POUCOS OU MUITOS MILHARES DE VOTOS NA BOBAGEM!
O que foram esses pouco mais de dez mil votos que reelegeram Roberto Requião?
O próprio governador e Osmar Dias resolveram lamentar, agradecer e prometer em público.
E daí podemos tirar algumas idéias sobre o quase empate e o aproveitamento e esperdício fatais desse zero dois pontos percentuais que decidiu o pleito.
Requião chegou batendo em todos, xingando o desafeto Francisco Cunha Pereira, um dos manda-chuvas da RPC, constrangendo os jornalistas e assim vai. Mas, descontada a suscetibilidade exagerada de alguns, todo mundo dormiria mais ou menos bem na madrugada que está chegando.
Mas quando ele anuncia o presidente municipal do PMDB, Doático Santos, para ser o "interlocutor" entre o governo estadual e a prefeitura de Curitiba, abre a modesta caixinha de Pandora com alguma originalidade.
Doático, com a sutileza de um representante de torcida organizada, declara aos jornalistas que vai cobrar agilidade de Beto Richa. Segundo o peemedebista, o prefeito é muito lento para honrar os repasses do Estado, mas rapidíssimo para chegar à sauna do Country Club.
Richa, numa atitude bem provinciana para quem é prefeito da segunda cidade do Sul do país, resolveu devolver. Não vai discutir nada com Doático.
- Não falo com o cachorro, falo apenas com o dono do cachorro.
Brigar em público com um assessor do governador parece o que alguns chamariam de erro da juventude. Uma coisa bem PSDB esse lance de "juventude": quando fala de sua biografia, o Alckmin faz a gente imaginar que ele já fazia transplante de esqueleto aos onze anos e era presidente da Federação dos Planetas aos treze.
Aliás, a atitude do prefeito logo depois da derrota de seu candidato ao governo estadual foi, no mínimo, interessante. Orgulhava-se de ter contribuído para que Osmar se aproximasse de Requião nos números finais. Considerou-se um vencedor.
Hora ruim para comemorar - o que mostra, quem sabe, uma das deixas simbólicas para o retumbante fracasso do PSDB na eleição para presidente.
No fim do round, Osmar Dias fala à mídia sobre a derrota. Começa bem - e eu até fiquei comovido com a serenidade. Agradeceu aos eleitores do opositor, pois segundo ele - e talvez só ele - não foi hostilizado nenhuma vez durante a campanha (eu mesmo não votei nele e realmente não joguei ovo ou tomate naquela barba bem aparada).
Depois disse que o departamento jurídico do PDT ou da coligação iria trabalhar sobre algumas informações - em resumo, uso da máquina pública pelo governador e suposta manipulação de resultados dos institutos de pesquisa. Acho importante que um ator social relevante como o senador reagende os fatos, pois a imprensa curitibana gastou muito mais tempo e espaço publicando declarações absurdas dos candidatos do que tentando comprovar as denúncias lançadas ao público.
Aí, repentinamente, o pedetista volta ao normal e cede ao factóide: ele diz que apresentará projeto que sentencia os institutos de pesquisa a pagar as despesas de campanha do candidato que perder a eleição caso a previsão anunciada não se concretize.
Entendeu?
Em suma, por algum critério mágico, o derrotado conseguirá provar que perdeu a eleição porque o opositor teria sido beneficiado por números que o indicavam como vencedor.
Embora ninguém tenha instrumentos para medir tal hipotese, é costume acreditar que o eleitor indeciso se fia na candidatura que está liderando as pesquisas - é o que o sociólogo Paul Lazarsfeld, da Universidade de Columbia, chamou de bandwagon effect lá nos anos 40 (The part played by the people in the flow of communication, estudo publicado pela primeira vez em 1955, com pesquisas de dez anos antes).
Osmar está dizendo, mesmo de forma atrofiada, que o notório erro de 400 mil votos na previsão do Ibope foi determinante na sua derrota.
Ou seja, depois da homilia cuidadosa, o lamento bobo.
Pensemos: tanta energia gasta com temas tão "importantes" não podem ter custado, nas suas versões de semanas atrás, 10 mil votos para o perdedor e uns 400 mil para o suado vencedor?