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Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

segunda-feira, abril 21, 2008

EMPREGO É PREOCUPAÇÃO DE FILISTEU!


Preciso dizer que me orgulho da participação de nossos representantes, da Unibrasil, no XI Fórum Nacional de Professores de Jornalismo, encontro que levantou o barracão na bela Universidade Mackenzie de sexta até hoje, em São Paulo.
Todo o nosso quarteto apresentou trabalhos: professores-jornalistas Maura Martins, Rafael Schoenherr, Thays Poletto e eu. Para minha alegria, o mérito nem estava na simples aceitação dos artigos, mas na legitimidade deles. Nesse tipo de evento, alguns professores gastam o tempo dos colegas com certos "relatos de experiências" que não contribuem para absolutamente nada. E isso acontece porque os instrumentos regulatórios da qualidade das instituições de ensino pedem curriculos empapados de "participações em eventos".
Por paradoxal que pareça, não é todo militante da academia que tem talento para a discussão intelectual. Mas precisa mostrar serviço para o coordenador, que precisa mostrar serviço para a instituição, que tem que prestar contas para o MEC. No final, o que a universidade X vai usar, nos seus discursos de formatura, é que "nossos professores participaram de 160 eventos durante o ano". Mas vá saber se algum deles contribuiu com alguma coisa melhor do que uma conversa fiada na lanchonete do fórum.
Como sou coruja, não resisti a ficar apenas no meu grupo de trabalho - Ética e Teoria da Comunicação - e tentei assistir a participação de Rafael, Thays e Maura nas outras salas. Dessa circulação, dá para tirar algumas conclusões:
* Muito do que se diz e se apresenta como proposta séria de pesquisa é coisa de piá de prédio: leituras coloridas dos teóricos mais pop da Comunicação com a nítida intenção de misturar a diversão do final de semana com a proposta pedagógica.
* Por incrível que pareça, ainda há uma distância abissal entre o mercado real de trabalho e a perspectiva acadêmica geral. Boa parte dos professores - principalmente da escola pública - olha com desdém a prática mundana do jornalismo. Alguns defendem, inclusive, que o ensino da profissão se resuma a debates teóricos. Isso seria anacrônico mesmo que garantíssimos professores com leitura profunda e atualizada das teorias. Mas é muita hipocrisia defender que temos um quadro docente geral, nas instituições públicas, privadas, confessionais e comunitárias do país, que dê conta do recado. Nas duas intituições privadas em que trabalhei com Jornalismo, em Curitiba, vi bibliografias, armadas por colegas, que se baseavam em livros de auto-ajuda e títulos como "O Que é Comunicação", do Juan Diaz Bordenave, cuja última edição ainda contém um trecho clamando o videocassete como "uma realidade no Brasil".
Mas há algo mais danoso nessa postura: encarcerar o ensino superior nos seus próprios limites, como se não houvesse obrigação de diálogo com a sociedade. Ora, já que tratamos de Jornalismo, é preciso encarar os fatos com toda a fuligem que por ventura tenham: hoje formamos 8 vezes mais jornalistas do que o número de jornalistas com carteira assinada no Brasil. Não é obrigação da escola desenvolver novas formas de atuação? E entender o mercado não é um passo para isso?
Tem outro problema. A distância entre academia e mundo do trabalho libera os profissionais a praticarem iniquidades ou abandonarem a busca por qualidade. Recentemente ouvi de um (eficiente) editor que certa reportagem deveria usar mais "fontes qualificadas, ligadas a insituições" e "gastar menos espaço" com o depoimento das vítimas de determinada desgraça, pois "essas pessoas não têm preparo para discutir o assunto". Não parece que esse é um assunto superado? Pois é, não. Talvez já se configure carne de vaca na sala dos professores de Jornalismo das faculdades, mas na maior parte das redações o senso comum ainda ajuda a afundar o negócio do jornalismo. Veja, nem é uma questão moral. Trata-se, antes do exame da caixa de Pandora, de uma missão bem simples: garantir que o jornalismo seja consumido pelas pessoas. E daí pratique seu papel de "nó da tessitura da existência".
* Isso provoca outra distorção. Um certo complexo de inferioridade em relação à Sociologia e a Filosofia acaba levando vários professores a transformar assuntos simples e objetivos em caleidoscópios pseudo-intelectuais, cheios de rococós e referências desconexas. Por exemplo: o assunto é ensinar a escrever. O caminho: uma discussão sobre a materialidade do eu em face das possibilidades dialógicas da imprensa como co-retorno da esfera pública.
* O que deve acontecer, imagino, por falta de dados objetivos que apontem os caminhos da pesquisa. E aí vem a parte boa.
* No grupo de trabalho do Rafael, o professor Elias Machado, da UFSC, parecia bem empenhado em dar um caráter objetivo para as pesquisas. Começou um mapeamento dos bolsistas do CNPQ no Brasil. A idéia é descobrir a produtividade e relevância do trabalho desenvolvido pelos doutores que são beneficiados pelos recursos públicos.
* Percebemos também que o o novo presidente do FNPJ, Edson Spenthof (da Federal de Goiás), tem a enxada e o quintal para carpir. Na sua fala (ele era o mediador do meu grupo) deixou claro que se sentia "longe da hegemonia". Ah, doces palavras. Não que sempre a maioria esteja enganada. Mas, em geral, o bandwagon aponta para o banal, como bem sabemos. Ele não trata com soberba nem o colega que apresentou uma curiosa fala sobre espionagem empresarial e até citou o site da CIA como referência...
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Na longa, mas divertida viagem de volta, dirigi por horas, na boca da madrugada, com o canto perpétuo dos meus colegas. Jogamos um qual é a música que resultou na constatação de que a professora Maura Martins tem o maior repertório de canções da história. Alguém que transita tranquilamente entre Maria Bethânea, marchas de Carnaval de Porto Alegre (!), Madonna, David Bowie e pérolas musicais que incluem versos como aquele que descreve o He-Man como um "gato alto astral".
Na foto, professor Rafael relembra versos tocantes de Paulo Ricardo e Sérgio Malandro em uma pizzaria da Consolação.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Essa fotenha do Rafael!!!

16/5/08 16:49  

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