BOP!

Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

quarta-feira, julho 30, 2008

NOVA POSTAGEM NA 91 ROCK! E fotos de antigamente!

Descobri umas fotos de trabalho, antigonas, e vou me expor ao ridículo publicando.
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Essa imagem aí deve ser do Rodolfo Bührer. Registra a noite em que Ciriaco e Baiano, os dois "seguranças" do então prefeito Jocelito Canto, resolveram atirar nos jornalistas. Jocelito havia discutido com o então repórter do Estado do Paraná Osny Gomes (agora no Sindicato dos Jornalistas) durante uma festa que estreiava a Münchenfest. O quiprocó levou todo mundo a passar a noite apertado nos corredores da 13a, famosa delegacia da cidade. Em primeiro plano, meio dormindo, a Denise Angelo (hoje assessora do Pequeno Príncipe) entrevista Pedro Sebastião, que era chefe de gabinete do prefeito. Eu pareço o Caio Jr ali atrás. Depois de mim, Giovani Ferreira, escorpiano que agora milita na Gazeta do Povo. O drama da confusão ainda ressoava, mas, como não poderia deixar de ser, a repórter de TV precisa sempre mostrar simpatia. Acho que a irreverente Chris Chernobay é repórter no Oeste do estado, agora.

terça-feira, julho 15, 2008

ANÚNCIO!



Everaldo preencheu o anúncio com pressa. Não tinha o que fazer no resto do dia, mas sempre foi terrivelmente ansioso. Quer se livrar das coisas, até daquelas que deseja muito. Vai ao cinema ver um filme, aquele filme!, e fica torcendo para que seja bem curto. Mesmo que espere um século pela estréia, leia todas as críticas e até monitore as fofocas de produção, quando enfim entra no cinema... a coisa toda já deveria ter acabado!
Então, já que resolveu colocar o anúncio, passar por isso, deveria ser breve. Também acha que pensar muito no assunto lhe torna caprichoso demais. E, portanto, improdutivo. É quase um lance de sorte: pode ficar ridículo e pode ser o bilhete premiado.
Mas a pressa não ajudou, nem mesmo naquilo que considera seu forte: escrever bem e corretamente. Um pequeno erro, menor até do que o estilo “jovial” e “divertido” que adotou para disfarçar o desespero, tornou a história muito estranha.
O anúncio deveria ser:

Homem quase na meia idade, que com bondade pode ser
considerado charmoso, procura mulher inteligente e com tudo em cima.

Assinou com um pseudônimo – na verdade, o único elemento do texto que demorou para sair de sua cachola. Ele pensou em Adam, para homenagear o protagonista de Sete Noivas para Sete Irmãos, mas compreendeu o quão nerd esse tipo de batismo pode soar. Cogitou também Aladim e Simbad, que não pareciam tão ridículos nos primeiros segundos. O nome precisava soar másculo, mas sensível. Alguma coisa forte, sólida, e ao mesmo tempo sugestiva de um certo ar de abandono. Bom, isso eliminava os candidatos Pescoço, Satã e Navalha, que preenchiam apenas a primeira parte. E riscava em absoluto Pedrinho e Rex, mais convenientes para a outra qualidade. Chegou a uma conclusão simples. Deveria ser um nome diferente do seu, mas que não mentisse. Não poderia ser um nome-qualidade, tipo Batatinha ou Dengoso, pois se sentiria uma coisa.
Então assinou Heveraldo.
Ah, tem o erro. Um erro de digitação, por assim dizer, embora o formulário do jornal tenha sido preenchido com uma caneta Bic preta, mascada na ponta e amarrada por um barbante grudento.
Ficou assim:

Homem quase na meia idade, que com bondade pode ser
considerado charmoso, procura mulher inteligente e com tufo em cima.

Tufo?
O fato é que esses malditos classificados funcionam. No domingo, o telefone tocou. A mulher se apresentava como “Talita”, tinha uma voz bonita e convenientemente hesitante (não parecia uma respondedora calejada). Marcaram para se encontrar no café. Antes de desligar, a garota fez uma confissão.
“Então... preciso contar uma coisa, para que nosso relacionamento não comece com mentiras... meu nome é Thalita”.
Everaldo pensou em lembrá-la de que já haviam se apresentado e até temeu que ela sofresse de, sei lá, Alzheimer. Debitou na conta do nervosismo e até sentiu prazer com a confusão. Adora pessoas um pouco atrapalhadas. Thalita esperou um pouco e
“E você? Sei que quer me dizer seu nome”.
Ah, ela sacou que Everaldo usava pseudônimo. É inteligente a mardiçoadinha!
“Tá, vou confessar... meu nome é... Everaldo”
“Ah, ah! Você é tão engraçado!”
Qual é o problema com meu nome?, ele pensou.
Quarenta minutos depois, Everaldo estava lá, sentado de costas para a porta, esperando. Uns dois anos sem namorada era demais, até mesmo para alguém econômico como ele.

(continua).

* Ah, essas fotos são de S. Francisco do Sul e arredores, no final de semana. Foram feitas com meu celular.

sexta-feira, julho 11, 2008

BUDD BOETTICHER! ASSISTA!

Finalmente vi um filme de Budd Boetticher.

Dou um tempo aqui na série sobre musicais porque é como se um desejo antigo tivesse se realizado.

A Paramount lançou no Brasil uma caixa com filmes produzidos pela Batjac, a lendária companhia de John Wayne. No meio, Sete Homens Sem Destino (Seven Men From Now, 1956), dirigido pelo ex-toureiro Boetticher.

Você pode comprar cada uma das obras separadamente, ao custo médio de R$ 32,00.
Vale cada centavo. Ou o triplo.

A fama do filme não é imerecida. É o tipo de coisa que procuro no cinema e está cada vez mais difícil de achar.

78 minutos de um roteiro esplêndido, simples, despretensioso e, assim mesmo, cheio de camadas de interpretação. O homem do texto é Burt Kennedy, um camarada que foi herói de guerra, caladão e, ao que parece, o complemento do egocêntrico e amalucado Boetticher.

Os atores são perfeitos. Não é preciso falar muito de Randolph Scott, que faz o vingador silencioso em busca dos sete bandidos que mataram sua mulher. É o típico papel de Scott: honesto até a medula, sem nenhuma afetação. Um macho, sensível e distante, mas um macho do Oeste.

A mocinha é Gail Russell, que fez fama com No Rastro da Bruxa Vermelha e outro filme mais antigo, O Fora-da-Lei, ambos com John Wayne - um amigo de toda a vida. Uma vida bem curta, diga-se de passagem. Como Judy Garland, Russell se tornou alcoólatra por não suportar a pressão do trabalho em estúdio. Foi descoberta antes dos 18 e levada para Hollywood sem nunca ter cogitado ser atriz. A bebedeira fechou as portas para a garota, que chegou a ser considerada a mulher mais bonita do cinema. Aos 36 anos, amigos a encontraram morta, cercada de garrafas de vodca, num apartamento minúsculo e miserável em Los Angeles.

Mas o "cara" de Seven Men From Now é Lee Marvin, personificando um dos melhores vilões da história. É tão estranho que chegamos a gostar dele. Tem alguma coisa afeminada nos seus gestos, acentuada por uma echarpe verde escolhida pelo próprio Marvin. Por outro lado, não há dúvidas da sua masculinidade. O melhor de tudo é que aceitamos um sutil código de ética entre Marvin e Scott. Eles são inimigos, mas parece que Masters, o bandido, admira seu oponente a ponto de parar um instante antes da ação e assistir os pequenos gestos do cowboy.

Duas cenas estão entre as melhores coisas que já vi no cinema. A abertura: uma caverna em que dois bandoleiros se protegem da chuva. Scott chega e explica que está a pé (os índios roubaram seu cavalo para comer) e começa a falar do massacre de Palm Springs. Ouvimos tiros, mas a imagem já é dos dois cavalos, amarrados lá fora. Em seguida, vemos o mocinho montado em um deles e carregando o outro. Mais tarde, o equino sobressalente servirá para um acordo com os indígenas.

(Lembra um de meus diálogos favoritos, este de Era uma Vez no Oeste: três bandidos, montados, vão receber Charles Bronson na estação de trem. Dizem que vieram pegá-lo, mas a intenção, é óbvio, é matar o gaiteiro-atirador. "Parece que está faltando um cavalo para você", diz um deles. Bronson retribui: "Na verdade, estão sobrando dois").

A outra cena é a do diálogo na carroça. Mais tarde descobri que é a cena favorita tanto do roteirista Kennedy quanto do próprio Budd. Marvin se encanta por Russell. Ele percebe que o viúvo Scott também arrasta a asa para a mulher, casada com o (aparentemente) molengão que conduz a parelha para Los Angeles. Lee Marvin começa a contar uma história fictícia que é, ao mesmo tempo, uma "dica" que ele está percebendo o clima entre a mulher e Scott, uma forma de humilhar o cocheiro e uma belíssima cantada na dona. A tensão é tão grande que ficamos ansiosos para que acabe logo. Grande cinema!

Os críticos levantam, assobiam e batem palmas para o duelo final. Um triunfo da economia e, como disse um comentarista nos Extras do DVD, uma morte que mais parece um balé. "Ele realmente sabe como morrer", disse a respeito do camarada que perde o duelo.

Sete Homens Sem Destino (cujo título em português o confunde com o clássico Sete Homens e Um Destino, refilmagem de Os Sete Samurais - mas não tem nada a ver) é um filme honesto, inteligente, grande diversão, maravilhosamente escrito, dirigido e interpretado. Não tem frescura - sem câmeras lentas, zooms, p&b misturado com cores, travellings de um quilômetro ou qualquer recurso fácil de "estilo".

É um dos maiores filmes da história do cinema.

***

Não posso deixar de comentar as entrevistas com Clint Eastwood e Quentin Tarantino nos Extras. Eu acho Tarantino um mala e não tenho medo de dizer que ele não acerta faz tempo. Digamos, desde Pulp Fiction. O resto de sua filmografia é uma curiosa paródia de si mesmo, com grande momentos mas evidentes problemas de ritmo e narrativa. Uma espécie de M. Night Shyamalan, que, aos pedaços, sugere um cineasta genial. Mas quando vemos o todo, não deixa de parecer amador. Ambos são cineastas de dois filmes. Tarantino com Pulp Fiction e Jackie Brown. Shyamalan com Sexto Sentido e Corpo Fechado. Todos os outros filmes da dupla são legais, merecem ser vistos, mas lembram trabalho de escola. Deve ser por isso que os nerds adoram tanto os dois.

E quando você vê Tarantino, ansioso, cuspindo, falando pelos cotovelos, e do seu lado há o irônico e discreto Eastwood, sabemos muito bem qual dos dois é grande.
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A foto lá no topo, da cena na caverna, é p&b, mas o filme é colorido, magistralmente fotografado por William H. Clothier, um camarada que aprendeu seu ofício com Jospeh von Stenberg.