Nesse tipo de evento, alguns professores gastam o tempo dos colegas com certos "relatos de experiências" que não contribuem para absolutamente nada. E isso acontece porque os instrumentos regulatórios da qualidade das instituições de ensino pedem curriculos empapados de "participações em eventos".
Por paradoxal que pareça, não é todo militante da academia que tem talento para a discussão intelectual. Mas precisa mostrar serviço para o coordenador, que precisa mostrar serviço para a instituição, que tem que prestar contas para o MEC. No final, o que a universidade X vai usar, nos seus discursos de formatura, é que "nossos professores participaram de 160 eventos durante o ano". Mas vá saber se algum deles contribuiu com alguma coisa melhor do que uma conversa fiada na lanchonete do fórum.
Como sou coruja, não resisti a ficar apenas no meu grupo de trabalho - Ética e Teoria da Comunicação - e tentei assistir a participação de Rafael, Thays e Maura nas outras salas. Dessa circulação, dá para tirar algumas conclusões:
* Muito do que se diz e se apresenta como proposta séria de pesquisa é coisa de piá de prédio: leituras coloridas dos teóricos mais pop da Comunicação com a nítida intenção de misturar a diversão do final de semana com a proposta pedagógica.
* Por incrível que pareça, ainda há uma distância abissal entre o mercado real de trabalho e a perspectiva acadêmica geral. Boa parte dos professores - principalmente da escola pública - olha com desdém a prática mundana do jornalismo. Alguns defendem, inclusive, que o ensino da profissão se resuma a debates teóricos. Isso seria anacrônico mesmo que garantíssimos professores com leitura profunda e atualizada das teorias. Mas é muita hipocrisia defender que temos um quadro docente geral, nas instituições públicas, privadas, confessionais e comunitárias do país, que dê conta do recado. Nas duas intituições privadas em que trabalhei com Jornalismo, em Curitiba, vi bibliografias, armadas por colegas, que se baseavam em livros de auto-ajuda e títulos como "O Que é Comunicação", do Juan Diaz Bordenave, cuja última edição ainda contém um trecho clamando o videocassete como "uma realidade no Brasil".
Mas há algo mais danoso nessa postura: encarcerar o ensino superior nos seus próprios limites, como se não houvesse obrigação de diálogo com a sociedade. Ora, já que tratamos de Jornalismo, é preciso encarar os fatos com toda a fuligem que por ventura tenham: hoje formamos 8 vezes mais jornalistas do que o número de jornalistas com carteira assinada no Brasil. Não é obrigação da escola desenvolver novas formas de atuação? E entender o mercado não é um passo para isso?
Tem outro problema. A distância entre academia e mundo do trabalho libera os profissionais a praticarem iniquidades ou abandonarem a busca por qualidade. Recentemente ouvi de um (eficiente) editor que certa reportagem deveria usar mais "fontes qualificadas, ligadas a insituições" e "gastar menos espaço" com o depoimento das vítimas de determinada desgraça, pois "essas pessoas não têm preparo para discutir o assunto". Não parece que esse é um assunto superado? Pois é, não. Talvez já se configure carne de vaca na sala dos professores de Jornalismo das faculdades, mas na maior parte das redações o senso comum ainda ajuda a afundar o negócio do jornalismo. Veja, nem é uma questão moral. Trata-se, antes do exame da caixa de Pandora, de uma missão bem simples: garantir que o jornalismo seja consumido pelas pessoas. E daí pratique seu papel de "nó da tessitura da existência".
* Isso provoca outra distorção. Um certo complexo de inferioridade em relação à Sociologia e a Filosofia acaba levando vários professores a transformar assuntos simples e objetivos em caleidoscópios pseudo-intelectuais, cheios de rococós e referências desconexas. Por exemplo: o assunto é ensinar a escrever. O caminho: uma discussão sobre a materialidade do eu em face das possibilidades dialógicas da imprensa como co-retorno da esfera pública.
* O que deve acontecer, imagino, por falta de dados objetivos que apontem os caminhos da pesquisa. E aí vem a parte boa.
* No grupo de trabalho do Rafael, o professor Elias Machado, da UFSC, parecia bem empenhado em dar um caráter objetivo para as pesquisas. Começou um mapeamento dos bolsistas do CNPQ no Brasil. A idéia é descobrir a produtividade e relevância do trabalho desenvolvido pelos doutores que são beneficiados pelos recursos públicos.
* Percebemos também que o o novo presidente do FNPJ, Edson Spenthof (da Federal de Goiás), tem a enxada e o quintal para carpir. Na sua fala (ele era o mediador do meu grupo) deixou claro que se sentia "longe da hegemonia". Ah, doces palavras. Não que sempre a maioria esteja enganada. Mas, em geral, o bandwagon aponta para o banal, como bem sabemos. Ele não trata com soberba nem o colega que apresentou uma curiosa fala sobre espionagem empresarial e até citou o site da CIA como referência...
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Na longa, mas divertida viagem de volta, dirigi por horas, na boca da madrugada, com o canto perpétuo dos meus colegas. Jogamos um qual é a música que resultou na constatação de que a professora Maura Martins tem o maior repertório de canções da história. Alguém que transita tranquilamente entre Maria Bethânea, marchas de Carnaval de Porto Alegre (!), Madonna, David Bowie e pérolas musicais que incluem versos como aquele que descreve o He-Man como um "gato alto astral".
Na foto, professor Rafael relembra versos tocantes de Paulo Ricardo e Sérgio Malandro em uma pizzaria da Consolação.

domingo, abril 06, 2008

A FREIRA SEM CABEÇA REBELDE!


O terceiro dos sete filhos do Capitão Roberto Esperto virava lobisomem. Em toda noite de lua cheia, a testa e os ombros de Juvenaldo eram tomados por pelos, cresciam-lhe os dentes, esticavam as unhas e ele se punha a uivar, sem ao menos se importar com as eventuais visitas para o jantar – cada vez mais raras, diga-se de passagem.

Para conter a desgraça de ser conhecido como “O Pai do Lobisomem” (o que de fato já começara a acontecer) e evitar maior constrangimento social para si e para a família, o Capitão Esperto resolveu enviar o filho para um Monstreiro Beneditino.

Ao contrário das expectativas, a adaptação de Juvenaldo não foi das mais dolorosas. Mesmo de forma traiçoeira, ele parecia ter ouvido a voz de Deus. Talvez por causa da postura liberal dos Beneditinos de lá, tão receptivos que viviam de braços dados com o Rabino Golem.

A paz de espírito não durou muito, no entanto. No dia da Benção de Prevenção à Polidactilia, Juvenaldo saiu do claustro para tocar as mãos dos fiéis. Entre eles estava uma noviça, Maria, a Freira Sem Cabeça. O pescoço serelepe daquela noivinha de Cristo fez com que Juvenaldo prendesse a respiração. Naquela noite, já uivava para a lua, sôfrego de amor.

Não escapou a Monsenhor Boitatá o clima romântico que se estabeleceu entre os dois. Também não era a primeira vez que Maria se metia em encrencas. No Convento Sibilante, as colegas descreviam a freira como “desmiolada”. Elas cantavam:

- Como resolver um problema como Maria?/
Já que seu caso é mais que cabeça vazia?


Sem demora, Juvenaldo e Maria promoviam encontros secretos no cemitério que separava suas sagradas residências. A discrição não durou, já que o menino passou a deixar rastros de pelos por entre as covas.

Monsenhor Boitatá tomou uma decisão dura, mas coerente com suas obrigações religiosas. Transferiu Juvenaldo para o Monstreiro da Ressurreição Padre Romero, onde receberia cuidados do temido abade Zumbi. Entre dentes, os noviços Beneditinos compartilhavam a dolorosa expectativa: “O abade vai comer a cabeça dele!”

Mas, no caminho, Juvenaldo viu um coelho e fugiu para o mato.

Fim.