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sexta-feira, agosto 04, 2006

O AVATAR # 8! Quem canta a balada do detetive morto?

Episódio de hoje: "O Comodoro da Ala Sinistra - parte 2"

Ombro estava disposto a tirar Elizabete daquele covil de abutres peçonhentos,
mas antes era prudente demonstrar calma e observar o lugar. Enquanto esperava a
filha terminar o turno, resolveu sentar ao balcão e esperar por algum sinal. Ele
veio em duas formas arredondas e uma voz atrevida.

No McDrakula todos os funcionários chamam-se uns aos outros de “Conde”. Um magricela terminava de limpar uma bandeja na lixeira em forma de urna funerária.
“Ei, Conde. Me vê um Bloodshake e um McSalame sem alho”, solicitou Ombro, tirando do bolso alguns recibos do cartão de crédito, moedas, dois clipes, uma goma de mascar grudada na embalagem (ele esqueceu de tirar da roupa antes de colocar na máquina) e um pedaço de papel impresso da internet.
“Nenhum de nossos produtos leva alho, senhor”.
Ali ao lado, o corpo desfocado na luz econômica da lanchonete ganhou definição.
“Ei, você não estava no Comoéqueé hoje?”, perguntou a garota entretida com um espeto de Nuggets Empalados.
“Percebeu que ainda está descabelada?”, respondeu com desfaçatez O AVATAR.
“A droga desse lugar é que os espelhos do banheiro não refletem pessoas”.
“Isso não é problema para o tipo de gente que mora por aqui”.
“Sindy”, e esticou o braço para cumprimentar.
“Ombro”
“O que é que tem?”, tentando enxergar as próprias costas.
“Não. Meu nome é Ombro, Rocky Ombro”.
“Rocky, então? Eu sei quem você é. Não lembra de mim, detetive?”
Claro! A mesma camiseta com brilho, tão decotada que era por ali que a garota sentia frio nas costas. Os pedaços de pano eram tão raros que estavam na lista de desejo dos agentes imobiliários. Num deles, o provocante imperativo rodeado de falsos litóides: “EAT ME!”
“Você foi nossa hóspede durante umas semanas, não foi?”.
“Eu sei que você já ouviu isso mais vezes do que sua mãe te beijou antes de dormir, mas eu era inocente”.
“Não diga isso para mim. Não tenho nada contra prostituição. Mas não sou eu que faço as leis, boneca”.
“Prostituição é uma palavra meio forte, não acha?”
“Pindamonhangaba é uma palavra forte”.
“Não, detetive. Essa é uma palavra longa. Me foda é uma palavra forte”.
“Não. Aí são duas palavras”.
“O fato é que está usando palavras demais, não acha?”
O fato é que Rocky Ombro precisava descobrir algumas coisas antes de substituir a conversa pela ação.
“Recebi essa mensagem pela internet. Te diz alguma coisa?”
Um tanto decepcionada pela aparente falta de interesse do detetive, que escondia o jogo atrás da capa bem amarrada na frente do pélvis, Sindy tomou o papel nas mãos – “findi td dibom!!! skenta aki em kza” - e comeu mais um naco de Nuggets Empalados antes de responder.
“Pode ter sido eu. Escrevo essas coisas para me divertir com os amigos”.
“Não brinque comigo, garota. Você pode se meter numa encrenca daquelas”.
“Estou tentando te levar para uma encrenca daquelas desde que chegou aqui”.
Rocky Ombro percebeu que precisaria se esforçar mais para arrancar alguma coisa.
“Tem gasosa de framboesa na sua casa?”
**
A voz quase não saía: “Mandei a mensagem de uma lan house. Tô sem computador em casa”.
“Como vou ter certeza de que foi você?”.
“Ocupe essa boca que depois eu te recompenso”, e puxou contra si o cicatrizado couro cabeludo de Rocky Ombro.
O tempo passava a galope naquela noite quente em Romeniatown.
“Me diga... aí, aí, isso, isso... pelo menos o no... ôôôôuuu... o nome da lan houzzziiiiiiiiiiiiiii!”
Quarenta minutos depois, a exausta Sindy praticamente desmaiava no lençol do Bob Esponja. Antes de cair no sono, recompensou o esforço do dedicado detetive: “Comodoro da Ala Sinistra”, sussurrou enquanto relaxava os braços em volta do travesseiro do Lula Molusco.
Quando acordou, na manhã seguinte, Sindy encontrou apenas algumas moedas e clipes no criado mudo. Havia falado durante o sono e ninguém nunca vai saber se Rocky Ombro ouviu ela confessar que fez um acordo com o tenente Lopez para reduzir a estadia forçada na cadeia.
Ombro esperou o McDrakula abrir, pegou Elizabete e foi para casa. Nem precisava mais ir à lan house Comodoro, na parte sinistra de Romeniatown. Algumas vezes as intrigas são sobre morte e seqüestro. Dessa vez eram sobre a lei municipal que exige 2% de funcionários dependentes de bolhas e uma mulher solitária cujo esporte favorito é cometer erros com policiais. "E daí?", filosofou o filho adotivo de Dona Neli.

No próximo episódio: Xana contrata uma empresa que faz monografias pela internet para incluir um artigo no livro do 77o DP. Mas não será um simples caso de plágio para Rocky Ombro. Não perca: “Mandem Peter Folk para o além. Lá todos são loucos!”

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

maravilhoso. Isso não é só um monte de piadas. Muito, muito inteligente. Pensei que nunca mais ia ver humor inteligente. deu até vontade de ler denovo todos os livros de detetive abandonados nas gavetas. virei fã do Rocky Ombro

4/8/06 16:13  

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