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Victor E. Folquening escreve, você lê e diz alguma coisa

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Grupo de gestores para soluções estratégicas nas Faculdades Integradas do Brasil

quarta-feira, agosto 23, 2006

O AVATAR # 10! Estrelas da morte não são exclusividade de Darth Vader

Episódio de hoje: “Há algo de podre na 77a DP – parte 2”

O prédio anexo à Paróquia de São Bisonho da Imaculada Corcunda serve de sede
para muitos grupos de apoio a marginalizados.
Estranhamente, eles se reúnem
de madrugada, o que permitiu um aproveitamento eficaz da crise de insônia vivida
pel’O AVATAR.
As vozes misteriosas guiam os passos de nosso herói. No
final do percurso, o tenente Lopez será obrigado a dar algumas explicações. Isso
se a morte horrível de um personagem importante, com requintes inéditos de
perversidade sexual, não atrapalhar o plano do detetive mais soturno da
cidade.

Rocky Ombro entrou primeiro, por engano, na sala em que se reuniam filhos traumatizados de escritores policiais. Eles sofrem de Suspense Desnecessário.
“Pode me passar a... salada?”
“Talvez eu te diga o que tem nessa salada. Mas antes, há uma coisa ou duas sobre o sal que gostaria de lhe perguntar”.
“Não vai me fazer falar. Por favor, passe a... salada!”
“Você quer mesmo a... salada?”

Na porta seguinte, a reunião de Infografistas Megalomaníacos.
“Aí eu disse para o repórter: essa matéria tá toda errada”.
“Repórter é tudo boçal”.
“Um dia vão valorizar quem realmente é importante num jornal”.
“Apoiado! Apoiado!”
“Não há mídia sem infografistas!”
“Viva a Folha de S. Paulo!”

A terceira levava ao destino. Sorte de Ombro que alguma confusão com pessoas saindo e entrando permitiu que ele se acomodasse, anônimo, num canto escuro da sala. Sentado com a gorda coluna vergada, de costas para o detetive, o tenente Hernandez Lopez erguia a cabeça, vez e outra, para fingir interesse nos depoimentos dos alcoólatras em recuperação.
Uma mulher que também chegara depois, visivelmente embriagada, começou uma nova rodada de conversa construtiva e libertadora das trevas do vício e da indisciplina.
“Meu nome é Genoveva e eu sou uma bêbada filha-da-puta”.
“Bem-vinda, Genoveva”, todos responderam mais ou menos em uníssono.
“Vou contar um troço nojento. Nojento. Tô dizendo que é nojento, pô. Largue do meu braço! Antes de entrar pra esse programa, minha vida tava uma merda”
“Uma merda!”, gritou um dos presentes.
“Amém!”, berrou outro.
“Procês terem uma idéia”, Genoveva continuou, “no mês passado, eu meti a manguaça valendo!Entornei duas, tô dizendo, duas garrafa de arco direto. Arco, mesmo. Arco de passar no vidro”.
“Nossa, e o que aconteceu, professora?”
“Entrei em coma, já tava vendo Cristo e os apóstolos, todos eles, uns vinte, abrindo os braço pra me receber no Céu”. Ela interrompe a narração para apertar os olhos emocionados. “Eu pensei: é tudo muito lindo aqui, mas não tá na hora de eu me entregar pros paraguaio”.
“Não podemos nos entregar!”
“Muito bem, mamãe, não podemos nos entregar!”, gritou um outro, puxando uma salva de palmas.
“E eu corri da luz que tava na minha frente, com Nosso Senhor e muitos apóstolos sorrindo e me chamando, corri pra escuridão e... e encontrei esse grupo de apoio que tá salvando minha vida!”
“Eu tenho uma pergunta”, interferiu outro, mais bamba que uma saracura de patins, “A gente diz O coma ou A coma?”
Um diz-que-me-diz tomou o ambiente por alguns segundos, até que um anão fantasiado de tubarão-martelo se arriscou:
“É o coma!”
O perguntador esboçou uma cara de esperto, apertando um olho e chacoalhando a cabeça lentamente. Deu uma cotovelada amistosa no vizinho e disse: “Pergunte como ele sabe, pergunte”. Como o rapaz, na verdade mudo e surdo (e alcoólatra), não reagiu, o curioso resolveu lançar ele mesmo a questão.
“Você já esteve em coma, cabeçudo?”
“Não”, o anão respondeu.
“Então como é que você sabe?”
O anão se enfureceu. Surgiram dois shurikens das suas mangas – teriam acertado em cheio o rosto do oponente se o tenente Lopez não levantasse uma pasta marrom, interceptando as estrelas. O policial retirou a Magnum de 15 tiros que estava acomodada na cintura da calça, com o cano entre as nádegas, e atirou para cima.
“Não vou permitir tumulto por aqui!”
Houve um silêncio. O anão baixou a cabeça, andou até o outro lado da roda e abraçou a cintura do mesmo sujeito que tentou matar alguns segundos antes.
“Desculpe. Eu perdi a cabeça. Mas eu te amo, amo todos aqui. Amo todos vocês!”
Aplausos.
“Vamos lá, mamãe: nessa longa estrada da vida...”
E todos começaram a cantar e se abraçar.
Lopez levantou, satisfeito, e no segundo passo em direção da porta, percebeu Rocky Ombro, encostado na parede enquanto acendia o cigarro e dava a primeira tragada:
“Ombro, não sabia que você tomava”.
“Às vezes eu tomo, tenente, mas em geral eu peço antes”.
“Espero que o que tenha visto aqui fique entre a gente”.
Ombro pensou em como ajeitaria dois shurikens, um anão-martelo e uma dúzia de bêbados no pequeno espaço entre ele e o tenente Lopez.
“De tudo que presenciei hoje, chefe, o mais impressionante foi a rapidez como evitou que as estrelas-ninja retalhassem aquele pinguço”.
“A gente passa por um treinamento duro na Escola de Tenentes de Frankfurt”, e foi saindo, lacônico.
O AVATAR deixou que Lopez atravessasse a porta e concluiu:
“É realmente uma pena que não tenha demonstrado a mesma habilidade para salvar Peter Folk da flecha envenenada...”
O tenente interrompeu o passo, reteve o peito estufado, tremeu uma pálpebra e voltou a andar: “Desculpe, detetive, tenho que ir. Preciso de um trago”.
Ombro já tinha a solução do caso em mente. Bastava conduzir com cuidado a reconstituição de um crime no dia seguinte. O resto cairia como peças de dominó. Em silêncio, agradeceu a seus “amigos” espirituais, o sargento Strinksmeyer e Folk, e sentiu um profundo alívio por nenhum personagem ter sido assassinado com requintes de perversidade, o que fatalmente atrapalharia as investigações.

No próximo episódio: Uma reconstituição de roubo vira um teste psicológico. Observem a reação do tenente Lopez: ele agüentará impassível a encenação de um crime do qual tenha, quem sabe, participado? Não perca: “Há algo de podre na 77a DP – parte 3”

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Victor, ontem tive a impressão que te vi de tarde lá no Unicenp, mas não tenho certeza porque estava sem meus óculos de grau e não enxergo bem de longe! Era você mesmo?
Saudades das suas aulas!! Você é um professor que faz falta.
Beijos,
Marianne!

23/8/06 18:26  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Oi, Marianne, tudo bem?
Acho que era eu mesmo. Fui lá entregar trabalhos dos alunos da pós. Como eu não te vi? Acho que meus óculos não estão ajudando muito...

23/8/06 22:07  
Anonymous Anônimo said...

Ei, Folquening, vc viu que roubaram de novo suas idéias? Vai estrear um seriado, que não é de humor, ao menos, chamado Psych, na Warner. Trata-se de um detetive que resolve casos com a ajuda do além!!! Assim como O AVATAR, ele também tem amigos espirituais.
Mas O AVATAR é melhor, porque é clássico. Psych provavelmente anda comendo a True Calling, essa é a única vantagem dele...

24/8/06 16:18  
Blogger Escritório de Gestão Integrada said...

Para a gente parar de ser roubado, pare de trabalhar feito um escravo castrado e vamos dar forma ao projeto o mais rápido possível!

24/8/06 19:33  

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