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Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

segunda-feira, setembro 11, 2006

MACACOS ME MORDAM! Peça teatral em quatro cenas desproporcionais

CENA UM

Sob a porta de um caminhão, JOANA, entre 45 e 50 anos, cabelo pintado de vermelho e óculos espelhado, conversa com o motorista Ela usa uma camiseta onde se lê PAI ETERNO, FILHO GALILEU, com um desenho imitando a capa do livro de auto-ajuda. É professora. Ela fala com VALMIR, entre 40 e 50, tipicamente barrigudo, mas com um certo charme malandro. Ela se movimenta com ar preocupado. Não quer que a vejam “negociando” com Valmir.

JOANA: Minha vizinha disse que o senhor sempre vê por lá...

VALMIR: É, dona, eles tão sempre em umas gaiolinha à beira da estrada.

JOANA: Mas e a fiscalização, o Ibama?

VALMIR: Olha, dona, praqueles buraco do Mato Grosso não tem nem luz, vai ter fiscalização?

JOANA: Então o senhor traz pra mim? É uma surpresa pros meus filhos...

VALMIR: É o que eu disse, dona. Nunca trouxe. Eu sei que tem, porque uma vez por mês eu passo lá e os macaquinho tão abraçadinho nas grade da gaiola esperando, bem mansinho... mas se tiver por lá quando eu passar, na volta eu trago.

Joana sorri, ansiosa, e tira duas notas de 50 e dá para Valmir.

CENA DOIS

Gaiolas com micos de olhos injetados, com a língua entre os dentes, balançando vagarosamente como se estivessem escutando reggae. Dois camaradas de camisa encardida aberta até a barriga estão sentados sob uma árvore. BUDÚ, um rapaz de trinta e poucos, tem uma GARRAFA DE PINGA na mão. Ouvimos o som do caminhão. Um deles, JAIR, mais velho que o outro, levanta e anda na direção da carreta.

VALMIR: Tarde...

Jair responde com aceno de cabeça

VALMIR: São mansinho?

JAIR: Pra criança, é bicho pra fazer companhia pra criança. Olha só o marditinho...

Um mico olha, de um jeito vazio, e balança a cabeça vagarosamente, com a língua pra fora, entre os dentes. Jair tira o mico da gaiola e leva até Valmir, que se encanta com a doçura do animal e pega, meio desajeitado, no colo.
O CAMINHÃO SAI E JAIR BOTA UMA NOTA DE 50 NO BOLSO. Logo depois da partida, aparece um outro GAROTO, com um mico dentro de um SACO amarrado. O menino tem dificuldade de controlar o pacote, pois o animal esperneia e grita. Jair vai acudir e segura o macaco ensandecido no chão.

JAIR: Budú, traga a pinga!

CENA TRÊS

Valmir dirige, ouvindo música romântica meio indefinida. Cantarola resmungando. De vez em quando estica o braço direito e acaricia a cabeça do mico, que está sentado no banco do passageiro. Eventualmente sorri para o bicho.

VALMIR: Tá quente, né, Cleverson?

De repente, o mico começa a agitar a cabeça mais rapidamente e o olhar perdido vai se transformando em desconfiado. O porre de pinga está passando. Valmir está com as duas mãos no volante. Então ele troca de marcha e, olhando pela sua janela, leva o braço em direção do macaco... e leva uma mordida! O bicho começa a gritar, morder, pular, arranhar... Surpreso, Valmir passa a fazer ziguezague na pista. O miquinho morde a mão do motorista, que grita desesperado!

VALMIR: Solta, Cleverson, solta!

O motorista agita a mão direita de um lado para outro tentando fazer o animal se soltar. Num movimento para a esquerda, arremessa o macaco para fora do caminhão. Da cabine, Valmir olha assustado para fora, ouvimos um baque num vidro de carro, uma freiada, um barulho de capotamento e, finalmente, uma explosão! A luz do fogo inunda a cabine e os olhos arregalados do caminhoneiro.

CENA QUATRO

É uma sala de jantar e tem um sofá de costas para a porta. Ela, usando uma camiseta com gráficos onde se lê INVESTI NA BOLSA DE JESUS; leva uma travessa com macarrão colorido para a mesa. Usa um AVENTAL onde se lê SÁBADO. Na mesa, estão os GÊMEOS. Eles têm 15 anos!

JOANA: Everson, eu esqueci a banana à milanesa, vai buscar pra mim?

EVERSON: Porque você nunca pede pro Cleverson, mãe?

JOANA: Vocês parem de brigar... daqui a pouco um amigo da mamãe vai ligar e eu vou buscar um presente muito especial... mas é pros dois. Os dois têm que prometer que vão cuidar com carinho... não quero ver vocês se matando por causa do presente.

Os gêmeos estão claramente desinteressados. O TELEFONE toca. Cleverson, perto do aparelho, estica o braço e atende.

CLEVERSON: Alô... é o Cleverson... alô... ei...

JOANA: Quem é, Cleverson?

CLEVERSON: Não sei, ficou quieto depois que eu disse que era eu...

JOANA: Deve ter sido engano.

CLEVERSON volta para a mesa. EVERSON come vorazmente.

JOANA: Pare, Everson, pare. Vamos orar.

De mãos dadas, olhos fechados, a família dá as mãos.

JOANA: Senhor!...

O telefone TOCA novamente...

JOANA (Levantando-se): Mas que diabo de telefone! Alô...

VALMIR (fora de cena): Ele tá aí?

JOANA: Quem? Quem tá falando?

VALMIR: É o Valmir... ele tá aí?

JOANA: Ele quem?

VALMIR: Cleverson.

JOANA: Tá, sim... você vai fazer uma surpresa para os meninos?

VALMIR (f.c.): Ele... ele perguntou de mim?

JOANA: Não...nem ele nem o outro, eles não sabem que você vem aqui.

VALMIR (f.c.): Tem outro?

JOANA: Ah, não sabia? São dois.

LUZ COLOCA VALMIR EM CENA. CHOVE SOBRE O TELEFONE PÚBLICO.

VALMIR: Onde eles estão, agora?

JOANA: Estão na mesa, para almoçar. Você pegou a gente no meio da oração... Espera um pouco: Cleverson, pegue você as bananas, então! Venha logo, Valmir, que eu preciso inscrever os dois nos Estudos Bíblicos hoje à tarde... sabe, eu fiquei preocupada. Eles vieram com uma conversa de Evolucionismo... Deus me perdoe...

VALMIR (assustadíssimo): A senhora acha que devo ir aí hoje?

JOANA: Claro! Eles são muito espertos... se você não vir hoje, eles vão descobrir e você nunca mais vai ter sossego.

VALMIR: Eu vou passar aí, então... mas peça desculpas por mim, por favor...

JOANA: Ora, não seja bobo, tá no prazo ainda. Tchau.

JOANA volta à mesa e termina a oração, balbuciando.

TODOS: Amém!

A CAMPAINHA TOCA

JOANA: Mas que diabo!

EVERSON: Eu atendo...

CLEVERSON: Vou ao banheiro...

CLEVERSON SAI DE CENA. VALMIR está na porta. Está encharcado, cabelo desgrenhado, cara de espanto.

JOANA: Ei, Valmir, que rápido!

VALMIR: Eu liguei do telefone aí da frente.

JOANA: Entre.

VALMIR: Onde está Cleverson?

JOANA (com ar ressabiado): Está no banheiro... você está meio obcecado pelo Cleverson... Cadê o presente?

VALMIR: Presente?

JOANA: É, vamos buscar? Cleverson, vamos buscar uma surpresa para vocês...

CLEVERSON (f.c.): Já vou, tô cagando!

JOANA (encabulada): Glória a Jesus, que vergonha! Desculpe...

EVERSON (Rindo com a boca cheia de macarrão):
Daqui a pouco ele vai cagar na mão e jogar em você...

A CAMPAINHA TOCA.

JOANA: Nossa, isso tá agitado, hoje. Senta no sofá, Seu Valmir.

Valmir senta, olhando para o lado que Cleverson saiu. Joana abre a porta, cobrindo o espaço e grita. Cai desmaiada. Vemos o MACACO, ofegante, cheio de sangue e hematomas, com uma FACA na mão. Raios e trovões atrás dele.

FIM

7 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Vitorino Folk!
Já houvi essa história dos macacos e da X(o)ana uma vez!
Mas tudo bem ficou legal.
Só tem um problema: tá ficando pessoal demais, largue desse povo. Como diria o Chaves do 8:
-Aguas passadas tanto batem até que vão para o mar! "?"
O Texto do cavalo tá ótimo, muito bom mesmo, gostei da ambientação do negócio! Conseguiu criar suspense, parabéns!
Gostaria de ver o inspetor Jesus tentar desvendar o caso dos Irmãos Caim e Abel e toda a ardilosa trama incestuosa que rodeia esse horrível assassinato.
Abraço e até mais.

11/9/06 08:56  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Na verdade, eu fiquei com vergonha do texto sobre o cavalo. A idéia é boa, mas eu escrevi dez anos atrás. Ou seja, o conto é tecnicamente muito ruim. Então busquei uma peça de "gaveta" pra dar uma disfarçada. Na hora nem pensei nas implicações "reais" do negócio; apenas gosto da cena do motorista acariciando a cabeça do mico e chamando ele de Cleverson.

11/9/06 10:39  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Daqui a pouco, para compensar um final de semana pouco criativo, afetado por gripe e sede compulsiva, publico um novo episódio do Ombro em que levo fé.

11/9/06 11:34  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Daqui a pouco, para compensar um final de semana pouco criativo, afetado por gripe e sede compulsiva, publico um novo episódio do Ombro em que levo fé.

11/9/06 11:35  
Anonymous Anônimo said...

Nossa!
Agora que eu reparei que escrevi ouvi do verbo ouvir com "H". Esse é o mal de escrever e não ler. Passa cada coisa
Já tô lendo o Ombro!

11/9/06 13:09  
Anonymous Anônimo said...

Comédia Victor ! Se inspirou em alguém ? Hahahahahahaah bjssss
=D

12/9/06 14:35  
Anonymous Anônimo said...

derr
eu q comentei ali em cima
=P
bjsss

12/9/06 14:38  

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