O AVATAR # 13! Rocky Ombro na Terra do Senso Comum
O Avatar foi convocado para resolver um caso de assassinato numa universidade. “Quem é você?”, perguntou o diretor Clóvis Sardinha, “de onde tirou a informação sobre o crime?”. Rocky Ombro não entregou o jogo. Alguém havia assoprado a dica enquanto o detetive dormia. Alguém que não estava entre os vivos. Alguém que talvez estivesse mal informado. “Sinto muito”, completou o diretor, “não houve um assassinato aqui”. Ombro acendeu o cigarro para disfarçar o meio-sorriso irônico: “Isso é o que veremos”.
Não era um bom momento para uma investigação criminal. A instituição estava em polvorosa. Membros do Sindicato do Senso Comum – o Sisco – organizavam uma manifestação contra o “abuso da ironia e do humor” e da realização de atividades “que os sindicalizados não conseguem compreender e por isso só podem estar erradas”, como dizia a nota distribuída pelos fanzines dos alunos recrutados para a causa.
Andando a esmo pelo campus, Rocky bateu em uma porta que pareceu a mesma do sonho. Era retangular e tinha uma maçaneta. Embora nem a cor, o número pendurado ou sequer a própria maçaneta fossem os mesmos da visão noturna, o detetive presumiu que era um sinal.
Um grunhido passou pela fresta:
“A senha!”
Rocky já tinha enfrentado uma gangue de professores antes. Há um código no submundo que qualquer policial conhece de cor e salteado.
“Paulo Freire!”
A porta nem se abriu completamente e já se ouvia aplausos lá de dentro. O porteiro era o jornalista Valdomiro Rosário, famoso pela sua tese de que, em Cuba, todos os objetos são de madeira, inclusive o aeroporto e os aviões.
“Também está ameaçado de demissão?”, disse, entredentes, o anfitrião.
Ombro resolveu embarcar no logro:
“Sim, eu defendi publicamente que devemos retirar a leitura e qualquer menção à arte no currículo dos cursos universitários. Abaixo a opressão!”
A pequena platéia de professores e alunos semi-nus, que serviam vinho em cântaros, esperou um segundo e bradou, entusiasmada, o novo bordão de guerra do Sisco:
“Caveira!”
Uma névoa quente preenchia a sala. Muito calor, como numa sauna. Um dos meninos, magrinhos, coberto apenas por um tecido arranjado como toga romana, trouxe um pedaço de queijo e um documento de quatro ou cinco páginas.
“É o Manifesto Canavieiro”, explicou com um esplendoroso sorriso de devoção.
Ombro já tinha lido o rol de reivindicações. Um daqueles professores, reconhecia agora, havia sido processado por plágio continuado. Conseguiu chegar ao doutorado copiando textos da internet. Eis que o Manifesto Canavieiro era justamente a dissertação de Mestrado de cinco docentes.
O primeiro item:
Quatro patas, bom. Duas patas, ruim.
Não era um bom momento para uma investigação criminal. A instituição estava em polvorosa. Membros do Sindicato do Senso Comum – o Sisco – organizavam uma manifestação contra o “abuso da ironia e do humor” e da realização de atividades “que os sindicalizados não conseguem compreender e por isso só podem estar erradas”, como dizia a nota distribuída pelos fanzines dos alunos recrutados para a causa.
Andando a esmo pelo campus, Rocky bateu em uma porta que pareceu a mesma do sonho. Era retangular e tinha uma maçaneta. Embora nem a cor, o número pendurado ou sequer a própria maçaneta fossem os mesmos da visão noturna, o detetive presumiu que era um sinal.
Um grunhido passou pela fresta:
“A senha!”
Rocky já tinha enfrentado uma gangue de professores antes. Há um código no submundo que qualquer policial conhece de cor e salteado.
“Paulo Freire!”
A porta nem se abriu completamente e já se ouvia aplausos lá de dentro. O porteiro era o jornalista Valdomiro Rosário, famoso pela sua tese de que, em Cuba, todos os objetos são de madeira, inclusive o aeroporto e os aviões.
“Também está ameaçado de demissão?”, disse, entredentes, o anfitrião.
Ombro resolveu embarcar no logro:
“Sim, eu defendi publicamente que devemos retirar a leitura e qualquer menção à arte no currículo dos cursos universitários. Abaixo a opressão!”
A pequena platéia de professores e alunos semi-nus, que serviam vinho em cântaros, esperou um segundo e bradou, entusiasmada, o novo bordão de guerra do Sisco:
“Caveira!”
Uma névoa quente preenchia a sala. Muito calor, como numa sauna. Um dos meninos, magrinhos, coberto apenas por um tecido arranjado como toga romana, trouxe um pedaço de queijo e um documento de quatro ou cinco páginas.
“É o Manifesto Canavieiro”, explicou com um esplendoroso sorriso de devoção.
Ombro já tinha lido o rol de reivindicações. Um daqueles professores, reconhecia agora, havia sido processado por plágio continuado. Conseguiu chegar ao doutorado copiando textos da internet. Eis que o Manifesto Canavieiro era justamente a dissertação de Mestrado de cinco docentes.
O primeiro item:
Quatro patas, bom. Duas patas, ruim.
**
continua...