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Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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Local: Curitiba, Paraná, Brazil

Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

segunda-feira, julho 24, 2006

O ROMANTISMO É VULGAR!

Um dos meus bisavôs entrava a cavalo na igreja.
O eqüino empinava, o alemão dava uma gargalhada e os atônitos fiéis se empurravam para os cantos do deambulatório. Por quê? Sabe Deus.
Meu outro bisavô ficou cego e morreu de tristeza num lugar chamado Faxinal dos Papudos, perto de Tibagi. Não tenho tanta certeza da localização, pois sou do tipo ordinário e por isso nunca tive interesse especial pelos galhos genealógicos.
De qualquer forma, esses camaradas parecem ter produzido o sangue que eu “puxei”. Por infelicidade, sou civilizado demais para entrar nos lugares montado em algum lombo e, por sorte, não giro lascas de madeira para furar os olhos, como aconteceu com o segundo.
Mas tem algo nessas entidades familiares que me fascina e orgulha.
Sei bem de onde tiro perigosa admiração.
Um deles, Luís Volknig, era viril o suficiente para desafiar o mundo, tinha a fama de se apaixonar por todas as mulheres, mas o germânico padecia de gênio péssimo e violento.
Já Domingos Cavallari era amoroso e dedicado à família, porém foi capaz de tirar a própria visão enquanto entretinha o neto com um brinquedo que consistia num barbante amarrado a pedaço de pau. Rodando no ar, o artefato produzia um zumbido mágico. Um acidente fez os olhos desaparecerem.
Vovô era um colono italiano que foi expulso várias vezes de suas terras pelos assassinos grileiros que fizeram fortuna no Paraná. Sustentou a família com enorme dificuldade e sabia ler e escrever, ao contrário da grande maioria dos trabalhadores rurais que se martirizaram na história do país. Amava a literatura para além de quase tudo – digo “quase” porque romantizo uma semelhança com minha própria natureza, empenhada em atividades mais, digamos, rústicas do que as palavras impressas.
A imagem, no meu imaginário, deve se confundir com algum personagem de Hemingway. Grande sensibilidade, nenhuma afetação intelectual e o charme de ser despudoradamente humano.
Com a foto em mãos, eu percebo ter herdado de Luís alguns traços físicos, como o queixo redondo e a testa alta. Era um conquistador, apesar disso. Mulherengo, diriam os intolerantes. Sua intensa atividade amorosa provocou uma diáspora dos Volknig, de um jeito que não sei exatamente que parentes tenho espalhados pelo mundo – e o que justifica tantas variações de sobrenome: Folkenig, Folquening, Folquenig até mesmo entre membros da mesma geração. O fato é que o sujeito galopava na igreja e nas camas com o mesmo entusiasmo.
Na primeira Zongo, eu escrevi sobre minha inveja de Gene Kelly e sua posição privilegiada no mundo dos machos heterossexuais – apostando na premissa de que os hormônios femininos entram em ebulição quando o homem dança. Eu penso: será que Domingos ou Luís saíam por aí dançando para conquistar as mulheres?
Imagine um personagem justaposto. Ele chega à igreja. Amarra o cavalo, tira o chapéu, caminha lento até a metade do pavilhão, ressaltando o som do salto da bota no piso encerado. Repentinamente, interessado em uma mulher de profundos olhos misteriosos à sua esquerda, ele salta sobre um banco e, como quem não quer nada, TAC-TATAC-TAC TACTAC-OLÉ!
Uma tia-avó, hoje falecida, contou que Domingos falava sobre milhares de assuntos, envolvia os ouvintes em histórias escabrosas de mistério, mentia sem pudor a respeito de suas aventuras como se fosse o Barão de Münchausen. Mas na hora de dizer o que era importante, preferia o jogo de abstrações; entregava-se a um labirinto poético. Enquanto outros se aproximariam da mulher e diriam “tenho uma coisa para te falar...” ou “do jeito que você me olha...” ou “demorei muito para te encontrar...”, o italiano lançava seus dedos à cintura da prenda, olhava para cada centímetro do corpo a sua frente e lançava um longo e doloroso suspiro.
Esse híbrido simbolista dos meus dois antepassados era um homem terreno. Sofria os golpes da arte com sensibilidade invulgar, mas vivia para o mundo. Deliciava-se com o desafio de enfrentar os inimigos, os companheiros do trabalho, a família, os animais da fazenda, as árvores e os prédios. Para ele, amar não era uma união harmoniosa. Era um enfrentamento.
***
Escrevi a primeira versão desse texto para minha extinta coluna no Pop. Depois descobri que havia confundido a história dos dois bisavôs. Hoje minha mãe apareceu aqui com uma foto que recuperou em Londrina, quando visitou a tia Ana. Segundo a D. Neli, essa foto do bisavô Luís tem mais de 100 anos - fiquei emocionado, pois nunca tinha visto qualquer retrato do homem (e é curioso como muitos dos meus alunos usam um topete semelhante hoje em dia!).

Lembrei que já havia recuperado um retrato do Domingos, o bonachão à frente da cerca, e daí me pareceu justo reescrever aquela coluna (ainda mais que estava muito mal redigida, como de costume; com certeza vou pensar a mesma coisa sobre essa daqui a cinco minutos - é por isso que tento não ler de novo o que já escrevi: o arrependimento encurta muitas carreiras nesse ramo. Sigo o conselho do Woody Allen, que diz jamais ver seus próprios filmes).

As últimas fotos, com a fotometria tão ruim, mostram eu, o Rodolfo Bührer e o Luís Carlos, nosso motorista na época da Gazeta. O homem que está comigo na penúltima é Gervásio, se não me falha a memória (já se foram 8 anos e me pergunto porque essas calças estão levantadas desse jeito...). Fomos a Sutil, colônia em Palmeira. Trata-se do último quilombo paranaense plenamente habitado por negros. Depois da reportagem, resolvemos ir até as Capelas de Vieiras, lugar lotado de ex-votos e fragmentos de "graças recebidas" e promessas árduas.

A maior das construções, bem no meio do terreno, estava com a porta de metal bamba, de modo que a malandragem do Luís abriu o fêcho e pudemos ver o que tinha lá dentro. Havia sido erigida por último e em homenagem ao homem que ajudou a construir as outras. Na parede, escreveram a história de um cara muito muquirana que estava morrendo de apendicite (imagine!). Tinha até diálogos. O médico teria dado o diagnóstico e recomendado a operação. O enfermo perguntou quanto custaria. "Dois contos de réis", respondeu o médico. "Então eu morro". Mas na madrugada, banhado em suor febril, o velho recebeu a visita de uma freira, que mandou-o rezar algo que não lembro mais. Acordou curado.
Sabe o nome dele? Domingos Cavallari.

Eu não tinha a menor idéia e até hoje me arrepio quando penso na história.

14 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ei, seguindo o padrão Vilmar Celo, comentei no meu blog sobre o seu. Só desta vez.

24/7/06 11:08  
Blogger Unknown said...

Seu blog está devidamente linkado no das Rachas!!!

24/7/06 16:15  
Anonymous Anônimo said...

Foda. Bem melhor.

Essa história do Domingos Cavallari tem que ser contada em aulas!!!

Abraço

Vilmar.

24/7/06 16:25  
Anonymous Anônimo said...

Tem que postar aqui tbém o texto do "Ataque do chupador de xoxotas".

Ficou ótimo.

Abraço
Vilmar.

24/7/06 16:26  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Valeu, Rafa. Jaime Fistófeles e Vilmar Zipan, obrigado pelo apoio. Publiquei as aventuras do pussysucker na íntegra, versão do diretor sem cortes e cenas adicionais, na edição previamente pensada, como último post do novo blog: Pimenta Magnética 1 a 9. Taí como aquelas maratonas com a primeira temporada de uma série. Pois não perca a nova. Terá sangue, mais sexo (incluindo cenas de menàge) e até assombração! E é tudo verdade!
Agora só preciso conseguir botar fotos aqui.

24/7/06 17:14  
Anonymous Anônimo said...

Então, professor

Gostei bastante desse layout, ficou mais sério do que o outro - o que é divertido, já que você é mesmo pateta e de jeito algum poderão te acusar de redundância pois no mínimo é reflexo do seu humor sarcástico, não?

Mesmo assim vou continuar acessando o outro =) não lido bem com novas situações, sempre fico me sentindo uma estranha!
E ah, já que você perguntou... não te achei nada parecido com o vovô!
Um beijo

24/7/06 21:02  
Anonymous Anônimo said...

Ei, Victor Neirapingando, o mais legal é que você tem a melhor variação de sobrenomes da família. Uma palavra que não significa nada em gerúndio!

Quantos sobrenomes em gerúndio temos neste mundo?

Ei, Vilmar Amaravilha, em vez de escolher "anônimo" e assinar, bota "outro" e o teu nome. Ou você prefere permanecer incógnito?

E outra coisa, Victor Neiraenferrujada, você já viu as cenas do Zapruder da morte do JFK? Tem no Youtube. Assisti ontem e fiquei de cara.

25/7/06 10:01  
Anonymous Anônimo said...

Olha como sou burro, Jaime Teorito. Nem sei quem é esse cara... JFK. Nome esquisito...

25/7/06 13:04  
Anonymous Anônimo said...

John Kennedy Diota. Morto em Dallas, Texas. RIP.

25/7/06 13:19  
Anonymous Anônimo said...

Ei, Jaime Ditabundo. Eu falava do Zapruder, seu bisonho. Todo mundo sabe que JFK é o atual presidente americano. Como diriam meus alunos, dããããããã

25/7/06 14:24  
Anonymous Anônimo said...

Legal :P

25/7/06 15:47  
Anonymous Anônimo said...

Zapruder é o maldito que conseguiu a única filmagem do assassinato. E veja no vídeo (procure pela versão direto do negativo, sem zoom digital) o JF tava bem de frente da câmera no disparo fatal, e o Zap conseguiu pegar desde o primeiro disparo.

Foi o vídeo desse mané que foi usado como prova no julgamento que inspírou aquele filme do Oliver Stone, seu diretor preferido.

Vou procurar agora o daquele cidadão que ficou parado na frente do tanque de guerra na Praça Vermelha, alguns anos-luz atrás.

25/7/06 16:08  
Anonymous Anônimo said...

Ah! E veja o detalhe perturbador: depois que explode a cabeça do Presidente, Jackie Kennedy vai pegar um pedaço do crânio dele sobre o capô do porta-malas!

Você tem que ver isso.

25/7/06 16:11  
Anonymous Anônimo said...

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»

13/8/06 02:37  

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