DEVERIA HAVER UMA LEI QUE PROTEGESSE NELSON RODRIGUES!
Minha observação corre sério risco de ser injusta, já que, por causa do tempo disponível, vi poucas peças até agora.
Mas há algo terrivelmente conservador vibrando pelo Festival de Curitiba, como um vento encanado.
Comprei ingresso para oito peças da assim chamada Mostra Contemporânea de Teatro. Depois da quarta, resolvi prestar atenção nos endereços de apresentação. Notei algo muito pouco contemporâneo: todas em palco italiano.
Claro que teatro é negócio de intelectual ou artista e essas duas categorias, com frequência sazonal, cansam das tentativas de ousadia e saem por aí dizendo que "o retorno é moderno". Talvez seja isso. Palco italiano é a coisa mais moderna que existe!
Mas, como disse meu amigo Gustavo Scheffer, na saída de um tanto decepcionante meio-espetáculo de Gerald Thomas, "moderno, para mim, é coisa do século 19".
Também me impressionou a generosidade de muitos colegas em relação às peças. Tudo bem dizer que os artistas estão lá fazendo um trabalho de investigação, que o juízo crítico depende de nuances de repertório, condições subjetivas, o escambau.
Mas concluir que aquela montagem de Vestido de Noiva, dos Satyros, é "original"? Ou mais, "sensacional!", como ouvi de alguns?
Temos todo o respeito pelo grupo, que faz um trabalho reconhecido nacionalmente lá na praça Roosevelt, e ainda com o Ivam Cabral, que nos deu a honra de aceitar o convite do Holofote e conceder entrevista lá na Unibrasil. Só que o lance todo não passou muito do amadorismo.
"Achei muito interessante o recurso do vídeo", disseram uns dois. Bom, talvez devêssemos proporcionar mais variedade teatral em Curitiba, pois, no mínimo, temos o Paulo Biscaia fazendo isso - e muito melhor - há bastante tempo. Um vídeo com a deslocada e "cool" música pop cabeça numa espécia de intermezzo da peça parecia muito com clipe de empresa de formatura.
"A interpretação de Norma Bengell é incrível". Bom, comedida talvez seja suficiente.
"Há uma interatividade com o público". De fato, não há. Não há "quebra de quarta parede" no espetáculo, pelo menos não no nível de espetáculos lá dos anos... 40, quem sabe. Aquela bola constrangedora passeando gratuitamente pela platéia chega a justificar vandalismo.
Enfim, os atores andavam a esmo pelo procênio, sem nenhuma intenção cênica. O toque gay dos camaradas vestidos com um avental de açougueiro ou metalúrgico, sei lá, soou, de novo, frágil e insuficiente. O Travesti World Fashion Poor Metaphor do "gran finalle", com todo mundo vestido de noiva, é a típica coisa para adolescente dizer "genial, genial". O mesmo que diz "genial, genial" para videoclipe do Charlie Brown Jr.
Ahhhh, e olhe que não falei de Júpiter...
Talvez a peça que melhor justificou meu trintão de ingresso tenha sido Mãe Coragem, do Armazém + Louise Cardoso. Ainda assim, não foi exatamente memorável. Algumas ótimas soluções em um elenco irregular. Passamos por alguns sofrimentos: aquele narrador "arqueólogo" (ah, o reino da metáfora barata!) e a interpretação musical. Havia uma cantora que se destacava. Uma grande voz (no volume, pelo menos). Por isso mesmo, um fiasco. Como o restante do elenco cantava, no máximo, "direitinho", quando a mulher soltava a garganta, parecia uma eliminatória do American Idol.
Oh, Deus, como sou rabugento de manhã...
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O bocó da foto sou eu, interpretando alguma coisa para meu falecido tio Acelino, na varanda que parecia um palco italiano, naquele bairro de PG que tem o sinistro nome de "31 de Março". A cena deve ter acontecido em 1975 ou imediações.
O bocó da foto sou eu, interpretando alguma coisa para meu falecido tio Acelino, na varanda que parecia um palco italiano, naquele bairro de PG que tem o sinistro nome de "31 de Março". A cena deve ter acontecido em 1975 ou imediações.