NOVE DISCOS POP!
Listas que tentam consolidar os "grandes" discos pops de todos os tempos passeiam por aqueles títulos que todos conhecemos: Pet Sounds, Sargent Peppers, A Night at Opera, The Freewheelin' Bob Dylan, Thriller, Dark Side of the Moon, Layla, Exile on Main Street, Ziggy Stardust, Paranoid, Hot Rats, Are You Experienced?, Ramones, Nevermind, etc. etc.
Estou muito longe de ser um especialista, mas tenho me esforçado para ouvir pacientemente discos de todo tipo de música pop, tentando compensar uma clara deficiência no meu repertório. Para se ter uma idéia, provavelmente não vou identificar o Oasis se estiver tocando no rádio (e ainda acho que não faz a menor falta). Para mim, Pearl Jam e música sertaneja são razoavelmente parecidos (e não tenho nada contra nenhum dos dois, só acho que o jeito do Eddie Veder cantar lembra o João Mineiro, aquele da dupla com o Marciano).
O que torna bom um disco pop? Tenho a impressão que é uma certa afetação, pois certamente não existe cultura pop sem cheep thrills, o que é sua fortuna e desgraça. Mas muita afetação é insuportável. Por isso Led Zeppelin IV, olhado sem devoção, é um disco chato e datado. Muita pretensão, muita pseudo-metafísica e aquele tom elegíaco que afunda bandas tão diferentes quanto The Verve e, sei lá, Rush ou Dream Theatre.
Talvez o que faça dos discos pop mais saborosos os marcos culturais que são é o sarcasmo. A aceitação da emoção barata como diálogo com a juventude. Mas com ironia, com auto-comiseração, com sofrimento ou felicidade exagerados. O que torna tudo leve, descartável, divertido e sublime.
Ultimamente, meus discos pop favoritos são:
I WANT TO SEE THE BRIGHT LIGHT TONIGHT, de Richard e Linda Thompson (1974). Alguém escreveu que Richard Thompson é o "Coltrane da guitarra", o que me pareceu bem sem propósito. A comparação deve se pautar na fé muçulmana do cantor/compositor, conversão adotada também pelo saxofonista de jazz. Mas esse tipo de raciocínio pode nos levar a dizer que Saddan Hussein era o "Coltrane dos ditadores" e que Karin Abdul Jabah era o "Coltrane do basquete". Richard e Linda são um casal, o que nos dá arrepios, certamente. Coisa tipo James Taylor & Carly Simon ou Jane & Erondi. Mas não se engane. Não há nada místico ou tolamente romântico nesse disco sensacional. A canção-título, aliás, é deliciosamente grudenta e apropriada para a sexta-feira: "I so tired of working every day..."
RUMORS, do Fleetwood Mac (1977). Eu evitava, evitava. Lembrava de uma sensação meio ruim de quando era adolescente, posava de mau e alternativo, e considerava Fleetwood Mac música de elevador. Hoje percebo que esse provavelmente é o disco pop perfeito. Todas as canções são excelentes, a qualidade da produção é de tirar o fôlego. Há o cinismo, há a autobiografia (chama-se Rumores porque a banda, formada por casais, passava por uma crise envolvendo separação, brigas de ego, rancores, etc.). Aqui no Brasil nunca foi tão popular, mas o Paulo Camargo - que morou nos EUA durante bastante tempo - me disse que na América do Norte os camaradas são venerados até hoje. Não é a toa que Rumors é um dos discos mais vendidos de todos os tempos. Quando você ouve "The Chain", por exemplo, até engole o estilão hippie-fugida-da-FAP de Stevie Nicks.
TRES HOMBRES, do ZZ Top (1973). Sujo, com solos de guitarra, músicas cínicas e um jeito de motocicleta-asfalto e paisagem desértica. Simples, direto, meio malvado e com o grande riff de todos os tempos em "La Grange".
THE ALLMAN BROTHERS BAND LIVE AT FILLMORE EAST (1971). Wow! Sempre achei blues branco um sofrimento e confesso fugir da maioria dos discos do Eric Clapton e de todos do Johnny Winter como o Cascão foge do banho. Mas, cara, esse disco é sensacional. Talvez seja o som da guitarra. Cheio, redondo, pungente e muito parecido, às vezes, com o grave de uma harmônica. As letras são de blues. Ou seja, gente se lamentando com um sorriso no canto da boca.
ONE WORLD, de John Martyn (1977). Canções hipnóticas, entoadas no estilo arrastado, intoxicado, desse John Martyn, e gravadas de maneira muito inusitada. Os produtores trabalharam à noite, ao ar livre, e captaram a voz de Martyn do outro lado de um lago. Então há sons esquisitos entre o microfone e o canto. Nem todas as faixas me carregam o coração, mas pelo menos as quatro primeiras são de se ficar repetindo centenas de vezes.
MUSIC FROM THE PENGUIN CAFE, The Penguin Cafe Orchestra (1976). Segundo o "1001 discos para se ouvir antes de morrer", o líder Simon Jeffes teve a idéia do álbum depois de sofrer alucinações provocadas por um peixe estragado que comeu na França. É alternativo, sem dúvida, mas é delicioso de se ouvir, especialmente a primeira faixa. Algumas músicas são cantadas, mesmo que a letra se resuma a uma única palavra (como "Milk").
SMILE, de Brian Wilson (2004). Nem vou escrever muito, pois esse é outro daqueles normalmente citados como os grandes discos de todos os tempos. Não sei se ouvi um disco pop mais do que Smile e hoje tenho certeza que não gosto de todo ele. Mas do que eu gosto, I really do. Não precisaria de mais nada se ficasse só em Heroes and Villains, Vega-Tables, Surfs Up e o clássico dos clássicos, Good Vibrations.
BRIAN WILSON LIVE AT ROXY THEATRE (2002). Quando escuto a versão original de "Don´t worry, baby", ainda com os Beach Boys, sinto que algo ficou lá nos anos 60. Talvez seja aquele efeito de voz no verso "I don´t know how long..." O Brian Wilson velho, depois de uns quinze anos de loucura e afastamento, não alcança as notas. A voz falha. E é por isso que é melhor. Tem algo muito vivo, emocionante e verdadeiro nessas gravações que pegam, talvez, o melhor que o rock já produziu em arranjo e letra. Wilson é um gênio, sem dúvida, e sabe escolher uma banda. O disco duplo acaba e você começa tudo de novo, "lying in bed, like Brian Wilson did..."
THE WHO LIVE AT LEEDS (1970). Para muitos, o melhor disco ao vivo da história do rock. Vá saber! O fato é que é quente. Keith Moon enlouquecido. Pete Towsend comentando precisamente, no dedilhado furioso e lírico, as letras agressivas gritadas pelo Roger Daltrey. A capa é um desperdício de feiúra. Talvez outros discos ao vivo seja tão bons ou melhores que esse. Mas provavelmente o Who nunca fez um trabalho tão bom.
Quais são os seus?