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sexta-feira, junho 20, 2008

MUSICAIS NO ANIVERSÁRIO DE BRIAN WILSON!



Hoje é o aniversário de Brian Wilson!
Em sua homenagem - e em memória à recém-falecida Cyd Charisse, bailarina célebre pelo talento e por duas das pernas mais bonitas do cinema (olhe a foto) - vou listar meus musicais favoritos. Há meses que quero fazê-lo, mas francamente ando sem ânimo. Na tentativa de pegar no tranco, indico alguns para quem curte o gênero. Outra hora, falo de cada um.

Primeiro, uma questão de delimitação: prefiro chamar de "musical" o gênero cinematográfico em que as pessoas dançam e cantam "naturalmente" no enredo. A música é estrela principal. Não é simplesmente um comentário sonoro ou a ilustração de passagens biográficas. Por isso, eu não considero Johnny & June, Ray, Piaf, It's De Lovely, etc., filmes "musicais": são dramas biográficos sobre celebridades musicais.

Também parecerei ainda mais velho e ranzinza, como os camaradas da ESPN que lamentam o fim do futebol há vinte anos, mas tenho dificuldade em listar filmes contemporâneos. O tempo realmente prova alguma coisa sobre a arte, especialmente no seu papel influenciador. Não tenho medo de dizer que as obras ganham significado com o tempo, com a literatura produzida sobre elas, com o consumo compartilhado que enriquece nossas leituras. Não acho que, sozinho, o espectador possa aproveitar plenamente o prazer de assistir um filme.

Essas indicações também parecerão óbvias. A necessária leitura original sobre filmes especiais não pode cair na ingenuidade de desprezar os cânones. É até legítimo que alguém goste, sei lá, de "Dançando no Escuro", mas é uma tremenda falta de conhecimento técnico e sensibilidade estética dizer que o melodrama do Lars von Tryer é melhor que "Cantando na Chuva" ou "Cabaret".

Vejamos:
Dos nove filmes produzidos por Pandro Berman, a maioria dirigido por Mark Sandrich, coreografado por Hermes Pan e todos estrelados por Ginger Rogers e Fred Astaire, eu escolheria dois:

O PICOLINO (Top Hat, 1935)

RITMO LOUCO (Swing Time, 1936)

A forma como essas nove pérolas dos anos 30 foram levadas a cabo é um caso a ser mais seriamente analisado pelos estetas, principalmente aqueles que ainda acreditam na soberania do "autor".

O "autor" aqui, definitivamente, não é o diretor. É Astaire, um sátiro elegante e sem sexo deslizando "seis ou sete" números por filme. O ator chegou a construir um diagrama para orientar o roteiro de cada película, com porções matematicamente definidas para as cenas de romance, ação, comédia e dança. A história era basicamente a mesma, assim como o elenco de apoio: Astaire encontra Rogers, se apaixona e a corteja, ela o repudia, ele dança, ela dança, há uma confusão de identidades, e no final eles dançam de novo. Normalmente tem um mordomo (Eric Blore) de comentários venenosos que desafia o patrão atrapalhado e sexualmente carente (Edward Everett Horton). E uma coadjuvante um tanto histérica ou blasè que serve de confidente para Rogers ou esposa de Horton (Helen Broderick).

São todos iguais? Sim e não. Cada um deles é especial e acho que podemos encará-los como uma investigação realmente autoral de uma possibilidade, de um tema. Em proporções obviamente diferentes, Astaire fez da parceria com Rogers o que Monet fez a partir do lago com nenúfares ou da Catedral de Ruen.

Fred Astaire impedia os diretores de usar cortes ou edições nas cenas de dança. Ele considerava um desrespeito com o espectador privá-lo do corpo todo dos bailarinos e do tempo correto dos números. Li numa das coletâneas do crítico Roger Ebert que, velhinha, Ginger Rogers reclamou de "Embalos de sábado à noite" por causa dos planos picoteados e próximos "demais". "Esses jovens acham que podem dançar com os olhos", ela teria dito.

Em Picolino, além da maravilhosa música de Irving Berlin, aproveitamos os cenários art-decò e o charme delicioso de Rogers, uma mulher de personalidade forte e sexy appeal injustamente desvalorizado (perceba, nas cenas em que aparece de cetim ou calças de pijama, que bundinha formosa essa mulher tinha!). É quase consensual que não havia erotismo na relação entre os dois, mas a competição e a nítida admiração mútua provoca um frisson que gela nossa barriga. É quase sexual.

Antes de entrar em cena, o casal ensaiava literalmente até os pés sangrarem. A própria Ginger talvez seja um pouco responsável por ser menos valorizada do que Astaire. Ela queria ser uma atriz "séria" e evitava a todo custo ser rotulada como atriz-cantora-dançarina, muito embora, nas palavras da própria, "eu fazia o mesmo que Fred, só que para trás e de salto".
Veja a garota fazendo o "reverso em agulha" depois de convencer a todos - diretor, coreógrafo e o próprio parceiro - que aquele extravagante vestido precisava ser usado em cena, mesmo que, décadas depois, a gente fique prestando atenção às plumas voando pela pista: http://www.youtube.com/watch?v=oWiTxsdR6no (ah, sem falar que estamos ouvindo "Cheek to cheek", uma das maiores canções de todos os tempos!). Em tempo: Astaire se opôs fortemente ao figurino, mas, depois da estréia, mandou uma jóia de presente para a colega, acompanhado de um bilhete onde se lia: "você tinha razão".

Ritmo Louco, que foi dirigido por George Stevens (Assim Caminha a Humanidade, Um Lugar ao Sol), é o favorito de alguns críticos, mas eu divido esse amor com Top Hat. Ainda assim, talvez o cinema não tenha nos proporcionado uma cena tão deliciosa quanto o número Pick Yourself Up, que abre o filme: Astaire, flechado pelo cupido, segue Rogers até a academia de dança em que ela leciona. O mancebo finge que é um descordenado e faz a garota amaldiçoar a própria profissão: "eu não conseguiria lhe ensinar nada nem em um milhão de anos". O mau-humorado patrão de Rogers (aqui Eric Blore não é mordomo!) vê isso e a demite. O resto, você imagina. Começa com algo como "espere, acho que aprendi alguma coisa..." Ou melhor, nem imagine: http://www.youtube.com/watch?v=mxPgplMujzQ
Depois, entre outras felicidades, ouvimos Fred cantar The way you look tonight para uma zangada Ginger, trancafiada no banheiro. Na primeira nota, como disse a Priscilla, já dá vontade de chorar de alegria. http://www.youtube.com/watch?v=PgRtP74AbO0

Bom, vou trabalhar. Depois escrevo sobre outros musicais.