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terça-feira, novembro 21, 2006

O AVATAR # 12! Nova temporada das aventuras de Rocky Ombro!


Episódio de hoje: "Doce como a baba de um dragão de komodo".



Distraído, o detetive Rocky Ombro leu todo o primeiro caderno, passou pelas
notícias sobre comida no suplemento de artes, mencionou os resultados do handebol
infanto-juvenil da seção de esportes e só percebeu que Elizabete já havia
dormido quando se espantou com a popular coluna social de Dona Berga Motta, o Lagarteando. Era uma edição velha do jornal Noticiário Redigido.
Velha, mas nem tanto assim. Lá estava o empresário da noite, ex-modelo,
ex-celebridade instantânea e ex-presidiário Jaime Donho. A coisa toda era
trivial. Posava ao lado de quatro fileiras de dentes bem escovados, mas
amarelos. O letreiro ao fundo confirmava a legenda: “Chegando de Bombinhas, onde
curtiu um findi com a namo Juraci (ao lado), o bon vivant Donho inaugurou ontem
a Boate dos Sonhos em Romeniatown”. Isso foi sábado passado, dia mundial das
inaugurações. O problema é que Donho morreu uma semana antes.

Ombro deu um grito. Quer dizer, não bem um grito, foi mais uma interjeição. “Rá!”. O suficiente para Elizabete acordar e escrever na bolha OTSUS UEQ. “Pobrezinha”, disse Rocky, acariciando a superfície do plástico, “ainda está grogue de sono”. Depois leu metade do artigo assinado por advogado, para devolver a filha ao mundo dos sonhos, e se perdeu mais uma vez nos próprios pensamentos: “Como alguém morto inaugura uma boate?”
Olhou de novo a foto que ocupava três quartos da coluna social. Tinha algo ali que não parecia certo.
O letreiro em neon, atrás de uma palmeira de plástico. As duas garotas loiras - a da esquerda era, sem dúvida, Berga Motta, embora sua última plástica tenha causado algumas confusões nas lojas de eletrodomésticos.
A mulher da direita, Juraci Alecsandra West, também era inconfundível: o sorriso, as sobrancelhas cuidadosamente aparadas, o queixo arredondado das italianas, a franja lisa sombreando os olhos levemente orientais e um buraco no lugar do nariz.
Ombro notou que o brinco esquerdo de Juraci era curioso. Parecia um oito... ou seria macarrão espiralado... ou um pedaço de taenia saginata...
Quando estava prestes a desistir, um cão latiu no final da rua do Tatu Esperto. Um ouvido destreinado entenderia “au au auooooouuu”, mas Ombro ouve o invisível. “Aulhe de nouvuuuuuu” foi o que interpretou.
Então desceu até o porão e recuperou a máquina de ampliação fotográfica utilizada pelo inspetor Deckard num caso com replicantes. Montada na mesa de centro da sala, a geringonça justificou a campanha liderada pelo Departamento de Polícia contra o photoshop. Ali estava: o “brinco” nem se aproximava de comida ou lombriga. Era um número em perspectiva, colado ao fundo da paisagem: 80.1.
Amanheceu e Rocky ainda virava de um lado para outro, procurando uma posição que fosse tão confortável quanto descobrir o que aquele número significava. Como nada lhe ocorreu, decidiu sair da mesa de centro e ir para a cama. Inútil. Sentia-se mais desconfortável do que um faquir numa piscina de bolinhas. “Vou dar uma volta”. Vestiu o sobretudo herdado de Peter Folk, pegou as chaves e tirou a ambulância reformada da garagem.
Ao dobrar a esquina, ligou o rádio na esperança de, pelo menos, adormecer um pouco ao volante.
“Eu vou contar uma história
Vejam só, que legal
Apareceu na cozinha
Rostos de gente morta
Que horrível, que nojo, vou fugir daqui”.
Ombro se espantou com a qualidade da letra e esperou por duas canções até que o locutor descrevesse o bloco.“Essa e muito mais, você escuta na 70.5, a rádio que só toca assombração...”
“Bah! Romeniatown”, resmungou o detetive, “Vamos ver o que tem aqui...”
“... Hoje é o Dia da Cura do Berne aqui na 70.6, a rádio que Jesus escuta no céu”.
Mais uma empurradinha do dial:
“Queria oferecer para a Lidiânia lá da Cachoeirinha dos Curupiras e queria dizer que escuto a 70.7 o dia todo...”
“Amanhã de manhã, no mesmo horário, aqui na 70.8...”
“70.9, a rádio que repete mais!”
“Quem gosta de britadeira, só si-si-sintoniza a 80.0”
“80.2, mais zumbido no seu enxame...”
A essa altura, Ombro estava tão irritado que... espere! Procurou as últimas três freqüências e ouviu atentamente. Havia uma emissora ocupando cada palmo daquele latifúndio sonoro. Menos onde a haste vermelha de seu Autorádio Samburá, que veio com a ambulância, marcava 80.1. Apenas estática.
E um mistério cuja rocambolesca resolução Ombro jamais esqueceria.
*(continua)

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ah, não!!! Acabou já?? O que acontece com o rádio?? Conta!!

22/11/06 09:54  
Anonymous Anônimo said...

Afe Vitor, estava com saudade do Ombro!
Pelo que percebi ele continua o mesmo.
té mais

27/11/06 15:16  
Anonymous Anônimo said...

Quem diria que seria produzido algo tão interessante cheio de referências vindas das suas madrugadas recheadas de seriados Warner? (Nem tente negar)
Olha, eu não sou muito fã de histórias policiais (mesmo que em algum ponto da minha vida, lá pela fase dos 12/13 eu achasse interessante ler as aventuras do Hercule Poirot), porém como sua narrativa vai muito além disso, e é tão boa a forma como você e sua ironia adaptaram certos elementos comuns na literatura ao mundo do ombroso Rock, eu fui convencida.
O ritmo do texto tem muito da sua personalidade, acontece tudo ao mesmo tempo, pouca enrolação e muita ação, crítica e comicidade na mesma linha de texto.
Gosto da escolha dos absurdos nonsense que reforçam o ar cômico presente em cada parágrafo. (Até tenho alguns preferidos).
Também acho os nomes pontos marcantes nos capítulos, fico ansiosa pra conhecer novos personagens pelo simples fato de gostar dos nomes que você dá a eles. Se eu pretendesse ter filhos um dia ia te consultar, mas acho bem mais provável eu ter apenas um cachorro e quem sabe um pseudônimo, mesmo assim você ainda pode participar do processo criativo.
Esperando pela continuação.
Beijos.

30/11/06 12:40  
Anonymous Anônimo said...

Ah, mais um detalhe:
Como a Elizabete aparenta ser do meio Heavy Metal com esse penteado, hã? Mas poxa, não dá pra falar mal do aparelho de oxigênio (é isso, né?).
Eu mesma não faria melhor.

30/11/06 19:32  
Anonymous Anônimo said...

Puxa, puxa, puxa. O Rocky Ombro é uma das minhas fontes de alegria. Eu também gosto muito dele e olhe que nasceu apenas para fazer parte daquela série "seriados que gostaríamos de ver" com os irmãos Elder, os jovens médicos mutantes, o inspetor Jesus e os spacejacks. Foi o Benett que me convenceu a continuar com o Ombro. Ele tem um olho incrível, temos que admitir.
Priscilla e Cassiano: juro que nesse final de semana sai a segunda parte. Camila, eu também adoro nomes divertidos. O nome mais sonoro e engraçado que já ouvi é de verdade. Pertence ao meu amigo, o advogado ponta-grossense Claudimar Barbosa. É inevitável chamá-lo de Claudibosa Barmar. Na primeira versão que escrevi deste aqui, o nome do jornal era Gazela do Polvo, mas considerei fraco e muito barato como provocação. Ainda espero consertar e achar um nome melhor para o jornal de romeniatown!

30/11/06 22:16  
Blogger Unknown said...

Olá Victor. Seus contos continuam com o mesmo bom e velho estilo que se iniciou lá nos tempos de Regente Feijó. Aliás, são ótimos. Passarei a visitar seu blog de tempos em tempos.
Um grande abraço
Gelson
P.S.: achei seu blog pesquisando sobre jazz, o que me levou ao blog do benett, e daí para cá. Vi também umas fotos suas por aí, de camisa engomadinha.

2/12/06 17:38  
Anonymous Anônimo said...

Gelson Biscaia! Quanto tempo! Por onde anda? Desenvolvendo o novo programa nuclear brasileiro?

3/12/06 11:25  

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