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Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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Local: Curitiba, Paraná, Brazil

Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

segunda-feira, outubro 09, 2006

17 MILHÕES!

Anteontem eu comprei, num rasgo de consumismo que estava tentando conter há, pelo menos, uma semana, o livro de Christopher Hitchins lançado pela Ediouro: Amor, Pobreza e Guerra (2006).
Por algum motivo, o que me atraiu foi uma semelhança quase física da edição Landscape da obra Cidadão do Mundo, do Daniel Pearl (2004).
Vocês lembram. O cara foi aquele repórter do Wall Street Journal degolado por gente da Al Kaeda no Paquistão. Os improváveis Brad Pitt e Angelina Jolie deverão fazer sr. e sra. Pearl no cinema em breve.
O britânico Hitchins veio para a festa literária de Parati desse ano e respondeu sobre o desamor que parte da chamada "esquerda européia" passou a nutrir por ele depois que se pronunciou inimigo incondicional da revolução islâmica.
Tanto Pearl quanto Hitchins estão longe de representar o jornalismo engajado que tanta gente defende. Não significa que são despossuídos de intenções "sociais". A diferença é que eles optam primeiro pela informação e pela qualidade do texto. Depois tomam posição - e com clareza.
O que alguns setores da política progressista não entenderam (ou fingiram não perceber) é que Christopher Hitchens não tem restrições particulares quanto aos muçulmanos. Ele acha, de fato e como bom ex-comunista, que nenhuma religião merece cuidados especiais.
Leia lá um texto chamado Madre Tereza e o Diabo. O jornalista descreve a entrevista que concedeu a pesquisadores do Vaticano durante o processo de canonização de Madre Tereza de Calcutá.
Ele dirigiu um documentário - e cumpriu papel de "advogado do diabo" - para provar que, de santa, a devota não tinha nada. Era vaidosa, as doações milionárias que recebia nunca passavam por auditoria e pregava, aos pobres a quem "orientava", que a doença e a pobreza eram "dádivas maravilhosas".
Os hospitais que mantinha seriam, na verdade, centros de conversão e espera dolorosa pela morte, dada a precariedade suspeita das instituições. Mesmo assim, quando ficou doente, fretou jato particular e se internou em cara clínica dos Estados Unidos.
Eu sou pouco inteligente, então muitas vezes funciono por impulso. E ele às vezes dá certo como uma garrafa de água que, sobre o contador de luz, diminui a conta da energia. A similitude gráfica dos livros parece ser resumida ao slogan repetido pelas páginas de Cidadão do Mundo: "envenenar a água do poço".
O trabalho dos dois jornalistas se parece nisso. Provocador como poucos assessores do stablishment conseguem ser.
Esta aí uma verdade difícil de superar: jornalista precisa envenenar a água do poço. Criar contradição, colocar a ordem estabelecida às avessas. Moderno demais?
No texto sobre Madre Tereza, Hitchins elocubra: por que meu parecer é levado em conta? Não sou religioso, porque me importo com a fábrica de santos que a Igreja Católica se tornou no papado de João Paulo II?
Em outras palavras, ele assume que seu incômodo é com a banalização, com o senso comum.
Senso comum, que praga!
Você vê alunos de faculdade, todos cheios de si, explicando o mundo através de Malhação e da homilia proferida numa igreja ligada à Opus Dei.
Acham Sociologia e Filosofia muito chatos. Acham que "Um Dia Daqueles" dá conta de compreender o mundo.
Por que basta ter "amor no coração" ou "Jesus no coração" ou "trabalhar bastante" para chegar lá. Essa é a receita para a felicidade. Qualquer um que discorde é chato, não quer ser feliz ou está possuído por demônios ou alienígenas ou pelo Hugo Chavez.
É a estupidez levada a sério, "respeitada" porque "todos têm direito a opinar", que leva a constrangedora classe média brasileira a sair por aí dizendo que "pobre não gosta de trabalhar", "que os negros são bem mais racistas que a gente" ou que "é melhor ensinar a pescar do que dar o peixe" (essa última, inclusive, deveria vir acompanhada de antiácido).
O Cassiano Santana contou no blog (http://ca05santana.spaces.live.com/) episódio que está longe de espantar, mas nem por isso não revolta: um adulto, numa faculdade, na frente de 40 pessoas, afirma com a maior convicção do mundo que é necessário haver "extermínio" de trabalhadores rurais.
Eu mesmo ouvi, esses dias, uns alunos comentand0 que a Bolsa-Família é um "incentivo à vagabundagem".
Esse tipo de senso comum já seria nocivo sozinho, mas o pior é que a incompetência da assessoria do Sapo Barbudo deu margem para que até os "inteletuais" de universidade privada passassem a declarar, niilistas, o fim da "ilusão" e passassem a tomar a confortável posição de punks eleitorais.
O absurdo é tanto que alguém pode até sugerir que o voto no Alckmin é de "protesto".
Por isso que eu tomo posição clara na eleição. Também estou triste com o que acontece com o governo, mas dar uma de meninho emburrado e largar a direita empoeirada acesa, prestes a voltar da cova, ah, isso eu não faço. Eu procuro estudar História.
Pois o PFL é partido que veio da ditadura.
Porque Alckmin tem ligações com a Opus Dei, o setor mais reacionário e medieval da Igreja (sexo é ruim, divórcio nunca, mulher obediente, homossexuais são perversos e por aí vai).
Porque os tucanos são ainda mais hipócritas que os petistas. Agora fingem que nada de ruim aconteceu no primeiro governo (legítimo) e no segundo (golpe!) mandato de FHC.
E para não dizer que meu voto é simplesmente contra o Picolé de Xuxu, eu confesso felicidade com a estatística divulgada meio na moita pela mídia. 17 milhões de pessoas deixaram a pobreza durante o governo Lula. No mesmo site em que a informação foi divulgada, a linha de apoio dizia: Mas isso ainda é pouco.
"À custa de quê?", me disse, desconsolada, uma pessoa que admiro.
Como assim? Não importa. Fome é a pior praga que existe. Quem acha que os miseráveis escolhem o destino é porque nunca viu uma criança desnutrida. Um pessoa mergulhada na miséria não tem chance, nem com muito amor, Jesus ou estações-tubo no coração.
O miserável perde autonomia, o cérebro fica lento, as pernas não sustentam o pouco peso, sua carcaça vai tomando a forma que dá medo à classe média.
O presidente não é um exemplo porque não estuda? Olha bem, muitos dos meus alunos são brilhantes e excelentes cidadãos, mas não conheço um - um único - que dê qualquer sinal de talento como liderança política semelhante à de Lula. E poucos têm o comprometimento com quem mais precisa de governo. Mas todos são universitários.
Pra mim, vale qualquer coisa para acabar com a miséria. Até mesmo cortar uns eucaliptos e acabar com a ilusão de que a Educação vai salvar o mundo.
Esse sentido parece acompanhar o título do livro de Hitchins: "Amor" é capítulo sobre artes. "Pobreza" é sobre a tábula rasa das discussões "intelectuais" na mídia. "Guerra" é... sobre guerra mesmo.

17 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Hm... Bom, quem sou eu para questionar sua superioridade tutsi!
Sabia que o Poder Hutu advertia seu povo contra as mulheres tutsis dizendo que eram perigosas por serem mais bonitas?
Voce sabe o que isso significa?
Primeiro, que se voce fosse mulher seria a menina mais linda do mundo. Segundo, que sexo poderia acabar com guerras. E terceiro, que o Alckmin pode ser um hutu...

9/10/06 17:22  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Alckmin é hutu?
Graças a Deus que a Radiobrás não está na mão dos tucanos.
Senão teríamos jingles com o mote "covas de sem-terra ainda não estão preenchidas".
Eu também acho: faça amor, não faça tucanos da Opus Dei!
Espere, a Radiobrás não está, mas a Veja...

9/10/06 17:29  
Anonymous Anônimo said...

Punks eleitorais? Ah, muda para..."emos" eleitorais.

10/10/06 11:10  
Blogger Jean-Philip said...

Victor... O segundo mandato do FHC foi triste mesmo, mas chamar de golpe? Golpe foi o que turma do Lula tentou fazer em 1999, quando foi as ruas 3 meses depois da posse pedindo a renúncia do FHC. Foram ruins de voto e partiram para a ignorância das ruas. Isso é golpe. O próprio PT abandonou essa tática depois. E sobre religião é bom ficar de olho no vice do Lula, José Alencar. Ele é do PRB, partido de que a Igreja Universal do Reino de Deus é praticamente dona.

10/10/06 13:55  
Anonymous Anônimo said...

"Xuxu" não é com "ch"?

Todo mundo reclama da escolaridade do Lula. Pois se ele tivesse feito uma faculdade mais cretina que Letras na Uniandrade tudo seria diferente? Pobre do Lula que não teve a grande idéia de fazer Artes Cênicas na FAP!

10/10/06 13:58  
Anonymous Anônimo said...

Jean: bem lembrado, mas há duas coisas a se considerar. Primeiro, que o Alencar não é, pessoalmente, representante da Universal. Além disso, ele é um bonifrate, para usar a expressão favorita da turma do Collor para o Ulysses Guimarães.
Depois, é preciso lembrar que o sinistro evangélico teve seu fogo bem abalado no último pleito. Se houve alguma coisa boa no dia primeiro, foi que a bancada evangélica caiu de 60 para 15 - é o grupo que mais perdeu com o envolvimento nos escândalos todos.
Zuzu, "Picolé de Xuxu" é a expressão que o José Simão popularizou para descrever o AlckMin. Com "X".

10/10/06 16:03  
Anonymous Anônimo said...

Ah, Bntt!
Acho que os Emos votam na Heloísa Helena e no Cristóvão. Eles são emotivos, afinal.

10/10/06 16:06  
Anonymous Anônimo said...

Oi, chuchu! (Este com "ch"!)
Desconsolada??? Pior é que é verdade! Você conseguiu definir bem.
Bom texto, professor.
Agora, vem cá: a tentativa é de lançar um Robin Hood Tupiniquim? Se for, o "plot" está altamente adaptado. Precisamos definir melhor os ricos e os pobres da história. Também temos que subsidiar o protagonista com mais informações, para que ele saiba quem está do seu lado (seja ele qual for) e quem são os traíras, entende? hahahahaha
Espero que essa vire "comics" também.
Com saudade.
Beijo.

10/10/06 16:26  
Anonymous Anônimo said...

Pois é Victor!
Eu não voto no Lula pensando que o PT criará grandes revoluções. Acreditar na pureza do PSDB e votar no Alckmim pra lutar contra a corrupção do PT também é de uma inocência estupida.
VOcê sabe por quê o Pt é tão criticado por "endireitar" sua postura? Porque com isso o PT ganhou eleições. Se continuasse como um bando de ideólogos barbudos e desajeitados não venceriam eleições nunca na vida.
Se o Lula precisou colocar botox usar Armani. emagrecer e trocar a cor da estrela pra vencer as eleições, tá justificado.

10/10/06 17:19  
Anonymous Anônimo said...

Já tentei mudar meu Lay out , mas não funciona.
Na verdade eu tenho que mudar de endereço, mas ainda não reservei um tempo pra isso.
Abrax

10/10/06 17:24  
Blogger Alina said...

Uma dica muito intelectual: dê espaços nos seus parágrafos, fica mais leve de ler no computador.

11/10/06 11:57  
Blogger Jean-Philip said...

É interessante ver qual lado está apostando na tática do "medo" dessa vez.

11/10/06 16:19  
Anonymous Anônimo said...

Para acabar com a fome e as secas do Brasil, vamos votar no Chuchu, dá em qualquer canto e é praticamente só água...

11/10/06 17:40  
Anonymous Anônimo said...

Não dê espaços entre os parágrafos, querido.

Gosto de ler tudo bem grudadinho... Huumm

13/10/06 03:25  
Anonymous Anônimo said...

Quanta gente pentelha aqui, hein???!!

Pequenos reacionários de plantão; filhotinhos do Jaime, amigos do Richa, funcionários do Cássio; simpatizantes do mais novo antagonista de "O código da Vinci": o fofo do Geraldo Alckmin.

13/10/06 03:28  
Anonymous Anônimo said...

Dez vivas para Victor, o terrível brincalhão de palavras. Gostei do blog, gostei do texto. Mas não voto em nenhum dos dois. Não creio em governos, acredito que com bom senso NINGUÉM precisa de um.
Daí vem os chatinho com a pérola do conhecimento: -Mas quem não gosta de governo e política é governado por quem gosta!!!(cara de satisfação) Eu emendo: Dane-se! Não vou compactuar com coisas que nem acredito, muito menos gosto.
Enquanto não atingimos o nível necessário para viver a Anarquia... anulo votos.
E quanto ao "senso (burro) comum", o horror é inesgotável mesmo. Sempre vai vir alguém e falar algo inacreditavelmente mais estúpido e assim por diante até a gente se isolar tanto da coletividade que nosso futuro será o autismo.

25/10/06 23:07  
Anonymous Anônimo said...

Pois é, Margot. Mas é preciso mostrar desagrado a cada investida pretensiosa do senso comum. O triste é acostumar tanto com o festival de tolices que ele se torne a referência indiscutível para tudo. Logo, logo, alguém vai, em plena faculdade, franzir o cenho em espanto e dizer: "mas você não acha que Jesus é a salvação? Como pode?"

26/10/06 08:38  

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