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Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

domingo, junho 17, 2007

CORUJANDO O BLOOMSDAY!


O sábado 16, dia que Joyce escolheu para Leopold Bloom, é aniversário de meu pai e, nesse 2007, data em que o curso de Jornalismo da Unibrasil viveu intensamente.

Um outro Leopoldo, acompanhado de seu ex-pupilo e agora colega Marciel, realizou uma linda grafitagem na parede de entrada da Caverna do Plantão (grande trocadilho, não é? Mas não posso roubar. É do professor Clèmerson Clève, presidente da instituição). Ficamos das 9 da manhã às 7 da noite na labuta (na verdade, eu só fiquei olhando e comendo) para dar esse acabamento urbano, rebelde, para a sala que servirá de QG aos jornais-laboratório e ao site que está na agenda do Emerson Saraiva. Mal posso esperar para ver a cara das pessoas quando chegarem para a aula, amanhã, e enfrentarem tinta colorida espalhada até pelo teto. E com um marcante "JORNALISMO" encimando a porta!
Leopoldo Vetorello Neto, 23 anos, grafita desde os 13 anos. Parece convicto de que, em Curitiba, é um dos pioneiros do spray canart, o estilo que no Brasil só chegou em 1997. É dono de um físico miúdo e desenvolto e se veste com blusão e boné, mas está longe do estereótipo de skatista. Passou a tarde ouvindo Chico Buarque, entre outros ecletismos, e não titubeou quando perguntei qual livro gostaria de ganhar como sinal de agradecimento: "Eu adoro o Renascimento". Será difícil achar um que Neto não possua: é estudioso e apaixonado por arte desde a infância no colo do avô-pintor.
O seu parceiro, o Marciel Conrado da Silva, 18 anos, começou no spray há dois anos, quando frequentou uma oficina de Neto no colégio Rosilda, em uma das zonas mais pobres de Piraquara. Marciel se tornou amigo do próprio professor e, por coincidência, conseguiu bolsa parcial para estudar na mesma faculdade, Design na Unibrasil. Ontem eles transformaram um parede branca e "careta" num ato de intervenção urbana. Fico imaginando: isso seria possível em outro ambiente de ensino superior privado? Há dois ou três anos eu levei alguns alunos a empacotar, à moda do Christo, parte de um prédio em outra instituição. Foi lindo. Mas a aventura durou uns dois dias, pois o vestibular estava perto e o ar de "bagunça" parecia não combinar com o marketing.
Felizmente, hoje nós podemos experimentar mais, deixar a criatividade dos alunos fluir e até mesmo "sujar" a ordem com aquilo que a arte faz melhor: provocar.
Ainda pela manhã, o Alex Wolf completou a oficina de voz, majoritariamente frequentada pelo pessoal do Paisagens de Ouvir e do Grutun!. Aí vemos os grupos preparando a leitura de alguns contos. O diretor ficou pasmo com o desempenho de todos, mas especialmente do Cleverson Bravo, Fábio Mandrick e Douglas Santucci (os meninos de verde, preto e azul), os três do Paisagens.

Como parte de um ensaio que chamamos de Marketing de Deslumbramento, a belíssima Priscilla Cesar invade o ensaio do O Santo e a Porca, já na tarde do Bloomsday. A Sheila Fuinha, de calça vermelha, percebeu nossa entrada e disse: "eu já não me espanto. A cada minuto acontece uma coisa estranha por aqui".
Enquanto isso, o Oswaldo Eustáquio Júnior, do quarto período, liderava uma caravana para a aldeia indígena de Piraquara. A turma do sexto período noturno foi designada para cobrir, de todos os ângulos, a entrega dos agasalhos para os aborígenes, frutos da campanha organizada pelos cursos de Letras e Pedagogia. No final da tarde, o Guto, aluno que integrou a empreitada, ligou no meu celular. Aparentemente o resto do grupo fugiu com a indiarada e o deixou sozinho na floresta. Até agora não sei se ele achou a saída.

E, para terminar, essa deliciosa imagem do Ariano Suassuna, o velhinho ali no meio, declamando seus poemas em uníssono com o Grutun! Foi a estréia inter-galáctica do melhor grupo de teatro universitário de todos os tempos no bloco 1 da Unibrasil (uma ambiguidade que serve como arruda contra moléstia, fel e crime). Aconteceu na segunda passada, mas eu ainda não havia postado nada a respeito. O Alex Wolf tem derramado lágrimas emocionadas, tantas que percebo um certo emagrecimento. Espero que ele não leia isso aqui, pois mancharia minha reputação de tirano, mas é uma alegria contar com um professor/diretor tão dedicado e competente.
* Na próxima terça gravamos o Holofote com um astrônomo. O cenário novo deve estar pronto, já que o sábado foi de trabalho para o Rogério e a Mery. Eles aprontavam a enorme cortina preta que vai permitir plongèes, travellings e outros picuás para o programa de TV.
* Também na semana, o Sindicato dos Jornalistas distribui o jornal laboratório Capital da Notícia Infância, capitaneado pelo professor Rafael Schnoeherr e produzido em um final de semana pelos alunos do quinto período.

terça-feira, junho 12, 2007

A CLASSE OPERÁRIA FOGE DO PARAÍSO!


Houve uma época em que Os Sopranos era a série imbatível da TV. Não são poucos os críticos que escolhem os descaminhos de Tony como “o maior acontecimento da cultura popular norte-americana”.
Eu acolhia a bandeira com entusiasmo. Tinha até meu copo estilizado, que virou um milhão de cacos num acidente que nada teve a ver com a máfia.
Mas a admiração pela criação de David Chase só se manteve solitária até eu descobrir, tardiamente, o brilho da mais deliciosa série em que já coloquei os sentidos: Columbo, interpretado pelo impressionante Peter Falk por oito temporadas durante os anos 70.
Columbo poderia servir, sozinho, de manual para a construção de personagens em séries policiais.
Graças aos roteiros surpreendentemente regulares dos episódios, temos contato apenas com o necessário para que as histórias funcionem: nunca soubemos seu prenome, nunca vimos sua esposa, não visitamos sua casa, pouquíssimas vezes o encontramos com figurino diferente da capa de chuva surrada ou a bordo de outro carro que não um Peugeot esculhambado... nem seu cachorro tem nome!
A economia de recursos não se resume à personalidade discreta de Columbo – que, aliás, jamais empunhou um revólver. De fato, ele só aparece quinze, vinte ou trinta minutos depois que testemunhamos um homicídio, o acobertamento do crime e a tranqüilidade dos criminosos – em tramas que variam de 70 a 90 minutos. É sempre assim: ao contrário do que ocorre na grande maioria das histórias policiais, não somos convidados a tentar adivinhar “quem fez” (whodunit, conforme Hitchcock), mas a acompanhar o raciocínio brilhante de Columbo, tirando pistas do exíguo, até o inevitável desmascaramento do assassino.
A porção “sensível” dos freqüentadores da arte em movimento veria aí uma premissa “pobre”. Até meu amigo e ex-aluno Dary Júnior, cantador do Terminal Guadalupe, já vai chutando todo e qualquer entretenimento televisivo como “enlatado norte-americano”.
Mas, calma aí, Júnior!
É justamente esse minimalismo que faz a fortuna de Columbo.
Não temos muito sobre o personagem, mas, milagrosamente, especulamos o tempo todo sobre suas motivações, sobre seu sentido de ética, sobre o papel do repressor e, veja só, até sobre a idéia de beleza! O que não se diz ou se mostra em Columbo é o espaço que usamos para nos divertir – e, melhor do que isso, não há o menor indício de que essa “profundidade” é proposital.
Tecnicamente, há outra qualidade inegável: como é difícil escrever roteiros que soem novos, inesperados e envolventes obedecendo rigorosamente a uma estrutura tão rígida! – o que me lembra a justificativa do pianista Bill Evans para ter resumido sua incursão no free jazz a uma única experiência: “me sinto mais estimulado a procurar combinações inéditas em formatos aparentemente esgotados”.
Bom, tudo isso para dizer outra coisa.
Recentemente propus a uma turma de Jornalismo, na Unibrasil, que um dos nossos dois jornais laboratórios se transformasse em veículo temático. O primeiro jornal passa a circular semanalmente a partir de agosto. O outro, mensal, precisa ocupar um espaço que não é do mero treinamento.
Sugeri que, em todo o segundo semestre, o Capital da Notícia se torne especialista em Infância. Mais do que isso, que trate da exploração infantil. Imaginando que era uma grande idéia, já articulei parcerias com a Ciranda (ong voltada aos direitos da criança e adolescente) e com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná, ambos interessados em fornecer suporte e distribuir o veículo.
Qualquer um que esteja atento à mídia percebe que a maioria dos prêmios para a imprensa, hoje, passa pela cobertura dos problemas da infância. Não é preciso ir muito longe para constatar. O repórter da Gazeta Mauri König, que no dia 11 de junho conversou com nossos alunos lá na Unibrasil, construiu toda a sua reputação com reportagens sobre o assunto.
Isso sem falar que a Infância é, de fato, um dos grandes temas dos últimos trinta anos, preocupação que só aumenta na mídia responsável.
Então eu procurei a turma que, no próximo período, vai tocar o projeto. Conto, entusiasmado, sobre a idéia. Alguns parecem empolgados. Uma aluna pós-adolescente, no entanto, concentrada no seu laptop, interrompe a minha fala para dar o diagnóstico: “esse assunto dá, no máximo, uma página”. Em seguida, um ou outro concorda com a colega e todos sucumbem àquele sorriso inseguro de quem quer parecer satisfeito com a própria astúcia.
Claro, todo mundo se engana, emite opiniões das quais irá se arrepender, muda de idéia com o tempo, percebe que foi apressado nesse ou naquele momento... tudo perfeitamente normal.
Digna de olhar cuidadoso é a freqüência com que o senso comum é tomado como indiscutível. Criou-se, em parte do ensino superior, nos últimos anos, uma postura supostamente democrática de “valorização da opinião”. Alguma leitura de orelha do Paulo Freire, meia dúzia de linhas politicamente corretas e, voilá, muitos professores compreenderam que estávamos libertos da opressão intelectual. O estudioso, aliás, tornou-se o vilão da história. Quer um estereótipo de monstro? Alguém que ouve música, conhece literatura e constrói opiniões que desafiam o conforto moral da classe trabalhadora.
No curso de Jornalismo isso parece especialmente comum: não vamos brigar com o estudante por causa de sua opinião! Pelo contrário, vamos valorizá-la para que estimulemos os outros a participar do “debate”. Parece que a estratégia fugiu do controle ou, pior, chegou ao ideal para a também baixa qualificação de muitos professores: qualquer bobagem é tratada como “direito” do estudante universitário. Tanto que a frase mais indignada de corredor é “essa é a minha opinião!”
Outro fator interessante contribui para o quadro: o perfil “operário” dos universitários. Desanimado com a tarefa de mostrar o papel da crítica e da consolidação intelectual para a formação dos jornalistas – ou fruto do mesmo contexto social dos alunos –, o professor deixa correr a idéia paleolítica de que o profissional de Comunicação é um “tarefeiro” e que o papel da educação superior é treinar bem os clientes para que respondam ao mercado do jeito que ele se apresenta.
Paradoxalmente, o discurso público desses mesmos influentes professores é quase o de uma agenda escolar cheia de máximas humanistas, palavras de ordem e convocação a todo tipo de assembleismo. O que sugere um grave problema de auto-reconhecimento como cidadão produtivo na sociedade.
Em geral, louva-se a beleza do Jornalismo, sua importância e defeitos a serem superados. Mais recentemente, parte da docência se encantou com a mais do que contestável hipótese de que o jornalismo constitui uma ciência em particular, dona de pressupostos metodológicos próprios e status semelhante ao das Ciências Sociais. Poucos lugares do mundo se embrenham na idéia, hoje ainda articulada por alguns pensadores portugueses e a turma de Santa Catarina, herdeira da sedutora sombra do falecido Adelmo Genro Filho.
A esquizofrenia parece ter um sentido: historicamente incapaz de absorver a cultura humanística – que sempre caracterizou o bom jornalismo –, o operariado resolveu criar um campo “intelectual” do qual tem domínio absoluto e monopolizado: o obscuro mundo da Teoria do Jornalismo. Não conseguimos competir com os filósofos, então matemos Sartre, Habermas, Arendt e elejamos Nelson Traquina como o novo pensador dessa geração. Aliás, dessa geração nessa profissão. Aliás, dessa geração nessa profissão com essas condições sócio-econômicas e suas precariedades.
Auto-entitulados representantes legítimos do marxismo, os jornalistas-operários, trêmulos no complexo de inferioridade, negam o papel do homem como sujeito da história. Deixamos, num misto de Althusser e leitura apressada de Freire, que o mundo material imediato determine nossas estratégias.
Como herança em vida, a auto-piedade também se torna norma. A mesma garota certa de que o tema da Infância não rende mais de uma página, raciocínio fruto dos 20 segundos de profunda reflexão, se sente segura para reclamar do pouco tempo que os estudantes têm para cumprir os projetos do curso. “Aqui todo mundo trabalha!”
Novo paradoxo: legitimamente preocupada com a aplicação prática do seu curso na própria sobrevivência, a classe operária quer ver o custo-benefício. Então, muito mais do que acontece em instituições totalmente dominadas pela classe alta, a frase típica das reclamações é: “eu estou pagando minha mensalidade e tenho direito”. O tão contestado Adorno sorriria – então o proletariado sucumbiu à lógica capitalista!
O diagnóstico não é difícil de ser traçado. Falta arte.
Falta tanto que a própria existência do ambiente artístico provoca urticárias. Alguns anônimos e outros mais orgulhosos de suas impressionantes reflexões têm abominado, nos blogs diversos, a ligação do curso de Jornalismo com teatro e outras atividades do além-canavial. O ambiente da arte é sentido como nocivo, capaz de desafiar o confortável senso comum, o reino do medíocre.
Sofista, o fantasma acredita que, por isso, ninguém mais aprende jornalismo nesse ambiente – quando evidentemente o que ocorre é o contrário. Mesmo que a preocupação fosse meramente formar indivíduos capazes de “arrumar um emprego”, o contato com a cultura humanística só beneficia os estudantes. Olhe as provas dos programas de trainèes mais disputados do país: Folha, Estadão e Editora Abril. A absoluta maioria das questões está relacionada com arte e literatura.
O medo, na verdade, é descobrir que a garrafa de água encima do contador não diminui a conta de luz.
Obviamente, não formamos artistas nem temos a pretensão de medir o quanto tornamos nossa platéia crítica. Formamos pessoas que usam o antiquado cérebro para informar os outros sobre o mundo. Informar com a difícil missão de ser novo, envolvente, eficaz, responsável mesmo nas estruturas mais antiquadas e inflexíveis.
Como o tenente Columbo, típico representante da classe operária, pequeno e despretensioso personagem da cultura de massa.

segunda-feira, junho 04, 2007

HOJE TEM POEMAS DE ARIANO PARA ARIANO!


Hoje é a estréia intergalática do Grutun! - o grupo de teatro da Unibrasil.

Ainda não é o "Santo e a Porca", que terá temporada no Mini-Guaíra ainda em junho, mas uma seleção de poemas declamada e cantada especialmente para o autor, o Ariano Suassuna, que fecha hoje, às 19 horas, a Semana de Letras da instituição.

Preciso dizer que estou muito feliz com o trabalho do diretor, o Alex Wolf, que deu ares de compromisso profissional para um grupo de alunos que, em sua maioria, sequer havia pensado em pisar no palco.

Mas estou encantado especialmente com os próprios integrantes, oriundos de diversos cursos, além do Jornalismo.

Sabem que estão lá para fazer história.

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Amanhã tem a lenda do rock paranaense, Ivo Rodrigues, no Holofote, nosso projeto interdisciplinar de telejornalismo. O programa vai ao ar quarta feira, às 20h30, na TV Comunitária.

A agressiva levada cinematográfica do programa está fluindo cada vez melhor: o cenário barroco, com a iluminação difusa, o repoussoir e o fundo mergulhado na escuridão, se alia agora a reportagens lotadas de movimentos de câmera cinematográficos. Há alunos do primeiro ao sétimo período praticando jornalismo na rua, como profissionais, mas pensando o tempo todo na estética e conteúdo do projeto.

Isso é caminhar para a formação ideal do jornalista.

Um dos grandes méritos do programa tem sido, a exemplo de inspiradores como o "Inside the Actor's Studio", o esmerado processo de pré-produção. Uma equipe visita, entrevista, desmonta a vida do entrevistado antes de ele chegar ao estúdio. Nossos primeiros convidados, o artista Cláudio Seto e a vendedora Terezinha, a "Borboleta 13", se revelaram verdadeiros personagens épicos.

Quer escrever para o programa, sugerindo pautas ou pedindo cópia dos atrasados? holofote@unibrasil.com.br
Na foto aí de cima, da Luana Krasa, você vê Seto com a equipe do Holofote.

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Meus alunos do quinto período estão produzindo, em tempo muito estreito, um jornal laboratório especial sobre criança: o Capital Infância. Vamos dar nossa contribuição ao dia nacional do combate à exploração do trabalho infantil, o próximo 12 de junho.

Enquanto isso, o impressionante Emerson Saraiva, meu aluno de Redação em Revista, se esmera no projeto de um revolucionário jornal digital.