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Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

sexta-feira, agosto 04, 2006

O AVATAR # 9! Talvez Ombro precise se fingir de louco para resolver essa

Episódio de hoje: "Há algo de podre no 77o DP"

O tenente Hernandez Lopez chegou de olhos vermelhos. Na sua mesa, um porta-retratos exibe aquele que mais ama, aquele que espera todos os dias para beijar e sentir descer escorregando pela garganta, tão doce e espoleta que é: Jack. Jack Daniels.
“Eu posso parar a hora que quiser”, disse para o cachorro que o flagrou com o uísque nas mãos.


O chefe acha, no fundo, que tem o direito de comemorar. Afinal, a delegacia está decorada para o lançamento do seu segundo livro: “Nossas Experiências Correcionais”. O tenente assina como organizador e com um texto revolucionário.
“Eu estou muito feliz de, mesmo fora da delegacia, contribuir com minha vivência do lado de cá das grades”, celebra a agora professora de português instrumental Rosimeri, tentando disfarçar as mangas curtas do casaco de soft que emprestara da filha. “Çolussões Para o Lotamento das Selas” abre o volume, seguido da contribuição feita pela detetive Xana: "Cumprindo a pena com Jesus, o carcereiro que escolheu nos amar".
Rocky Ombro não é do tipo que sorri por educação. “Tenente, li esse seu texto sobre o programa de fabricação de estiletes. Aqui não diz que é criação do falecido Peter Folk. Dá a impressão que foi o senhor que inventou”.
Lopez queria falar “ao pé do ouvido”, o que é bastante desagradável. “Nós achamos melhor não mencionar o Folk”, e deu uma pausa para lamber o pedaço de coxinha que havia grudado em sua barba, “traria publicidade negativa. Sabia que ele estava sendo processado por assédio sexual?”
Ombro se assustou. Folk não fazia o tipo desesperado. Será que o tenente não havia confundido com o recruta Colimério e suas mãos peludas? Além do mais, o departamento parecia ter uma política suave para esses assuntos. O próprio Lopez, por exemplo, era amante de uma funcionária e demitiu um subordinado porque ele fazia “brincadeiras ambíguas na frente da moça”.
“Uma das ex-detentas, a Sindy, alegou que ele estava manipulando os papéis para que ela continuasse presa mais três dias além da pena. Só pode ser porque ela recusou transar com ele”.
“Sindy? Aquela que usa uma camiseta decotada onde está escrito EAT ME?”
“Essa”.
“Sei. Ela trabalha lá na expedição agora, né?”
“Pobre anjinho. Ficou traumatizada. O pai da garota me disse que o Folk tirou a virgindade dela com o olhar”.
Ombro respeitava poderes telecinéticos. Mas algo naquela história não encaixava bem.
“Essa Sindy não foi presa por prostituição?”
A conversa foi interrompida por Colimério, que levantou a cabeça:
“Chá terminou, comandante? Pocho cushpir?”
hh
Mais tarde, em casa, Ombro procurava identificar o que parecia tão sem sentido na visível campanha empreendida contra o morto. Resolveu dar uma olhada no primeiro livro de Hernandez Lopez, um bem apanhado volume em que defendia a privatização da polícia. O título era sugestivo: “Vamos Deixar que os Ricos Decidam Quem vai Preso”.
Na obra, falava da beleza de celas mais confortáveis para quem pudesse pagar. “É a democratização do acesso à cadeia”, explicava na orelha. Fora isso, nenhuma pista. Ligou para Cassius, que dormia numa caixa no fundo da delegacia.
“Faz um favor pra mim? Vê se tem algum processo contra o finado Peter Folk”.
Quinze minutos depois, o agente dava o serviço: “Nada, detetive. Ninguém processou o camarada”.
“Te devo essa”.
“Ei, mais uma coisa. Sabia que o Folk se alimentava de cérebros de bebê?”
“De onde você tirou isso?”
“Colimério contou para a gente no refeitório noite passada. Mas não passe para frente. Ele só disse porque é nosso amigo, né?”
Rocky Ombro já havia visto Peter Folk comendo pierogui sem recheio, mas cérebro de bebê era um pouco demais.
Cansado de tanto pensar, O AVATAR se despediu de Elizabete, onde tinha apoiado os pés durante o telefonema, e foi para a cama.
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Um sonho enigmático tomou a noite.
O detetive estava numa espécie de torre falsa de vigia, como aquelas que enfeitam os restaurantes kitsch de Romeniatown. Havia neblina. Ele viu um vulto.
“Quem vem lá?”
A visagem vestia um sobretudo verde amassado. O rosto se escondia atrás dos óculos e de um chapéu de aba curta.
“Quem és tu que usurpas esta hora da noite da forma desleixada e fora de moda com que o sepulto detetive da 77a DP tantas vezes perseguiu e prendeu minorias?”, inquiriu O AVATAR.
“Me escuta, está quase na hora de voltar para o tormento das chamas do enxofre e eu nem tomei banho ainda”, impacientou-se o fantasma.
“Peter Folk! É você!”
“Não posso dizer que sou eu em carne e osso, mas sou eu”.
“Ah, meu amigo. Os salgados de vosso velório se tornaram os docinhos do lançamento de um livro picareta”.
“Cale-se. Se eu começar a encher teus ouvidos com as coisas que acontecem no limbo, arrancaria tua alma com a primeira palavra”.
“Desculpe, mas não consigo visualizar o que está dizendo”.
“Preste atenção. Divulgou-se que eu morri por causa de uma intriga amorosa e um processo por assédio sexual. Saiba que a serpente que espalhou esse veneno agora usa o meu próprio distintivo”.
“Xana!”
“Sim, essa besta incestuosa e adúltera. Com seu engenho maligno e dádivas de traição, empenha o poder de sedução para escapar impune”.
“Poder de sedução?”, pensou Ombro, “será que estamos falando da mesma pessoa?”
“Como morri logo depois de me masturbar pensando na Mara Maravilha, fui condenado a vagar por lojas de discos evangélicos até que meu assassinato seja vingado!”
“Não! Não me tortures com descrição de tamanho horror! Juro que serás vingado”.
“Vou te dar um telefone. Caso se perca ou não ache algum endereço, me ligue antes da meia-noite. Se não tiver na área de cobertura, mande uma mensagem que depois eu leio. O número é...”
Crash! Uma pedra arrebentou o vidro da janela e Rocky Ombro acordou. O objeto ainda ricocheteou no abajur e acertou o joelho do detetive. “Ai, ai, arde, arde!” Recomposto, recolheu a pedra. Havia um bilhete amarrado. “Era mais fácil me dizer, maldito hectoplasma”. Mas não era o telefone de Peter Folk. Tratava-se de uma carta com as letras recortadas de revista.
Não ce meta onde naum eh xamado.
Este eh o ultimo avizo. As. Eu mesma.
Hmm, quem teria enviado aquela ameaça? Certamente alguém ligado à principal interessada em manter ocultos os verdadeiros motivos do crime. Mas quem é ligado a Xana?
O próximo passo era claro para O AVATAR: Abrir o jogo com o tenente Lopez. E ele sabia exatamente onde encontrar o chefe naquela hora da noite. Um lugar onde não poderia levar seu amado Jack.

(continua)

No próximo episódio: O prédio que abriga os Alcoólicos Anônimos tem muitas portas. Algumas delas levam diretamente ao... perigo! Não perca: “Smoking, drinking, never thinking... on murder!”

11 Comments:

Anonymous Anônimo said...

O Hernandez Lopez podia perfeitamente defender a cota de 10% para brancos nos presídios em um de seus livros. Calma, tôlendo, tô lendo. Só comentei pra não esquecer a "sacadinha".

4/8/06 15:10  
Anonymous Anônimo said...

Eu tinha terminado de ler a outra e pensado que o melhor momento do Ombro foi o diálogo com a vagabunda no MCdracula.. é que eu n tinha lido o lance do Hamlet!!! Cada vez melhor

4/8/06 15:45  
Anonymous Anônimo said...

Realmente...

4/8/06 16:17  
Anonymous Anônimo said...

Tô pensando numa pesquisa: qual é o melhor personagem? Pra mim é o Colimério.. tem um filho da puta que trabalha comigo igual

4/8/06 16:23  
Anonymous Anônimo said...

Eu voto na Elizabete...
Mas... cadê a Pimenta? =)

4/8/06 16:27  
Anonymous Anônimo said...

Elizabete Ombro na cabeça. A idéia de escrever na bolha é muita sacada; já é um clássico
Depois da pesquisa do personagem vamos fazer da melhor frase. "O bar é onde a verdade vem chacoalhada numa coqueteleira". Heavy Metal!

4/8/06 17:26  
Anonymous Anônimo said...

Oi,
Localidade: Paris.
Vou ficar um mes no UK (sem casa) e depois volto (acho). Como vao as coisas? Ficou bem legal o blog, algumas ideias antigas.
Estou virada do avesso.
Beijos
Nefer

5/8/06 18:45  
Anonymous Anônimo said...

Melhor frase: "a cada ano, a nova geração de índios torna a anterior completamente obsoleta".

7/8/06 21:36  
Anonymous Anônimo said...

O melhor é o cara negro que sempre é mandado embora por motivos imbecis. cacete! sou eu!!!!!!!!!
abraços;
Sebastião

8/8/06 13:05  
Anonymous Anônimo said...

Olá Victor,

Não gostei de nada do que você escreveu. Na minha época, quando você era ainda todo magrinho, franzino e enrrugado, os boatos eram que você levava jeito para a coisa.
Agora que está barrigudo, mesmo que em algumas partes continue franzino e enrrugado, não há boato que convença!
Horrível!!! Mude de profissão, ou continue como professor mesmo que o estrago é menor.

Ps: Você é feio.

8/8/06 13:16  
Anonymous Anônimo said...

Lindo!! Adorei!! Você é genial!! Quando nos vemos pra eu possa te parabenizar como se deve?

8/8/06 13:18  

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