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Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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domingo, setembro 10, 2006

INSPETOR JESUS # 1! Proposta para seriado policial

Episódio-piloto: "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um bandido escapar do Inspetor Jesus".


Ninguém sabe ao certo o passado do Inspetor Jesus nem quem é a mulher misteriosa
que sempre liga quando Ele está investigando a cena do crime. O intrigante Jesus
é um homem de muitos segredos. Mesmo assim, encanta a todos com Sua afiada
inteligência e o talento milagroso para resolver crimes quase insolúveis. "É o
único Cara capaz de ressuscitar um camarada só para perguntar onde o morto
estava quando foi assassinado", admira-se o investigador Thiago.

O corpo boiava com todas as extremidades alinhadas na superfície. A única farpa que destoava era o rasgo fatal no meio do peito e a estrela de sangue desenhada no uniforme cáqui. É preciso admitir que a cena toda era linda, a começar pelo sepulcro provisório escolhido pelo assassino: a grande barreira de corais australiana. Para completar, o protagonista do mistério era tão célebre quanto os ornitorrincos, coalas ou didjeridoos escondidos na arca alguns séculos antes.
"Tudo leva a crer que foi uma arraia", explica aos solavancos o detetive Saulo, desacostumado ao intempestivo oceano Pacífico.
“Não sei não”, duvida o detetive Tomé, segurando firme na proa. “O que não entra na minha cabeça é: porque uma arraia mataria Steve Irwin? Quer dizer, o cara já arrumou encrenca com cobras, crocodilos, aranhas... logo uma arraia! Isso não me cheira bem!”
A conversa é interrompida pela imagem torpe percebida simultaneamente. No horizonte, uma mancha esquálida aos poucos toma forma, como uma miragem. Em poucos segundos, conseguem definí-Lo andando sob a água na direção ao belo e mortal cenário.
“É ele!”, grita Saulo.
“Omar Shariff!”, arrisca Tomé.
Não, não era. Era o Filho do Homem, como ficou conhecido na academia, quando os outros cadetes injustamente acusavam-No de ser favorecido pelo parentesco com “gente da alta”.
“Inspetor Jesus!”, alegram-se os dois – ambos legítimos discípulos dos métodos investigativos do mais internacional dos policiais.
“Eeei, rapaziada, qual é a do cadáver?”
“Um exame preliminar diz que foi briga feia com uma arraia, Senhor”, começou a reportar Saulo. “Ela ferrou o cara”.
“Hmm, isso dá para ver claramente”, diz Jesus, de cócoras na água para enxergar melhor a chaga mortal. “Não”.
“Não?! Como não?!”, se espantaram os jovens policiais, olhando um para o outro e depois para Jesus e depois para o morto.
“Estão vendo esse serrilhado aqui perto da ferida? Então...”
O duo Signor, Ecco La Rea, de O Coroamento de Poppea, rompe a explicação. É o ringtone do celular de Jesus.
“Alô. Eu disse para não ligar quando estou trabalhando!”
Como vou saber o que está fazendo? Faz três dias que Você tá sumido, sem dar notícia. Já liguei para hospital, polícia e até procurei nas cavernas de Cafernaum para ver se Te achava...”
“Mas...”
“E não é a primeira vez que Você some por três dias. Depois reaparece, sorridente e cheio de marcas pelas mãos, pelos pés, na costela...”
“Não chore...”
“Venha para casa, é Páscoa! Jesus, é sério, esse Seu trabalho vai acabar contigo. Isso não é vida!”
Irritado – mas solidário –, o Inspetor Jesus despediu-se secamente e desligou antes que ela perguntasse onde Ele estava. Imagine o chilique.
“Onde Eu estava? Ah, em verdade vos digo: não foi uma arraia que matou Steve Irwin”.
“O Senhor já disse isso”, retrucou o ansioso Tomé.
“Ah, desculpe. É a linguagem bíblica, sabe? Bem, Irwin não foi mortalmente ferido por uma arraia. Foi um crocodilo!”
“!”
“Sim, mas não um crocodilo comum. Em verdade, em verdade vos digo: foi um crocodilo vestido de arraia!”
Nesse momento, o bote chacoalha dando um banho nos discípulos do inspetor Jesus. Sob o casco havia um zíper. Mãos verdes com unhas grossas e sujas abrem o barco – que se revelou, enfim, um disfarce. Mais um do enorme arsenal do... Mister Crocodilo!
“Muito esperto, Jesus, como sempre” – o assassino portava um mosquete genuíno carregado com enxofre. “Mas dessa vez não será tão fácil. Fiquei muito mais ágil desde o disfarce de cobra no deserto. Prepare-se para rezar!”
“Ah, você acha Jesus esperto?”, devolveu Jesus. “E pensa que deu cabo no pobre Steve Irwin. Pois tenho uma surpresa para você. Há alguém aqui nesse oceano bem mais esperto que Jesus. E não é você”.
E aquele que pensávamos ser Jesus abriu um zíper maquiado como cicatriz de chicotada, nas costas, e revelou o mais famoso sedutor de répteis no mundo: Steve Irwin!
“Mas... como? Quem é o cara que matei com um ferrão de arraia?”
“Aquele é um médio volante da seleção sueca de futebol. Quem ri por último, agora, Dr. Crocodilo?”
Catampum!
Dr. Crocodilo acerta Steve Irwin bem no meio do peito, dando fim à audácia do apresentador de televisão para sempre.
“Rá rá rá rá rá rá!” ecoou pelo Pacífico.
“Não tão rápido, Doutor Crocodilo!” Era Saulo. Ou melhor, Jesus, que até ali fingia ser Saulo. Com sua vara de bambu, Jesus tirou o mosquete das garras do enorme réptil mau. “Ordeno que volte para as profundezas!” (comando que revelou pouca intimidade do Filho do Criador com zoologia ou ironia impenetrável ou parte de uma parábola convenientemente aberta a milhões de interpretações).
“Shit!”, praguejou o assassino, que se transformou num boto e sumiu num redemoinho de pó.
“E quanto a você, Tomé, revele sua verdadeira identidade!”
O nariz caucasiano de Tomé, que flutuava inteiro ali perto, desmanchou como cera e em seu lugar apareceu um focinho de porco que sustentava aros redondos para olhos cândidos e provocadores.
“Ordeno que me diga seu nome!”, repetiu o bíblico Jesus.
“Legião, porque somos muitos”, falou Tomé, agora com uma voz que parecia um disco do Sepultura rodado ao contrário (o que é exatamente igual ao rodado na direção certa).
Como Jesus desconfiava. O criminoso era um velho conhecido, especialista num campo diferente de maldade.
“Revele sua face, Renato Russo!”
E a metamorfose se concluiu, com direito a estampa de Joy Divison na camiseta.
O inspetor Jesus já havia pedido a prisão preventiva de Russo por vários crimes e sua fé no sistema judiciário caiu completamente quando o vocalista foi solto sob fiança mesmo depois de ter gravado Metal contra as Nuvens. “Por que me abandonaste?”, chegou a gritar para o alto um desesperançado Inspetor.
“O Senhor não me engana, Jesus”, vociferou Renato Russo.
“Você está bêbado, se acalme”.
“Bêbado? Quem estava bêbado naquela festa em Canaã, Quem?”
“O que tem aquela festa?”
“Não se faça de Lázaro sem Braço pra cima de mim. Até o Senhor foi adolescente um dia e a Tua cara caiu por pura vaidade. Me explique o lance dos peixes! Do vinho!”
“Não sei do que você está falando”.
“De repente, o Senhor fez um peixe virar uns cem peixes!”
“Pelo jeito você é que estava bem bêbado naquela festa”.
“Ouça o que eu estou te dizendo, Galileu filho de uma virgem...”
“Olha como fala de minha mãe! Eu já agüentei demais!”
“Não importa quanto tempo demore, eu vou Te desmascarar. Tua hora vai chegar!”
Cansado de tanto blablablá, Jesus pegou Sua vara de bambu e expulsou Russo da grande barreira de corais australiana.
Serviço concluído, tirou Seu celular no bolso de trás dos trapos da cintura e fez a última ligação do domingo.
“Mãe, prepare aquele pão ázimo que só você sabe fazer. Eu estou voltando!”

No próximo capítulo: o ex-atacante de futebol Christo Stoichkov e o artista plástico Christo ajudam Jesus a prender um ladrão internacional de jóias na Bulgária. Não perca: “Um ladrão entre dois Christos”.

Comentários da crítica depois do último episódio da primeira temporada:
“Eu achei muito ousado matar logo o protagonista nas últimas cenas. Mas o seriado foi um sucesso e as redes de TV não perdem a oportunidade de lucrar no ano seguinte. Aposto com quem quiser que Jesus ressuscita na próxima temporada”. Mathias Salame – WKO R News and Used.

“Algumas pontas soltas, como a história envolvendo Maria Madalena e o mistério sobre a infância do Inspetor, são indicativos certos de uma continuação. Mas a esse custo por episódio, desconfio que Jesus volta só daqui a mil anos”. Christopher Berinjelus – Imbituva Reporter.

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Achei bem ruim essa. Boa sorte na próxima vez!

10/9/06 09:44  
Anonymous Anônimo said...

Ah! Faltou dizer que não gostei =)

10/9/06 09:44  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Querida Priscilla, minha querida:
Toda vez que você diz isso, Jesus chora.
Mas tudo bem: eu desconfiava que o personagem era muito fraco para fazer sucesso. Quando apresentei aos investidores, eles me disseram: "Sem essa, esse Jesus nunca vai ser popular".
Beijo.

10/9/06 13:08  
Anonymous Anônimo said...

Victor, o problema acontece quando você tenta ser engraçado!! Fica muito claro que está tentando fazer piada.
E pior, o longo do texto as piadas ficam cada vez mais claras e insistentes! Sabe quando alguém conta uma piada e ninguém ri, e nem assim ela desiste?
That's you babe!

10/9/06 13:25  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

É a vida. Às vezes a gente acerta, às vezes, não. Desculpe!

10/9/06 13:54  
Anonymous Anônimo said...

Sem problemas, amor!
Give me some more of the good stuff!

10/9/06 21:53  

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