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sábado, julho 29, 2006

O AVATAR # 3! Rocky Ombro enfrenta o passado no lado obscuro da cidade

Episódio de hoje: “Romeniatown”

Rocky Ombro já passou por muitas coisas, mas não ficou
imune ao trauma pós-acidente. Duas semanas depois de ter sido reintegrado ao
trabalho, se sente incomodado, vazio. Algo está errado.Para O AVATAR, não são
apenas as lembranças da queda do avião. Falta alguma coisa... Quando revira pela
quinta vez as gavetas de sua mesa, encontra um porta-retrato. É isso! “Srta.
Gavirova, ligue para o Correio!”

O depósito do Correio fica na região mais escura da cidade. Para Ombro, seu nome poderia ser “Ninho de Abutres Peçonhentos”, mas para a maioria das pessoas é simplesmente Romeniatown.
A solícita atendente parecia fora do lugar: não usava as medonhas capas negras com forro vermelho que os imigrantes ostentam com tanto orgulho naquele pedaço de inferno.
“No que posso ajudá-lo, senhor?”
Ah, tantas respostas espirituosas! Ombro poderia pedir um novo sentido para sua vida, implorar que ela lhe arrancasse o dom – ou seria “maldição”? – que o conectava ao mundo ignorado pelas pessoas comuns. E se ela devolvesse a saúde à Elizabete? E se a balconista explicasse o que aconteceu com Seigla, seja ela quem for? E o sargento Lucius, poderia ressuscitá-lo?... ao invés disso, o detetive foi direto ao ponto.
“Fique de quatro”.
Na verdade, ele apenas pensou nisso. O que disse foi:
“Eu vim pegar minha filha”.
Três semanas haviam se passado e o correio não entregara a bolha com Elizabete Ombro no endereço que Rocky chama de lar.
No caminho do grande depósito, revelado por apenas três lâmpadas de 60 watts, mal encaixadas em balouçantes luminárias encardidas, a funcionária do Correio tentava se justificar:
“Não conseguíamos achar o endereço que sua filha escreveu no bafo da bolha”.
7171, OTREPSE UTAT OD AUR
Ombro deu o braço a torcer: Elizabete se equivocara, pobrezinha. “Sua saúde mental começa a ser abalada pelos anos de confinamento”, pensou o amargurado pai.
“Preciso assinar alguma coisa?”, solicitou ao dar dois passos à frente da balconista para espalmar a mão na parede esférica, encaixando na palma de Elizabete.
“Talvez o seu testamento, Rocky Ombro”.
Pelo reflexo da bolha dava para perceber a pistola C32 de sete tiros. Na verdade, era de cinco tiros, mas a superfície curva do balão cria efeito de grande angular. De qualquer modo, o trabuco não combinava com aquelas mãos delicadas.
“Ou será que devo dizer papai?”
Ombro esmoreceu. Não conseguia mais esconder de si mesmo porque odiava tanto aquele ninho de abutres peçonhentos.
“O que foi?”, ela desafiou, mudando numa rapidez incrível o semblante inocente para um rosto diabólico e rancoroso. “Acha que consegue vir a Romeniatown e simplesmente desprezar o passado?”
“Vocês são todos loucos! Sanguessugas malditos, saem pela madrugada roubando a alma das pessoas de bem...”
“Cale-se, chega das suas metáforas baratas, papai. Agora é a hora da verdade”.
Naquele momento, Rocky Ombro sentiu uma presença no depósito. Não conseguia perceber de onde vinha, mas um vulto se mimetizava naqueles cantos centenários onde as teias de aranha cristalizaram intocadas. Bastou um sopro na nuca, vindo do invisível, e a subjugante foi tomada pelo pânico.
Disparou a arma, atabalhoada. A bala passou a cinco centímetros do pescoço de Rocky. Sem pensar duas vezes, o detetive se atirou ao corpo à sua frente e, duas roladas para lá, duas para cá, tomou o revólver.
Sim, era a hora da verdade, e os dois antagonistas se olhavam sem trocar uma palavra sequer.
Até que um estranho som de bexiga esvaziando tomou o ambiente. A bolha! Desesperado, Rocky Ombro olhou para todos os lados e percebeu uma caixa de grampos variados, endereçada a uma tal Baronesa Olga Albuquerque. Atirou no pacote e dele recolheu dois alfinetes que não haviam sido estraçalhados pelo projétil. Foi o que bastou para interromper a contaminação da bolha onde vivia sua querida Elizabete.
“Nunca vou deixar acontecer nada com você, minha filha”.
Elizabete escreveu no esquálido bafo que não vazou pelo buraco da bala:“?ARUJ”
“Saruj, meu amor, saruj!” E Rocky Ombro desconfiou pela segunda vez naquela noite que talvez Elizabete sofresse de dislexia.
O interlúdio proporcionara à agressora uma escapatória. Da distante porta nos fundos do depósito, ela gritou: “Não acabou aqui, papai”.
Mas a porta estava fechada. E Ombro deu voz de prisão.
**
No espelho do banheiro da delegacia, O AVATAR percebia mais um sulco de sofrimento se acrescentando ao relevo escarpado de sua testa. “O que você quer de mim?”, sussurrou sozinho, tendo em mente a imagem da mulher armada.
Ao passar pela cela, incógnito, ainda pode ouvir a detenta se desentendendo com o carcereiro: “Eu não vou ficar aqui por causa daquele maluco assombrado, papai.”
“Mais uma coisa antes de eu ir embora, srta. Gavirova”, recuou da porta da frente, “Como se chama essa garota de Romeniatown?”
“Só sabemos o primeiro nome, detetive. Tá aqui no boletim de ocorrências. É...”
Seigla.

No próximo episódio: Rocky Ombro convence a professora de que Elizabete deve ser Blanche Dubois na peça da escola. Mas um incêndio criminoso pode pôr tudo a perder. Não perca: “S de Piromaníaco”.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Tem Rock Ombro até aos sábados? Isso vai virar é uma novela da Globo.

29/7/06 21:04  
Anonymous Anônimo said...

Faltou um y ali, como pude. Que cabeça minha! A vaidade do personagem não pode ser perturbada assim dessa maneira.

29/7/06 21:05  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Tanto faz, na verdade. Eu bolei sem o y, mas o Benett batizou os desenhos de Rocky. Fica mais afetivo, digamos assim.

29/7/06 21:43  
Anonymous Anônimo said...

Ah, YaCo, não perca segunda: estou me coçando para postar uma história que escrevi de madrugada. Para mim, a melhor aventura de Rocky Ombro até agora.

30/7/06 15:32  

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