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terça-feira, abril 22, 2008

JORNALISTAS EM BUSCA DE CONSOLAÇÃO? Um texto de Rafael Schoenherr


O que está escrito a seguir é correspondência do professor-jornalista Rafael Schoenherr para seus colegas de viagem ao Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo. Foi produzida no calor da viagem, o que dá aquele sabor de imediatismo. Reproduzo aqui, embora tenha sido escrita para três leitores. Na foto, a troupe da Unibrasil no terceiro andar do prédio Piauí da Mackenzie.

O GPS é um aparelho generoso com os viajantes que precisam chegar com exatidão a um destino. Mesmo que a cidade seja São Paulo e que metade da tripulação seja ponta-grossense. Muito do charme do 'brinquedo' está na voz eletrônica que orienta: “vire à esquerda, 200 metros”. Em outros momentos, menos elegantes, talvez, o conselho é “mantenha-se à direita”. Independente do sentido, a recomendação só é feita após o preciso mapeamento do destino no visor - um mapa detalhado da região identifica onde estamos, velocidade de navegação, ruas próximas e o trajeto (manobra a manobra) até o ponto de chegada.

Por mais que alguns amigos professores não gostem do termo 'mapeamento', ao voltar de encontros de pesquisa, fico com a sensação de que falta em boa medida um aparelho de orientação (um mapa!) que facilite o trajeto discursivo. Tenho a impressão de que um levantamento prévio da situação (onde estamos, velocidade e condições de navegação, por onde podemos ir e onde queremos chegar – alguns chamariam esse cálculo de 'estratégia'...) melhor conduziria (e, em alguns casos, até mesmo evitaria) certas discussões.

Na verdade, tiro essa idéia de duas oportunas intervenções do professor Elias Machado no último Encontro Nacional de Professores de Jornalismo, em São Paulo. Como definir qual deve ser o perfil do docente em Jornalismo se não temos dados precisos e atualizados (pesquisa, enfim) sobre sua real situação em diversas escolas? No GT Pesquisa na Graduação, por sua vez, Elias debateu qual a contribuição dos pesquisadores CNPq na formação de novos pesquisadores na graduação. Isso com base em levantamento do número de pesquisadores CNPq com orientandos de iniciação científica em cursos de jornalismo. Rastreamento indispensável, segundo Machado, para a formulação de políticas de pesquisa no país – ao passo que identifica uma demanda muito maior do que a contemplada pela atual distribuição de bolsas. São apenas 12 pesquisadores doutores CNPq no país com projetos registrados na área de jornalismo. Só para se ter uma idéia, existem mais de 150 doutores associados na Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), como bem lembrou o professor da UFSC.

Os dados autorizam pensar que, em muito, pesquisa em jornalismo é uma coisa de herói no país. Isto é, ainda não funciona regularmente como prática institucionalizada. O mesmo vale para diversas ótimas iniciativas (de extensão, de pesquisa, pedagógicas) que conhecemos no Encontro, onde o desempenho do professor nem sempre vem acompanhado de estímulo e sustentação institucionais.

Porém, somente um mapa da situação pode pautar precisamente novas formas de ação e organizar o trajeto – o que está em muito por se fazer, ainda, na área de docência em Jornalismo. Caso contrário, vira reclame nostálgico (saudades disfarçadas mais de um tempo em que conseguíamos nos localizar do que da realidade pretérita em si)... Isso evitaria eventuais devaneios que desconsideram transformações recentes no mercado profissional, por exemplo, quando pensamos em requisitos do professor de jornalismo – cobrar 60 anos de trabalho em redação em jornal impresso seria injusto com as futuras gerações de docentes, para radicalizar na ilustração... Mas poderíamos tranqüilamente relacionar dados sobre os anos de redação e o resultado no ensino a partir de casos específicos.

Sem o necessário detalhamento da situação (que projete novas 'formas de agir'), o consolo é se agarrar a generalidades (que valeriam para qualquer pretensão educativa), dispersão temática, falta de objetividade, frases de efeito e apoio emotivo (com filme piegas ao final), suposto encastelamento vanguardista na universidade pública, horismo assumido nas privadas e transferência dos problemas coletivos para a escala individual de ação.

Isso não tira o brilho do evento nacional, pois desligar o GPS e se perder pela cidade permite encontrar pessoas interessantes com suas realidades singulares de docência e histórias divertidas de jornalismo. O mapa está longe de ser autoritário, portanto. Mas diante de uma realidade dinâmica da área, o que está em jogo é a legitimidade dos cursos de jornalismo, como recordou o professor Victor Folquening - e estar informado parece ser um modo interessante de olhar as coisas do outro lado da consolação.
Rafael Schoenherr

2 Comments:

Blogger Felipe Harmata Marinho said...

Muito bacana o texto. Deu pra sentir um pouco do clima do evento. E parabéns pelos artigos apresentados!

22/4/08 15:11  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Felipe Gato Alto Astral Marinho: juntará sua verve a nossa comitiva para Guarapuava?

23/4/08 00:11  

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