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Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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segunda-feira, setembro 11, 2006

O AVATAR # 11! Leviandade, teu nome é Xana Aparecida!

Episódio de hoje: “Há algo de podre na 77a DP – parte 3”.


Ninguém teria acreditado, nos primeiros anos do século XXI, que aquela delegacia
estava sendo observada com atenção e bem de perto por inteligências mais agudas
que as dos próprios policiais e, no entanto, tão falíveis quanto eles. Os
homens, enquanto se ocupavam de seus diferentes problemas, eram examinados e
estudados, talvez tão minuciosamente quanto alguém com um microscópio pode
examinar as efêmeras criaturas que pululam e se multiplicam...


Ombro desligou o rádio. Estava cansado de notícias sensacionalistas sobre invasão de terroristas. Ele tinha um problema real para resolver: ajudar o fantasma de Peter Folk a descansar, desmontando a tramóia articulada na mesma delegacia em que jurou lealdade ao distintivo.
“Temos que entender qual é o papel do tenente Hernandez nessa farsa, Hélcio”.
Hélcio é o policial especializado em reconstituição de crimes. Atrás de seu frio profissionalismo há uma frustração latejante. Formou-se pela Escola Técnica de Artes Cênicas de Faxinal dos Papudos, mas nunca conseguiu emplacar como diretor de teatro. Desempregado aos 35 anos, foi forçado pelos pais a apelar para o concurso da polícia. Optou por carreira burocrática e o mais perto que chegou de seu sonho foi a recriação das cenas de roubo, assassinato, estupro, difamação e calúnia. “Estou farto desse realismo russo!” é seu bordão favorito no Cuspe do Saci, o boteco adotado pelos homens de farda.
“Como você vai saber, Rocky?”
“Não vai haver a reconstituição de um crime, hoje? De acordo com a reação que o tenente tiver, nós saberemos!”
“Não entendi!”
“Reescreverei o crime antes dos ensaios”.
“Mas se trata de um caso de assalto simples. Não entendo...”
Hélcio resolveu se calar. E daí? Era a oportunidade de testar uma linguagem mais... mais... teatral! Por que os crimes têm que ser reconstituídos de forma tão careta? E o que é realidade? Qual é o limite entre a arte e a vida? Será que os atores são bonitos?
Sim! Estava na hora de dar um passo a mais. As palmas para o arroz com feijão já não traziam emoção. Hélcio chegara a um grau de excelência tão alto na reconstituição convencional que alguns dos participantes acabavam presos por falsidade ideológica.
Os dois velhos conhecidos apertam as mãos. Ombro não deixa de fixar os olhos na tatuagem de lontra com capacete no pulso do criminalista. É sempre um selo de compromisso.
FF
Rocky Ombro leva Elizabete para o trabalho e pede que ela observe a reação de Lopez durante a encenação.
“Fique olhando e registre tudo. Depois você me conta. Tá bom, meu amor?”
“MIS”
“Sim, eu prometo. Se você trabalhar direitinho, te inscrevo no concurso de miss!” E deu um beijo na bolha, celebrando a mais bela equipe que ele conhece: pai e filha.
No local da encenação, Xana exibe seu sorriso cínico. O que ela faz aqui? Foi solta em troca de informações sobre terroristas. O AVATAR não se conforma.
“Mas o que ela têm a ver com isso?”
“Ótimas opiniões”, explica Hernandez. “Por exemplo: ela sugeriu que grampeássemos o telefone dos suspeitos. Não é genial? Seria uma lástima deixar fora da ativa uma policial tão preparada por causa de um pequeno deslize”.
Ombro se segurou. Esse “pequeno deslize” tirou a vida de seu segundo melhor amigo e, até então, o preferido entre todos os amigos vivos.
O cenário é a cantina de uma escola. O caixa faz seu próprio papel; os alunos que testemunharam o assalto se distribuem pelas mesas fixas de metal vermelho. O assaltante, algemado, ajudará Hélcio a dirigir. Participantes ausentes serão substituídos pela policial Xana e...
Geraldino Bocaiúva! Originalmente, o detetive desempregado faria o papel de uma das vítimas, mas quando foi visto pelo diretor Hélcio, ganhou o papel principal: o de bandido. “Minha experiência como investigador deve ter influenciado o pessoal”, disse, orgulhoso de seu “semblante de protagonista”.
“Como você aceita isso?”, sussurrou um inconformado Rocky Ombro.
“Eles dão o vale-transporte e dez pilas”, justificou o ex-Shaft de Romeniatown.
Hélcio levanta de sua cadeira de “diretor” e grita simulando impaciência: “Vamos começar, pessoal?” Pega o manuscrito preparado por Rocky Ombro, todo decorado com rubricas e marcações de caneta lumicolor, e chama os “atores”.
“Xana, você pega essa zarabatana e esconde sob a camiseta. Decore suas falas”. A policial deu de ombros. Iria ler, pois memória não era bem seu forte. Na semana passada, abençoou o espirro de um colega com a frase “Genésio te crie!”
Todos a postos, Rocky Ombro pisca para Elizabete, acomodada sobre o capô de uma das viaturas.

XANA – Precisamos dar um fim nesse detetive safado. Ele sabe do banco, meu amor!
GERALDINO (impostando a voz como se fosse uma criança) – Sim! Ele pode nos denunciar. O que faremos, agora que o plano de acusá-lo de assédio não funcionou?

Seguindo a rubrica de Hélcio, Xana tira a blusa e mostra os seios. Seu corpo treme como numa convulsão. Da mesma forma, Geraldino deita sobre uma mesa e uiva. Em seguida, levanta-se, vai até os figurantes da cantina, tira três pedaços de cartolina do bolso e pergunta para uma estudante:
“Você aí. É, você de blusa amarela. Não, não, a do lado. Tá, pode ser você. Ah, não quer mais. Então... você. Isso. Escolha uma cartolina. Não, nenhuma é azul. Essa cor é verde. Pode ser essa? Não? A outra? Tá!”
Bovaiúva volta para o centro da encenação e lê a ficha. Enquanto isso, imagens de pinheiros e punks pedindo esmola são projetadas pelas paredes.
“O jogo é FILMES! Você aí trepada no carro, escolha um de nós para jogar”.
Elizabete Ombro escreve na bolha, mas...
“Sinto muito, nenhum de nós se chama ÊCOV. Acho que você quis dizer Xana, né? Xana, venha aqui!”
“Parem. Está tudo errado!”
Ombro colocou-se em alerta. Quem gritava era o assaltante verdadeiro, Alberto Macedinho, conhecido como “O Albino” nas docas de Romeniatown.
“Quem escreveu isso? Tá tudo errado. Pra começar, precisa escolher um tema antes de decidir o jogo. Por exemplo: o tema é pedofilia. Aí o jogo é FILMES, para aproveitar a colaboração do colega. Caso contrário, não tem sentido nem graça”.
Todos esmoreceram a olhos vistos.
“Meu Deus”, continuou O Albino. “Será que é tão difícil respeitar a linguagem teatral?”
“Parem com essa palhaçada!”, gritou Hernandez Lopes. O tenente levantou da poltrona improvisada, segurando uma lata de cerveja, e saiu transtornado em direção de sua viatura. “Chega de perder meu tempo”.
Rocky Ombro encarou Hélcio e olhou para o céu. As nuvens voltavam a formar o sargento Lucius Strinksmeyerson. Um avião cruza o rosto enevoado e temos a impressão que o mentor espiritual de Ombro pisca para a Terra. Tudo está claro agora. O tentente Hernandez Lopez está por trás da trama que deu cabo em Peter Folk. A reação intempestiva durante a reconstituição não deixa dúvidas.
O AVATAR entra na ex-ambulância e dá a partida. Tem a prisão mais difícil de sua vida para fazer.
Em poucos segundos, alcança a viatura de Lopez que, embriagado, dirige a menos de 40 km por hora. Nas calçadas, uma multidão se acotovela para observar a pequena fila formada pelo carro encimado por uma bolha, de onde acena uma garotinha, seguido por uma ambulância mal disfarçada.
O pequeno Juvenal puxa a saia da distraída dona Selena: “Mãe, um desfile!”

No próximo episódio: Lopez alega não entender onde Ombro quer chegar. Para garantir que o suspeito seja reconhecido, O AVATAR escreve um “M” com giz nas suas costas. Hélcio recebe convite para trabalhar no Linha Direta. Geraldino Bocaiúva é demitido porque usou o banheiro sem autorização escrita. Seigla reaparece no apartamento de Sindy com hematomas num lugar “especial”. Não perca: “Um episódio truncado”.

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Divertido!
Agora coloca aquele que estou esperando????
=)

13/9/06 13:50  
Anonymous Anônimo said...

Ahhhhhhhh! Quero com desenho e tudo mais! Tá?

13/9/06 13:51  
Anonymous Anônimo said...

Nem deu p conversar na festa. Saudades. um beijo

18/9/06 12:01  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Priscilla: vou desenhar amanhã mesmo, de presente!
Laura: que pena, mesmo. Vamos colocar a prosa em dia no próximo arrasta-pé! Beijo.

18/9/06 21:49  

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