BOP!

Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

domingo, dezembro 24, 2006

UM ANO DE BLOG DANDO A OUTRA FACE!



Eu inaugurei blog há mais ou menos um ano.


Era bastante reticente, pois há, claro, algo de vaidoso demais numa página própria da internet.


Não me interprete mal, eu sou muito vaidoso.


Mas a vaidade evidente é sempre parceira do ridículo. Por isso, mantenho distância dos sítios de relacionamento. Pouco do mundo é mais constrangedor do que "recados no orkut".


Para falar a verdade, eu raramente abro o msn, talvez porque seja rabugento, talvez porque aquelas frases que expõem a vida monótona das pessoas me deixam ruborizado e com vontade de esconder a cabeça sob a mesa.


Trata-se de uma nova modalidade de parachoque de caminhão, sem, no entanto, conservar a simpática poesia popular das estradas:


"Agora acabo"


"Quero te perdoa mais vc sempre da pra traz"


"Amanha eh lonje de mais"


Mas essa postagem não é para falar mal do mundo. É mais uma comemoração: no ano passado, nesse mesmo dia, eu me preparava para passar o Natal completamente sozinho, apelando, inclusive, para alguns minutos melancólicos no shopping Barigui, onde um crooner curitibano interpretou Frank Sinatra enquanto, ao meu lado, um casal de evangélicos tagarelava com amigos, de costas para o palco, sobre seu noivado.


- Ei, amigos, vocês poderiam falar mais baixo, eu gostaria de ouvir a música.


A menina me olhou de cima a baixo. O noivo balançou a cabeça com a firmeza das pessoas de fé. Ela, claramente dominante e naturalmente mais interessada no quiprocó todo de noivado, levantou a voz:


- A gente tá noivando, sabia?


- Mas tem tanto lugar para noivar nesse shopping. Não dá para vocês noivarem na praça de alimentação?


Como ela é do time de Jesus, impôs aquela segurança arrogante dos jovens crentes:


- Cristo te abençoe.


Falou como se me perdoasse, a vagabunda! Cheia de falsa generosidade no queixinho duplo levantado. Ah, essa garota nunca me viu transtornado! Naquele brilho vermelho e branco das lojas, ela perdeu, por pouco, a chance de vislumbrar o capeta dançando vanerão na minha retina.


- Tá, tá. Feliz Natal. Desculpe. Vá com Deus. Saravá!


No final das contas, eu quase sempre sou mais cristão que os cristãos.


Hoje, véspera de Natal, não estou exatamente cercado de gente. Mas daqui algumas horas vou para São Francisco para passar o final de ano na casa do Felipe. Não estou tenso como nos últimos dias de 2005, quando fui vítima de algumas armadilhas de gente doentiamente invejosa (trapaças que também afetaram, em ondas, pessoas que eu gosto) e tive que gastar meu cérebro com planos de recuperação emocional, profissional e financeira.


Tanto que um dos primeiros textos do meu antigo endereço era um conto deprimente de Natal.


Mas, olha só, 2006 não foi ruim. Pelo contrário.


A arte voltou ao meu cotidiano, o que definitivamente não era possível quando eu trabalhava em vão, de manhã, tarde e noite, para garantir clientes para gente medíocre e de caráter movediço.


Houve uma época, em 2006, em que eu escrevia todo santo dia, o que permitiu material para pelo menos três livros.


Recuperei minha parceria com o Benett, que é uma das coisas pelas quais serei lembrado (além das extremidades exageradas, como os pés e o nariz).


Fui ao teatro (escrevi uma peça) e ao cinema com frequência antes inimaginável - incentivado, sem dúvida, pela Priscilla, a quem devo a recuperação do amor pela dramaturgia.

Bom, a Juliana Galvão, de quem gosto muito, descobriu um tumor "do tamanho de uma laranja" no cérebro. Neurocisticircose. Isso mesmo, a mítica doença da carne de porco. Ela fez uma tenebrosa operação de quatro horas e ficou meio louca por duas semanas, costurada com 27 pontos ao longo do crânio. A boa notícia é que ficou novinha em folha, talvez até mais esperta.


Nos últimos dois meses, tive o prazer de voltar a trabalhar com o Emerson Cervi e com o Hélio Marques, duas pessoas extraordinárias, entre outros camaradas. Na Curitiba, comecei um projeto conjunto com a Anuschka e a Juliana, algo que fez das tardes de quarta um deleite de cinema, moda e séries de TV. Colaborei com o grande Luís Fernando na excelente pós de Arte, Cultura e Saberes Contemporâneos e ainda coordenei a pós de Documentários, o que me rendeu ótimas oportunidades. Entre outras coisas, como o convite para coordenar o curso de Jornalismo da Unibrasil.


Por que esse ano foi melhor?


Eu sei.


No ano novo passado, eu finalmente cruzei a meia-noite dentro do mar. E estava chovendo.


Chuva!


Sou uma pessoa muito difícil, pois sinto um peso constante empurrando meus ombros para baixo. Tenho a impressão que perco tempo. Sempre. Sinto culpa. Uma dor que, compreendo, não faz o menor sentido. Mas sinto. Pela minha irmã, pelo meu primo Gruber, o fracasso amoroso dos meus pais. Há algo escuro e latejante que se acumula em alguma parte do meu corpo - não do que chamariam de espírito, pois é claramente físico, a ponto de entorpecer os sentidos, pesar o cérebro como se ele fosse uma massa de papelão encharcada.


Quando chove, talvez um pouco disso escorra.
Feliz Natal, enfim.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

UM NOVO GÊNERO: CELULAR!

O que Cassino Royale, Os Infiltrados e o seriado 24 horas têm em comum?
Assim como a maioria dos filmes de ação que são lançados todo mês, dependem umbilicalmente de aparelhos celulares.
Se não houvesse celular no mundo, o que seria dos roteiristas?
O curioso é que, cronologicamente, Cassino Royale é anterior a todos os outros 20 filmes de 007. A história se passa antes de O Satânico Dr. No, quando os telefones convencionais eram de discar e tinham um charmoso fio enrolado.
Claro, claro. Liberdade poética, instrumento artístico esplêndido para derrubar essa barreira reacionária do tempo - e garantir a bilheteria merecida.
O novo James Bond é um grande filme de ação, com uma perseguição inicial espetacular: Daniel Craig e o coadjuvante negro de pele queimada pulando feito o Hulk pelas construções no interior de Uganda.
Craig tem seu charme, uns erros humanizadores obrigatórios e o lábio superior talvez um pouco pronunciado além da conta, o que sugere um agente secreto dado a um tipo de vaidade gay, como se concorresse com o antagonista, Le Chiffre, até no beiço (aliás, já estava na hora de as produções americanas-britânicas desistirem de batizar todos os vilões com sotaque francês. Haja rancor!)
Mas a tese escondida do filme é o que há de mais divertido: o homem apaixonado até o limite do açúcar só pode ter os testículos esmagados. Depois de passar por uma sessão de tortura que nos faz, homens, contorcer na poltrona do cinema, James se entrega feito Polliana Moça ao amor de Vesper. Velejam até a Veneza dos apaixonados. Os dois desempregados, vivendo de amor. Ah, um Bond chamado desejo!
Você dirá: é um toque "cínico" do roteiro. Mas espere até as últimas revelações para dizer, com sentimento de vingança, que o imbecil confiou feito um amador na "vagabunda". Como nas novelas do SBT, o amor ainda é mais forte.

CONCURSO PARA PROFESSOR DE JORNALISMO NA UNIBRASIL!

As inscrições encerram no dia 18 de janeiro, às 12 horas.
O cronograma de provas será publicado na internet. Avisaremos por telefone todos os candidatos a partir do final da tarde do dia 19 de janeiro. Os sorteios dos pontos para aula prática iniciarão na segunda-feira, dia 22 de janeiro.
As provas começam na terça, dia 23, e o término depende da quantidade de inscritos.
Até dia 26, os resultados serão entregues ao departamento de Recursos Humanos da Unibrasil.
A divulgação fica para segunda, dia 29 de janeiro.
O contrato será assinado antes de 05 de fevereiro.
Leia mais em http://www.unibrasil.com.br/detalhe_categoria.asp?id=11

quarta-feira, dezembro 13, 2006

17 DE FRIEZA E 81 DE ANJO EXTERMINADOR!


Se o pathos da equipe gaúcha não ajudou, paradoxalmente o Pato sequer desmontou de felicidade ao achar o gol. Mesmo aos 17, na sua precoce transformação em depositário das esperanças coloradas, apenas levantou a mão, sem sorrir, como homenagem ao amigo Tales.
No mesmo dia, 25 anos atrás, o melhor time que vi jogar definiu o parâmetro do que eu considerava futebol - e me fez sonhar com traves e bola durante quase toda a infância e adolescência, me deu inúmeros perfis imaginários de atletas finos e suaves, como Zico, nos intermináveis campeonatos de rebatida em que tinha como adversário e única platéia o Benett, nós dois forçando a vista no lusco-fusco do meu jardim, às vezes à sombra de um ipê amarelo.
O Inter que acordei cedo para ver, hoje, é um time tão ruim quanto o São Paulo que ganhou o mundial interclubes no ano passado.
Nenhum dos dois parece remotamente com o Mengo de Carpegiani, o São Paulo de Telê ou até o Grêmio do Felipão dividindo pizza na madrugada com o Renato Gaúcho.
No ano passado, o vencedor tinha apenas dois jogadores, Ceni e Mineiro. Nesse, também há miseravelmente uma dupla, Fernandão e aquele que veio cantando alegremente, na beira da lagoa, mas não tinha marreco ou ganso afinados o suficente para o tico-tico no fubá.
Anyway, continuarei torcendo para o Internacional, mesmo que sequer dobre para quatro os jogos profissionais de Alexandre com a camisa do time brasileiro. E do jeito que leiloam barato os jovens jogadores do país, é bem capaz que o garoto de Pato Branco faça como seu homônimo famoso e vá parar numa praça tão relevante para sua história como a Índia.
kk
Não tive tempo de falar a respeito, ainda.
Mas ver B. B. King a quatro filas de distância é emocionante. Ele fala mais do que canta. E anda menos ainda, naturalmente. Quando chega, arrastando o corpanzil, está antecedido dos batedores. Foram duas longas interpretações da (ótima) banda até que o paletó vinho e brilhante arrancasse a abastada platéia do Guaíra de suas cadeiras abarrotadas. Normalmente essa gente de 780 reais por assento não se mexe muito, coisa bem ensinada por Luís XIV, que recusou uma belíssima escultura equestre de Bernini porque não tolerava ser representado em atitude tão... tão... animada. Chacoalhar os quadris, levantar-se e sentar-se muitas vezes e gritar interjeições de motivação são hábitos demasiado plebeus.
Mas a aura de B. B. King, a senhoria de seus 81 anos, e, claro, o preço selecionador arrancaram a batelada do chão. No final, como no famoso filme de Luís Buñel, os brancos bem-vestidos perderam de vez a pose e se acotovelaram aos pés do ancião negro e gordo para implorar paletas e medalhinhas douradas.
ll
No topo da página, à direita, a maquete exuberante de Gianlorenzo Bernini recusada pelos asseclas do Rei Sol em 1670. À esquerda, olhando para fora da página, o modelo em terracota daquela que finalmente foi aceita, assinada pelo protegido François Girardon na década seguinte. Ambas são lindas, é verdade, mas a sólida e impassível é bem mais, digamos, curitibana.