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Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

CARTA ABERTA A ALUNOS DA UNIBRASIL!


Eu e professora Maura Martins (aí no alto, durante o último Tribunal do Júri da Indústria Cultural) redigimos uma carta de boas-vindas para os alunos de Jornalismo da Unibrasil. Foi publicada no site do Cepjor: http://jornal.unibrasil.com.br/

Lá, você também se diverte com a estréia do Felipe Harmata Marinho como repórter do Papo Mínimo. Segue a carta:

Bem-vindos a 2008!
Esse será um ano muito especial para o curso de Jornalismo.
A cada semestre, encontramos novas soluções e aprimoramos a qualidade que está no Jornalismo da Unibrasil desde sua origem.
A preocupação com a comunidade, o olhar humanístico, a excelência técnica, o corpo docente extraordinário, as atividades de extensão... a cada mês procuramos lapidar, consertar, promover novidades e construir a melhor formação que um jornalista pode ter no estado do Paraná.
Qualquer esforço, no entanto, seria inócuo, se não contássemos com a qualidade de nossos alunos. Se procuramos exigir, é porque confiamos na disposição de toda a comunidade de construir um projeto do qual vamos nos orgulhar para sempre.
Algumas de nossas posturas precisam sempre ser reforçadas. O que nos remete ao orgulho.
A Unibrasil caminha para se tornar Centro Universitário, o que, entre outras inúmeras vantagens, valoriza o diploma de cada um de seus alunos.
Para alcançar esse status, nossa produção científica e de extensão deve se aprofundar, aproveitando uma vocação que já faz parte da gênese da instituição.
O Plano Pedagógico Institucional, elaborado recentemente, é muito claro em relação a esses objetivos. E o curso de Jornalismo não só apóia como já vem se esforçando para cumprir as metas.
Por isso, o documento que tem em mãos serve como esclarecimento da conduta da coordenação, dos professores e dos alunos que escolheram desenvolver seus projetos pessoais na Unibrasil.
Em primeiro lugar, o critério mais importante de distinção, na Unibrasil, é o mérito acadêmico. Ou seja, nossos professores e alunos são avaliados por sua produção intelectual, acima de quaisquer outras características. Sem dúvida, o curso de Jornalismo valoriza muito a experiência profissional – tanto que insistimos na contratação de professores que aliem currículo no campo de trabalho e na docência. Mas a formação acadêmica é prioridade.
Nossa perspectiva é clara: o curso de Jornalismo não deve “imitar” as regras do mercado convencional de jornalismo. Deve absorver suas necessidades, mas propor outras experiências, outras perspectivas.
A tomada de postura a esse respeito não é intuitiva nem meramente movida pela necessidade de marketing. Ela vem da análise cuidadosa das exigências que o Ministério da Educação e os principais instrumentos avaliadores requerem no Brasil atualmente.
Os cursos de Comunicação melhor estrelados no Guia Abril e os que tiveram melhores notas no Enade são claramente pautados por essas preocupações. Têm mais produção científica, mais interdisciplinaridade, são muito exigentes com os alunos e intolerantes com mediocridade e desonestidade. Ao mesmo tempo, são os que melhor encaminham seus formados no mercado de trabalho.
Também convém explicar que a Unibrasil apóia a política de avaliação realizada pelo Ministério da Educação. Podemos discordar da precisão dos mecanismos de avaliação, mas sem dúvida o esforço do governo tem sido salutar para disciplinar e promover saudável concorrência entre os cursos superiores no país. Alunos e professores devem manter suas posturas críticas em relação aos instrumentos avaliativos, mas sempre na perspectiva de contribuição pública para seu desenvolvimento.
O que nos leva a outra questão. O que faz de um curso superior “bom” ou “excelente”?
A qualidade das aulas nem deve ser tratada como “diferencial”. É nossa obrigação. E ela começa com cumprimento dos horários, do calendário, dos planos de ensino e da exigência dos professores. Gradativamente, os docentes de Jornalismo vêm sendo estimulados a exigir mais de nossos alunos.
Mas, compreensivelmente, uma mudança satisfatória leva um tempo e um reflexo disso é a alta média de nossos alunos. No último semestre, a média geral foi 7,09. A tendência é que essa média baixe.
Bom treinamento, no entanto, não resume a formação de um estudante. Precisamos da tal “produção acadêmica”. Um bom professor deve se preocupar com suas habilidades pedagógicas, capacidade de motivar os alunos, etc., mas deve, principalmente, produzir conhecimento. Deve ser um intelectual. Se o seu professor é capaz de contribuir intelectualmente – de forma pragmática, inclusive – para o desenvolvimento da profissão, ele está cumprindo com sua obrigação. “Ensinar” a repetir fórmulas do mercado é pouco.
Por isso, todos os professores de Jornalismo, a partir do primeiro semestre de 2008, deverão investir na própria formação e na publicação de artigos científicos.
Muitos alunos vão argumentar – e com razão – que o nosso perfil discente encontra muitas dificuldades para cumprir um programa como esse. São, na sua maioria, trabalhadores e ocupam quase todo o tempo disponível com a busca pelo sustento. Há também a precária formação elementar. Não é segredo que o domínio geral da língua é menos que satisfatório. O conhecimento científico de boa parte dos alunos é pequeno demais para nos precaver da pseudociência e da superstição.
Mas aí é preciso deixar alguns pontos muito claros: em primeiro lugar, a única forma de um trabalhador conquistar um espaço digno na sociedade é através do esforço de formação. Claro que outras variáveis contam no sucesso do empreendimento, mas o mínimo que pode se esperar de quem está disposto a uma profissão é o empenho. Por isso, não há nenhuma chance de os professores “aliviarem” ou “facilitarem” a vida dos estudantes por causa de suas condições econômicas e sociais. O aluno que vem para a aula de helicóptero e o que vem de carrinho de papel são exigidos igualmente no curso da Unibrasil.
Talvez valha a pena lembrar que alguns dos melhores jornalistas (senão profissionais de quaisquer áreas) de todos os tempos vieram justamente das camadas mais pobres da sociedade – o que os ajudou, inclusive, a compreender o universo da notícia de maneira exemplar. O que não podemos esquecer é que, como diz Richard Dawkins, “não há almoço grátis na natureza”. A idéia original da frase não é, nem de longe, inibir a solidariedade. É mostrar que tudo tem um custo. No nosso caso, é o esforço.
Quanto à formação: juntos, professores e coordenação, elaboramos uma série de atividades e procedimentos para atenuar algumas de nossas deficiências. Elas tendem a melhorar o domínio da linguagem e o conhecimento científico. A Cesta Cultural passa a agregar artigos de Ciência. Além disso, todo trabalho, a partir de agora, será entregue nas regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas – o que familiariza o estudante com a organização do método.
Reforçamos aqui outro ponto fundamental. A desonestidade é intolerável. Qualquer plágio ou tentativa de enganar a comunidade acadêmica, seja em provas, reportagens ou pesquisas, ou ainda na falsificação de documentos, serão punidos exemplarmente. Não se pode admitir um jornalista que não tenha a ética como parâmetro fundamental.
Além da honestidade, também gostaríamos de apontar para o ceticismo. Os alunos que já passaram por algumas disciplinas conhecem criticamente a situação vergonhosa de parte da imprensa. Muitos de nossos veículos de comunicação agendam futilidades e evitam assuntos polêmicos; são coniventes com um pensamento conservador e, muitas vezes, criminoso; e demonstram, em geral, total desapego à precisão e ao cuidado com as notícias.
Um bom jornalista duvida o tempo todo e recorre a provas para confirmar até mesmo suas convicções. A prática do ceticismo é salutar, mesmo que isso custe, aos olhos da família e dos amigos, um certo ar de antipatia. Jornalista não serve para panfletar. Ele apura, ele verifica, ele mostra. O discurso fora de lugar empobrece a informação e desdenha do leitor, ouvinte ou espectador.

Sem dúvida, a manifestação política é pilar fundamental na democracia. No jornalismo, ela tem lugar inequívoco, mas nunca deve ultrapassar o princípio da isonomia e da apuração dos fatos. Quando o fato prejudica sua posição política, é ele que deve prevalecer. Os melhores e maiores jornais do mundo praticam essa leitura do jornalismo. E é por isso que formam opinião.
Há alguns assuntos, no entanto, que não podem ser acobertados pela intransponibilidade da “opinião”. Homofobia, racismo, sexismo, preconceitos de qualquer tipo são intoleráveis. Ninguém, nessa instituição pautada pelo pensamento republicano e secular, tem o direito de esconder seus preconceitos atrás da máscara da “opinião”. Não importa o que sua formação ou religião diz: valem os preceitos da Constituição brasileira.
Aliás, todo discurso tem seu espaço na sociedade e realmente precisamos respeitar as várias formas que a cultura adota para explicar o mundo. Mas o ensino superior é pautado pela Ciência. Ou seja, o senso comum e o pensamento dogmático só são válidos como materiais de análise, nunca como explicação. A Ciência comete erros, sem dúvida, mas trabalha com suas próprias limitações e não há, na história da Humanidade, nenhum recurso material que ultrapasse o pensamento científico como veículo de progresso e melhoria das condições de vida das pessoas.

E no curso de Jornalismo, quem tem voz? Todos, mas se quiserem uma ordem de “fala”, apelemos para o mérito acadêmico.
O mérito começa no hábito de leitura, que amplia sua visão. Por “leitura”, entenda mais do que o consumo de literatura (que é fundamental). A vivência crítica de todo tipo de experiência saudável é fundamental. E continua no esforço de estudar. Lembre-se: estudar não é diversão, embora traga felicidade posterior. Estudar é difícil, cansa, rouba nosso tempo livre. Mas não se pode ter sucesso sem estudar – não nesse ramo.
Para concluir: aluno não é cliente. O argumento de que você “paga” e por isso tem esse ou aquele direito não é válido. A relação entre professor e aluno não é comercial.

Um abraço e ótimo ano letivo!

Victor Emanoel Folquening
Coordenador

Maura Oliveira Martis
Coordenadora adjunta

1 Comments:

Blogger JuMotta said...

Professor!

Parabéns por alimentar ideais inteligentes no curso na Unibrasil. Fico feliz pelos alunos que têm a oportunidade de desfrutar um curso em que a prioridade é a produção intelectual “acima de quaisquer outras características”.

Até hoje lamento muito a sua saída do UnicenP.

Grande Abraço,

Juliana

1/3/08 11:12  

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