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Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

quinta-feira, março 27, 2008

DEVERIA HAVER UMA LEI QUE PROTEGESSE NELSON RODRIGUES!


Minha observação corre sério risco de ser injusta, já que, por causa do tempo disponível, vi poucas peças até agora.

Mas há algo terrivelmente conservador vibrando pelo Festival de Curitiba, como um vento encanado.

Comprei ingresso para oito peças da assim chamada Mostra Contemporânea de Teatro. Depois da quarta, resolvi prestar atenção nos endereços de apresentação. Notei algo muito pouco contemporâneo: todas em palco italiano.

Claro que teatro é negócio de intelectual ou artista e essas duas categorias, com frequência sazonal, cansam das tentativas de ousadia e saem por aí dizendo que "o retorno é moderno". Talvez seja isso. Palco italiano é a coisa mais moderna que existe!

Mas, como disse meu amigo Gustavo Scheffer, na saída de um tanto decepcionante meio-espetáculo de Gerald Thomas, "moderno, para mim, é coisa do século 19".

Também me impressionou a generosidade de muitos colegas em relação às peças. Tudo bem dizer que os artistas estão lá fazendo um trabalho de investigação, que o juízo crítico depende de nuances de repertório, condições subjetivas, o escambau.

Mas concluir que aquela montagem de Vestido de Noiva, dos Satyros, é "original"? Ou mais, "sensacional!", como ouvi de alguns?

Temos todo o respeito pelo grupo, que faz um trabalho reconhecido nacionalmente lá na praça Roosevelt, e ainda com o Ivam Cabral, que nos deu a honra de aceitar o convite do Holofote e conceder entrevista lá na Unibrasil. Só que o lance todo não passou muito do amadorismo.

"Achei muito interessante o recurso do vídeo", disseram uns dois. Bom, talvez devêssemos proporcionar mais variedade teatral em Curitiba, pois, no mínimo, temos o Paulo Biscaia fazendo isso - e muito melhor - há bastante tempo. Um vídeo com a deslocada e "cool" música pop cabeça numa espécia de intermezzo da peça parecia muito com clipe de empresa de formatura.

"A interpretação de Norma Bengell é incrível". Bom, comedida talvez seja suficiente.

"Há uma interatividade com o público". De fato, não há. Não há "quebra de quarta parede" no espetáculo, pelo menos não no nível de espetáculos lá dos anos... 40, quem sabe. Aquela bola constrangedora passeando gratuitamente pela platéia chega a justificar vandalismo.

Enfim, os atores andavam a esmo pelo procênio, sem nenhuma intenção cênica. O toque gay dos camaradas vestidos com um avental de açougueiro ou metalúrgico, sei lá, soou, de novo, frágil e insuficiente. O Travesti World Fashion Poor Metaphor do "gran finalle", com todo mundo vestido de noiva, é a típica coisa para adolescente dizer "genial, genial". O mesmo que diz "genial, genial" para videoclipe do Charlie Brown Jr.

Ahhhh, e olhe que não falei de Júpiter...

Talvez a peça que melhor justificou meu trintão de ingresso tenha sido Mãe Coragem, do Armazém + Louise Cardoso. Ainda assim, não foi exatamente memorável. Algumas ótimas soluções em um elenco irregular. Passamos por alguns sofrimentos: aquele narrador "arqueólogo" (ah, o reino da metáfora barata!) e a interpretação musical. Havia uma cantora que se destacava. Uma grande voz (no volume, pelo menos). Por isso mesmo, um fiasco. Como o restante do elenco cantava, no máximo, "direitinho", quando a mulher soltava a garganta, parecia uma eliminatória do American Idol.

Oh, Deus, como sou rabugento de manhã...
*

O bocó da foto sou eu, interpretando alguma coisa para meu falecido tio Acelino, na varanda que parecia um palco italiano, naquele bairro de PG que tem o sinistro nome de "31 de Março". A cena deve ter acontecido em 1975 ou imediações.

9 Comments:

Anonymous Anônimo said...

E aquele "ela venceu", no fim da Mãe Coragem? Poderia muito bem ter precedido de um "ei, idiotas.."

E olá, Victor.

28/3/08 00:00  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Olá, Breno!
Ontem vi Metegol, com a Intrépida Trupe. E foi muito legal! Hoje e amanhã veremos Salmo 91 e Natimorto (não lembro a ordem). Vai a algum desses?
Abraços,
Victor.

29/3/08 09:06  
Anonymous Anônimo said...

Natimorto? Lamentei estar sentado na frente daquele palco durante os 60 minutos da peça. Só se salvou a associação das fotos da carteira de cigarro com as cartas de tarô. Fui só eu que senti a falta de um final para a história, ou estou sendo muito exigente?

A seleção da Mostra Oficial do ano passado estava muito melhor. Não consigo nem imaginar a qualidade do Fringe deste ano... uuuuu!

30/3/08 15:37  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Jaime Tódico.
Vou para o Natimorto agora.
Faça uma prece para mim, como aquelas da Maddona ou do Terence Trent Darby (Deus, essa é do balacobaco!).
Abraços.
V.

30/3/08 19:20  
Anonymous Anônimo said...

Uh... esse comentário sobre o festival (e principalmente chamar Vestido de Noiva de amador) tá me cheirando coisa de candidato a crítico/dramaturgo frustrado. Quero ver seu trabalho com o Grutun, pra confirmar minha constatação.

31/3/08 11:38  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Olá, Fernando.
Desculpe,pode ser que eu não tenha compreendido a montagem de Vestido de Noiva, mas foi a forte sensação que me passou - e acho bem justo que as pessoas falem a respeito, até para que discordantes como você possam dar (e justificar) a opinião contrária, assinando inclusive com o nome verdadeiro (espero que seja o caso). Quem sabe contribuamos para que mais pessoas pensem na linguagem teatral, independentemente de como aproveitaram cada espetáculo e sem esse rancor corporativista de "uhh, não falem mal se não podem fazer". Se me permite, essa conversa de que qualquer comentário crítico indica frustração já era uma desculpa velha há trinta anos...
O Grutun! é um grupo universitário, sem pretensões do profissionalismo. E eu sou apenas o coordenador. As escolhas estéticas não são as minhas (embora eu as endosse, pois confio muito no diretor, Alex Wolf, que lida com 52 pessoas simultaneamente. Como você deve imaginar, um contingente desse tamanho, trabalhando de forma coesa há mais de um ano, dá um indício de eu não estou errado em confiar. Ninguém tem a ilusão aqui de, por ora, concorrer a prêmios ou "ensinar" profissionais a produzir teatro).
De qualquer modo, minha impressão melhorou muito nos últimos dias do Festival - o que eu já previra no post anterior. Ainda assim... só palco italiano!
Abraço,

31/3/08 15:00  
Anonymous Anônimo said...

Discordo de "desculpa velha há trinta anos". Pode ser há trinta anos ou mais. Porém velha é que não está, e sim atualíssima, não desgastada.
O problema não é falar mal de Vestido de Noiva, mas o fazer de forma incipiente, sem nexos, uma pseudo-crítica que faz rir. Chega a ser infantil, com todas as tolices que possam vir do lado negativo do termo. Também ingênuo de sua parte achar que um palco italiano não pode abrigar o moderno. Como aluno da Unibrasil, procurarei não dar mais ouvidos às suas bobagens. Se é que alguém que realmente importa o faz. E Viva o Teatro!!!

31/3/08 16:45  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Com todo o respeito, "Fernando". Há uma diferença muito grande entre "moderno" e "contemporâneo". E também acho que não faz sentido dizer que um formato é melhor ou "mais contemporâneo" que outro. Só que um festival se caracteriza pela diversidade de propostas. Eu acho o palco italiano excelente, mas fico um pouco chateado (quem sabe com o mundo, já que, segundo você, o problema não é do Festival) por não presenciar muita experimentação espacial nas peças que assisti nas duas semanas. Não pude ir ao Fringe - e sei que o grupo XIX, por exemplo, voltou a promover seu estilo particular de utilização do espaço cênico (que também não é novidade, pois já fizeram o mesmo com Hysteria e Hygiene). Mas, enfim, não queria magoar tanto assim seus sentimentos, tão regados a pontos de exclamação... Abraço e boa sorte com suas leituras.

31/3/08 18:03  
Anonymous Anônimo said...

ô Victor, faz um favor aí.

corrige o século 19 da minha fala. eu disse q moderno era coisa do século 18...

abraço

14/4/08 02:53  

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