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segunda-feira, novembro 13, 2006

VOLVER!


Pedro Almodovar não faz um filme facilmente contestável desde Carne Trêmula.

Na verdade, Tudo Sobre Minha Mãe, Fale Com Ela, A Má Educação e esse Volver são a filmografia de uma outra pessoa, que guarda traços nítidos do diretor anterior - de Kika, Ata-me, Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos -, mas que parece olhar para trás como quem contempla a juventude distante.

Almodovar lembra hoje John Ford. Não pela temática ou pelo sentido de fracasso por trás do heroísmo. Simplesmente por causa do ritmo da narrativa e pela precisão com que maneja os planos.

Numa das cenas mais lindas do filme, a câmera vê, por dentro de uma vitrine colorida, Raimunda e Paula saindo do ônibus. A sobreposição é, ao mesmo tempo, um momento clássico do cinema (como em Sunrise, de Murnau, ou The Cameraman, com Buster Keaton) e a assinatura pop do espanhol, tal citasse explicitamente Don Eddy ("Sapatos Novos para H", de 1974, cujo detalhe ilustra o post) ou outro colorido representante do novo realismo americano.

Mas também soa como Hitchcock, pelo prazer com que engana e, em seguida, convoca o espectador como cúmplice daquilo que os personagens não conseguem ver claramente.

Passados alguns minutos depois que a sessão acaba, Volver não deixa a impressão vigorosa de Tudo sobre Minha Mãe. É muito mais leve, embora trate de abuso, violência e solidão. O amor à condição feminina dissipa suas dores, e sentimos uma doçura esquisita ao ver a velha Carmen Maura voltando à condição de fantasma para cuidar, mais um vez, de uma mulher doente.

É bem fácil oferecer a Pedro o apelido de "cineasta das mulheres", já que não conseguimos enxergar, hoje em dia, ninguém tão hábil e tão sensível no retrato de mães e filhas.

Veja a Raimunda de Penelope Cruz. É apaixonante do primeiro ao último fotograma, enfrentando o medo com o olhar de raiva contido. Todas as mulheres de Volver são maternais e tolerantes. Perdoam, não importa o que lhes tenha acontecido. Mas nem se suspeita que estamos diante de um comentário machista. Pelo contrário: só há três homens com fala no filme. Dois deles são moldura, o outro... bem, o outro se resume, em sua grande cena, a um lindo quadro de branco tomado abrupto de vermelho.

Mesmo assim, não conseguimos chamar o espanhol pela simplória alcunha de "cineasta das mulheres".
O que mostra o grande artista que ele é.

7 Comments:

Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Esqueci de comentar: a Set publicou uma "crítica" de Volver que dá a nítida impressão que o jornalista não viu o filme. http://set.peixes.uol.com.br/set_novo/estreias/index.asp?acao=filtro&cod=6148
Ou, pelo menos, trata-se de um ótimo exemplo de que o tal "jornalismo cultural" brasileiro é basicamente escrito sob ótica adolescente.

13/11/06 11:31  
Anonymous Anônimo said...

Hoje, quando você saiu e eu ainda estava jogada na cama e enrolada nas cobertas, aconteceu uma coisa muito estranha. Não que eu acredite nessas coisas, mas juro que ouvi uma voz dizendo "posso entrar?". Então, eu perguntei quem era, mas não tinha mais ninguém lá. Será que era a tia Paula?

13/11/06 18:37  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Que estranho... eu também tive uma impressão estranha quando cheguei em casa. O Tatu estava no sofá, fui até a frente dele e, enquanto conversávamos, percebi uma mancha meio esbranquiçada se esgueirando pelo corredor que dá nos quartos. Dei dois passos para a frente e meu coração disparou, mesmo (ou principalmente) quando não vi nada daquele lado. Eu sempre prefiro que seja a Irene à Paula, sendo que a primeira não é um fantasma. Mas...

13/11/06 22:03  
Anonymous Anônimo said...

Loucuras à parte. Você viu "Os Infiltrados" do Scorsese? Não vi Volver ainda, e "Os Infiltrados" não parece ser tão bom quanto, mas também é legal. Uma boa diversão. Estilo "Gangues de NY".
Abraço.

15/11/06 01:34  
Anonymous Anônimo said...

Vi, sim. Gostei muito dos Infiltrados. Até vou tentar sair da minha preguiça e escrever algo sobre o filme.

16/11/06 00:57  
Blogger Jean-Philip said...

Inflitrados é bom, mas o jack Nicholson me pareceu meio irritante na tentatia de parecer um viciado estilo Scarface. É também o filme com mais "headshots" que já vi!

17/11/06 20:52  
Anonymous Anônimo said...

Priscilla, era a sogra!

22/11/06 22:46  

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