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Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

segunda-feira, agosto 21, 2006

PIMENTA MAGNÉTICA # 10! Abri a porta armado

Alguns sons são líquidos e outros são secos, você diria horas mais tarde.
Aqueles não eram.
O primeiro foi cheio e tão pesado que não vi carne grave naquela nota. Um peso que parece ser mais sentido pelo solo do que pelo cadente, por ventura lhe restasse vida para.
Tudo diria que o segundo fosse agudo para merecer o diagnóstico de secura; talvez seguido de um sibilo em bemol se arrastando para longe da porta, finalmente interrompido pelo que pareceu superfície vertical.
Mas não seco assim. Tão novo, era inédito. Não na imaginação. Vi tantas vezes adoçado ou estremecido nos quadrinhos, na TV, nos filmes ou nos livros. Como foi fidedigno, não parecia pertencer ao mundo real. Então não era líquido nem seco. Não era nada.
E antes disso, o BANG.
Voltei a sentir meu corpo e olhei para você, rosto vazio voltado para mim e os olhos escondidos no canto das órbitas. Pensei na faca e fiz menção de guardá-la, mas considerei coerente mantê-la em punho. Ao abaixar a cabeça, percebi que meu pênis continuava ereto, impassível, como se o coito tivesse sido interrompido exatamente naquele instante.
“Vou abrir a porta”.
Comecei sussurrando, mas achei a situação ridícula e permiti que a voz se avolumasse ao longo das quatro palavras, de modo que o “abrir” saiu meio trêmulo e infantil até que “porta” se arredondasse pelo sotaque ponta-grossense.
Você ergueu as pálpebras e pronunciou os olhos com gravidade, mas não sabia o que isso deveria significar. Talvez lembrasse que era melhor eu me vestir, de qualquer forma. Eu praticamente não pensei a respeito e quem sabe tivesse em mente apenas abrir uma fresta que permitir esconder que estava armado.
Não me ocorreu que a hipótese era estúpida. Qualquer fosse a imagem além da porta, me obrigaria a abrí-la totalmente. Não havia como evitar o envolvimento com o que tenha acontecido ali fora. Essa tolice, no entanto, só se revela agora, quando refaço os passos que cercam os estranhos acontecimentos desencadeados naquele início de noite.
A surpresa nos devolveu a vertigem.
Coloquei a metade do pé esquerdo no tapete externo do apartamento e a iluminação automática do corredor foi acionada.
Na minha frente, portas dos dois apartamentos vizinhos e, ao longo da parede esquerda, os elevadores. Junto à direita, um vaso com folhagens.
Não havia nada além no corredor.